17 de setembro de 2021 | 17h12
A B3 levou esta semana ao mercado de dívida no exterior os primeiros títulos (bonds) de empresa brasileira com compromissos exclusivamente de diversidade. Antes dela, a Suzano já havia introduzido o tema em duas captações de bonds. No entanto, ambas as operações carregam também metas relacionadas ao meio ambiente, tema que, sem dúvida, é escolhido como alvo da maior parte das emissões.
Embora não seja possível atribuir o sucesso da operação especificamente às metas de maior inclusão de mulheres em cargos de liderança e criação de um índice de diversidade, o fato é que os bonds atraíram volume sete vezes superior à oferta, reduzindo o custo da operação a um patamar semelhante ao soberano, que é, via de regra, o mais baixo.
A B3 captou US$ 700 milhões com esses bonds, com vencimento em 10 anos, oferecendo ao investidor um retorno (que representa o custo) de 4,125%. A punição pelo não cumprimento das duas metas será uma elevação de 0,125% no juro pago anualmente pelos papéis.
A B3 tinha no fim de 2020, 27,2% de mulheres em cargo de liderança e três mulheres com assento no Conselho de Administração. A previsão, conforme o compromisso assumido no bond, é que esse porcentual chegue a 35% até 2026.
“O KPI (indicador de desempenho) de mulheres em liderança foi classificado como ambicioso”, diz o superintendente de sustentabilidade da B3, Cesar Tarabay Sanches. No mapa de materialidade das Bolsas - que identifica os aspectos operacionais mais importantes sob a ótica de sustentabilidade -, o capital humano tem o segundo maior peso, depois da governança. Sanches afirma ainda que o atual porcentual de mulheres na bolsa já é acima da média do mercado.
Mas o que faz ser tão transformador esse aumento de oito pontos porcentuais, distribuído em seis anos, na presença de mulheres em funções mais seniores? "O setor financeiro é competitivo em termos de capital humano, tem um porcentual menor de mulheres em cargo de liderança e por isso nossa meta é forte e ambiciosa”, diz.
A criação do índice de diversidade, por sua vez, aparece como indutor de práticas relacionadas ao tema pelas empresas. “Queremos, por meio dele, convidar as companhias listadas a dividirem informações sobre diversidade, com a ideia também de que estamos colocando algo para o mercado e para nós mesmos”, afirma.
A especialista em ESG da área de renda fixa do Itaú BBA, Luíza de Vasconcellos, diz que a data para o cumprimento da meta de criação do índice foi colocada antes da relacionada à expansão do número de mulheres em cargos de liderança justamente para que a B3 pudesse ser também avaliada. “Isso é um reforço ao compromisso e um reconhecimento de que querem puxar as demais empresas”, afirma.
Vasconcellos afirmou que o tema social é muito diferente e relevante para o Brasil, em comparação a outros países mais desenvolvidos, e que a recepção dos investidores foi muito positiva. No entanto, o tema diversidade ou os relacionados ao ‘S’ da sigla ESG, sigla que remete às questões de meio ambiente, social e governança - ainda não têm relevância isolada, ou seja, não há investidores voltados somente a este aspecto.
Isso não diminuiu, para ela, a importância do tema nas métricas de sustentabilidade. “O que vimos é que, foi a primeira de Brasil com metas só sociais, demonstrando que os investidores estão olhando as empresas de forma holística, uma vez que a B3 já é carbono neutro”, diz.
Encontrou algum erro? Entre em contato
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.