Conselhos de administração ajudam a profissionalizar empresas familiares

Colegiados aumentam a transparência das companhias e as tornam mais atrativas para investidores

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Por Ricardo Rossetto e Nathália Larghi
3 min de leitura

Nos anos 1980, o grupo Águia Branca, conglomerado de transporte e logística, passava por um momento de rápida expansão de seus negócios. A empresa, criada em 1946 com um pequeno caminhão para transportar passageiros no interior do Espírito Santo, tinha diversificado suas atividades para setores como revenda de equipamentos de informática, agência de viagens, recauchutadora de pneus e locadoras de veículos. A multiplicação das empresas para quase todo o território nacional, entretanto, logo se tornou um problema para uma companhia que ainda era administrado por uma estrutura familiar.

Na época, os responsáveis por cada uma das subsidiárias se reportavam ao vice-presidente da Holding, que, sozinho, precisava entender e administrar diferentes negócios. As decisões estratégicas eram tomadas em uma assembleia de acionistas que se reunia de maneira informal e sem pauta definida. Com uma participação desigual dos acionistas no controle do grupo, as deliberações ficavam concentradas em apenas dois dos cinco sócios. 

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Carlos Chieppe com seu primeiro caminhão de transporte de passageiros, em 1946; na época a empresa se chamavaAuto Viação 13 

A criação de um conselho de administração foi um dos pilares que ajudou a descentralizar as decisões e a profissionalizar a empresa. Esses colegiados são uma das estruturas mais importantes de uma companhia. São os profissionais que definem ou aprovam todas as decisões estratégicas, além de monitorar o desempenho da empresa, aprovar suas demonstrações financeiras e fazer planos para enfrentar possíveis riscos. 

No caso do grupo Águia Branca, um novo plano estratégico - que concentrou a atuação do grupo em apenas quatro setores, contratou profissionais especializados para liderar as novas unidades e instituiu os conselhos de administração para separar os interesses da família dos da empresa - fez o negócio ganhar mais solidez e respeito no mercado, o que atraiu investidores e garantiu financiamentos. "Isso nos deu muito mais profundidade no entendimento de cada negócio, permitindo que fôssemos mais competitivos", explica Décio Chieppe, CEO do grupo Águia Branca. A empresa do Espírito Santo tem hoje mais de 13 mil funcionários. 

Décio lembra que a companhia conseguiu em 2014 um aporte de R$ 200 milhões do International Finance Corporation (instituição mantida pelo Banco Mundial para fomentar o setor privado) para desenvolver a Vix Logística, empresa de transporte do grupo com atuação no Brasil e Argentina. A ajuda só foi possível graças às avaliações positivas que a organização recebeu por adotar boas práticas de governança corporativa. "Com nossos conselhos, mostramos que temos transparência e confiança nos processos decisórios", destaca o CEO. 

Diversidade. Existe, no ambiente corporativo do País, uma consciência crescente de que os conselhos de administração agregam valor às empresas familiares. Ainda que esses colegiados não estejam disseminados por todo os setores, especialistas destacam que um número crescente de pequenas e grandes companhias de propriedade familiar buscam consultorias para renovar e profissionalizar o seu modelo de negócios. 

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Algumas dessas empresas de capital fechado que buscam soluções no mercado para financiar seus investimentos têm encontrado nos fundos de private equity uma maneira para alavancar sua expansão. "Se adequar às melhores práticas do mercado é um incentivo para essas companhias, visto que há muitos investidores interessados em adquirir participações em empresas familiares com uma governança bem estruturada", afirma Eduardo Saggioro, sócio da Visagio Consultoria. 

A inovação da gestão, entretanto, só virá se os membros do conselho forem qualificados e possuírem especialidades diferentes, explica Letícia Costa, sócia da Prada Assessoria. Isso porque ainda é bastante comum que os executivos selecionados para integrar o colegiado tenham um perfil pouco contestador, de modo a trazer "conforto" para a família controladora. 

"Há muito tempo se fala de diversidade nas empresas, mas isso é melhor aplicado fora do que dentro do Brasil", aponta Letícia. "Mas não podemos generalizar. É natural que aquelas que estejam começando a entender o papel do conselho contratem mais pessoas de confiança", pondera. 

Abrir os olhos das famílias empresárias para a importância dos conselhos profissionais e independentes é uma das principais missões do advogado Nereu Domingues, sócio do Domingues Sociedade de Advogados. A primeira recomendação que ele dá aos seus clientes é que os diretores de empresas não acumulem funções nos conselhos de administração. E que aquele executivo contratado para um cargo de conselheiro seja escolhido por seu excepcional conhecimento na área de atuação - e não por possuir vínculo com a empresa. 

"Assim eliminamos qualquer conflito de interesses. Mas, ao mesmo tempo, é importante que esse conselheiro independente respeite a história da organização que vai trabalhar para conseguir ser ouvido pelos seus fundadores", resume Nereu.

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