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Boa governança vai na contramão do lucro rápido, alerta presidente do IBGC

Para Sandra Guerra, o principal desafio à governança corporativa no Brasil ainda é a própria cultura das empresas

Por Malena Oliveira
Atualização:

As empresas brasileiras ainda têm um longo caminho a percorrer para melhorar seus níveis de governança. Apesar de muitas já terem adotado padrões de gestão que vão além do exigido por lei, o principal obstáculo ainda é a própria cultura das companhias: "A consciência de que as coisas bem governadas geram valor vai na contramão de uma visão de negócios de que, às vezes, algumas práticas não tão republicanas acabam por trazer lucros mais rapidamente", explica a presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Sandra Guerra.

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Além das ponderações sobre os gastos em que essas boas práticas resultarão, organizações nacionais ainda não entenderam a importância de colocá-las na agenda. A presidente do IBGC chama atenção para uma postura comum entre administradores, que é só tomar atitudes para alterar determinados quadros quando a situação é desfavorável. 

Para a executiva, o que escândalos financeiros trazem de positivo é uma visão mais ampla sobre esses conceitos. "A questão da governança é como sustentar isso (o retorno) no longo prazo? Como o benefício que se consegue hoje não canibalizará o futuro da empresa?", diz.

A falta de conhecimento sobre os riscos de não adotar as melhores práticas de gestão também pode gerar perdas significativas, segundo a executiva. "Imagine a tomada de decisão sobre um processo de aquisição em uma companhia que não tenha um conselho de administração. Se esse processo de decisão não for robusto, não tiver previsto conceitos de boa governança, ele pode levar a uma aquisição equivocada, na qual se perderá muito dinheiro", afirma. Para Sandra , vale muito mais investir na remuneração justa dos conselheiros do que lidar com os prejuízos de uma escolha errada.

Governança corporativa se tornou um tema recorrente no mundo dos negócios, principalmente após a crise financeira de 2008. Problemas sérios de gestão colocaram em evidência a necessidade de mais transparência na prestação de contas das empresas e maior equilíbrio nas relações entre os públicos interessados em suas operações (proprietários, investidores, clientes, fornecedores, governo, sociedade: os chamados stakeholders).

As discussões sobre as melhores práticas para administrar uma companhia têm não só o objetivo de tornar a gestão mais eficiente, mas também de melhorar a imagem da instituição - o famigerado conceito de criação de valor - e atrair mais investimentos. "A boa governança gera um ambiente de confiança à medida em que diminui a incerteza de um fornecedor de capital sobre uma empresa", explica a presidente do IBGC.

Origem da governança. As primeiras ideias sobre o tema no Brasil começaram nos anos 1990, com o objetivo de trazer para as companhias nacionais conceitos de melhores práticas de gestão. Esses conceitos já eram estudados nos Estados Unidos desde a década anterior, após acionistas da petroleira Texaco perderem milhões de dólares em uma estratégia de controladores da companhia para evitar um processo de aquisição.

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O então Instituto Brasileiro de Conselheiros de Administração (IBCA) foi criado em 1995 com o propósito de discutir e disseminar as melhores práticas entre gestores de empresas. Com o tempo, a entidade passou a tratar de temas mais abrangentes e, em 1999, definiu "governança corporativa" como o termo a ser usado para abarcar todos os assuntos relacionados à eficiência e à transparência na administração de um negócio.

A fraude que resultou na falência da americana Enron em 2001 (maior e mais confiável empresa do setor de energia na época) e a crise financeira de 2008 (originada em créditos de risco) foram eventos decisivos para mostrar a importância da aplicação desses conceitos nas instituições. 

Para explicar, Sandra Guerra dá o exemplo do que chama de "governança do parecer", que ocorre quando as melhores práticas de gestão ficam apenas no papel. "Mesmo instituições aqui e no exterior que aparentemente tinham um modelo robusto de governança acabaram por sofrer os efeitos da crise internacional". A presidente do IBGC reforça: "O nosso desafio é implantar a governança corporativa de fato".

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