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Empresas apontam mudanças climáticas e ESG como maiores desafios, diz pesquisa

Levantamento realizado pela consultoria Deloitte mostra avanços na gestão de riscos, mas necessidade de evoluir na formalização e na integração dos processos

Por Heloísa Scognamiglio 
Atualização:

Com as intensas transformações do ambiente de negócios nos últimos anos, as empresas brasileiras estão passando por um fortalecimento de sua gestão de riscos, apesar de ainda haver desafios. A conclusão é da pesquisa "Cinco Pilares de Riscos Empresariais 2022", elaborada pela Deloitte. O levantamento, que está em sua sétima edição e é realizado a cada dois anos, ouviu 130 empresas, entre agosto e outubro de 2021.

A pesquisa mapeou os cinco pilares de riscos enfrentados pelas empresas e constatou que mais da metade delas têm indicadores de riscos financeiros (57%), enquanto 48% têm indicadores de riscos operacionais, 45% de riscos regulatórios, 44% de riscos estratégicos e 41% de riscos cibernéticos. 

Gestão de riscos deve fazer parte da cultura da empresa; companhias passam por amadurecimento e fortalecimento de suas estratégias. Foto: Pixabay

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Camila Boretti, sócia e líder da prática Accounting & Internal Controls da Deloitte, explica que é comum que riscos financeiros e operacionais sejam mais endereçados porque são áreas em que as empresas tiveram maior amadurecimento no passado. Mas elas estão começando a ampliar o foco de suas estratégias de gestão de riscos. “Hoje, as empresas percebem fatores externos, sobre os quais elas não têm controle e que podem ter grande impacto nos negócios. É onde surge a preocupação com as mudanças climáticas, a agenda ESG [sigla que se refere a aspectos ambientais, sociais e de governança das empresas], as novas cadeias de fornecimento, as novas tecnologias”, destaca. 

Os temas mencionados por Camila foram apontados na pesquisa como principais desafios de médio e longo prazo para as empresas. O mais citado foram as mudanças climáticas (80%), seguido de ESG (67%), mudança de comportamento populacional (65%), novas cadeias de fornecimento (63%), disrupção tecnológica (60%) e atração e retenção de talentos (59%).  

O ESG também foi apontado como importante nas atividades cotidianas de 65% das empresas - mas 58% delas declararam possuir um nível baixo de maturidade em relação ao tema. Falta de compreensão sobre como mensurar e gerir (50%) e falta de conhecimento sobre o assunto (20%) foram os fatores mais apontados como barreiras para a integração do ESG com o dia a dia das empresas. 

Avanços e desafios

Também segundo a pesquisa, a estruturação de áreas e funções para a gestão de riscos teve avanços, mas as empresas ainda enfrentam desafios na formalização e na integração dos processos. 

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A maioria das empresas afirmou ter áreas de auditoria externa (89%), segurança da informação (82%), auditoria interna (75%), riscos (72%) e compliance (71%). Mas os números são mais baixos quando o assunto é a integração das práticas relacionadas à gestão de riscos: 57% das organizações adotam metodologia Enterprise Risk Management (gerenciamento de riscos corporativos) integrada; 54% têm critério unificado na classificação de impacto de riscos; e 53% adotam um dicionário unificado de riscos.

“Percebemos que o modelo de negócios tem cada vez mais necessidade de ter processos de riscos estruturados, formalizados, e com uma visão mais preventiva”, diz Alex Borges, sócio e líder de Regulatory Support & Strategic Risk da Deloitte. 

“As mudanças de contexto político e econômico e a velocidade de materialização de riscos globais, como a pandemia, por exemplo, trouxeram uma mudança significativa na gestão de riscos, uma transformação para que ela de fato seja um pilar dos negócios. A gestão de riscos vem amadurecendo de forma contínua, para ser um instrumento importante dentro dos modelos de governança corporativa da empresa”, acrescenta. 

A pesquisa ainda traz dados sobre o uso de tecnologia nos processos de gestão de riscos das empresas: apenas 26% consideram avançada a adoção tecnológica de sua organização para a gestão de riscos, mas 54% têm área de desenvolvimento de novas tecnologias para a empresa como um todo, o que sugere uma oportunidade para que as empresas implementam mais soluções tecnológicas. 

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“A tecnologia pode ser um instrumento na integração das funções de risco", diz Camila Boretti. "Ela também pode trazer um caráter de preditividade ao risco, com cenários que antecedem as crises, e pode ser um meio de monitoramento dos riscos e do ambiente de controle das empresas”, afirma. 

Apesar dos avanços, poucas empresas ouvidas na pesquisa se classificam como tendo um alto grau de maturidade da função de riscos: apenas 9% se posicionaram no nível “otimizado”, o mais alto. As restantes se classificaram nos níveis “consolidado” (25%), “definido” (25%), “fragmentado” (29%) e “inicial” (12%), sendo esse último o nível mais baixo.

Os principais desafios na implantação de um processo eficaz de gestão de riscos segundo as empresas são a cultura da organização (apontado por 66% das participantes) e a falta de prioridade da administração (45%). Segundo Alex Borges, é imprescindível que a gestão de riscos faça parte da cultura da empresa e de sua estratégia de negócios. 

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“Ainda há dificuldades para as empresas considerarem a gestão de riscos uma prioridade. Mas temas como a pandemia, mudanças climáticas e ESG levantaram essas discussões e hoje há uma busca por processos de risco com visão mais preventiva, além de uma reflexão em relação à importância da participação efetiva da alta administração. A gestão de riscos não deve ser somente uma área, uma diretoria, um processo. Deve ser alinhado à cultura e permear toda a empresa, na busca pela vantagem competitiva, pela preservação de valor”, explica. 

Gestão de crises 

Para Borges, outro aspecto importante da gestão de riscos é a gestão de crises. “As empresas também estão percebendo que precisam ter bons processos de gestão de crises. A partir do momento que há um risco materializado, como a pandemia, por exemplo, se instala uma crise e são necessárias ações”, diz. 

A pesquisa mostrou que as empresas tomam medidas para mitigar riscos, como a definição de papéis e responsabilidades (81%), o monitoramento contínuo de potenciais cenários de crise (63%) e o uso de métodos, controles e planos de gestão de crises (54%). No entanto, algumas práticas são adotadas por poucas empresas: processos para minimizar cenários de crises (28%), treinamento da alta administração sobre respostas a cenários de crises (26%) e comunicação mensal sobre continuidade de negócios e gestão de crises (25%). 

“Ainda há oportunidade para evolução em relação à gestão de crises. As empresas ainda não têm todos os cenários definidos e não possuem treinamentos periódicos com as proposições de realização desses cenários. As organizações estão passando de fato por um processo de fortalecimento, trazendo a melhor relação entre administração e conselhos e buscando convergir nas questões de cultura e de participação efetiva da administração. Mas é preciso também refletir sobre os cenários de crises e as ações mitigantes para poder minimizar eventuais impactos”, conclui Borges. 

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