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Entenda como a pandemia pode modificar as demonstrações financeiras das empresas

Consultoria recomenda maior detalhamento de riscos e projeção de diferentes cenários para recuperação da crise

Por Luisa Laval
Atualização:

Com os fortes impactos da pandemia do novo coronavírus na produção e rendimento das empresas, especialistas em governança corporativa apontam mudanças e detalhes aos quais as companhias devem prestar atenção no momento de elaborar as demonstrações financeiras intermediárias e anuais. Esses documentos podem ser mais extensos que o habitual para justificar os efeitos da covid-19 na operação de 2020.

Em relatório elaborado pela empresa de consultoria e auditoria PwC Brasil, consultores apontam cuidados extras para cada tópico de boletins financeiros. “As normas contábeis não mudaram. O desafio é aplicá-las no cenário de mudança e muita incerteza do que vai acontecer. No passado, a empresa tinha planos de negócios, mas agora há o choque da covid-19, que impactou todas as partes desse plano, e isso se reflete nas demonstrações”, afirma Kieran McManus, sócio da companhia.

Kieran McManus, sócio da PwC Brasil. Foto: Divulgação/PwC Brasil

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Entre as principais precauções no desenvolvimento dos relatórios, está a separação entre o que é efeito direto ou indireto do vírus e o que pode ser resultado de processos internos. Também é importante detalhar todas as medidas tomadas com funcionários da empresa e eventuais despesas adicionais que tenham surgido.

“Isso tem sido um desafio grande para as empresas: justamente na hora em que você teria mais trabalho por conta da complexidade do cenário, os modelos de fluxo de caixa mudaram dramaticamente, e as pessoas estão trabalhando a distância, dificultando a atualização de informações e dados”, diz McManus.

Cuidados na elaboração de demonstrações financeiras

O estudo apresentado pela PwC Brasil indica os principais parâmetros e normas já adotados na escrita de relatórios financeiros, mas reforça a necessidade de fornecer a explicação detalhada do contexto econômico do País e como isso afeta a empresa. Depois, é preciso determinar uma taxa de desconto do impacto do vírus e separá-lo de outros fatores, como o risco país e outras taxas.

“Neste momento, pode ser difícil separar essa taxa, pois ocorreram mudanças nas taxas de juros, valor do câmbio, oscilação da Bolsa, mas tudo tem de estar explicado detalhadamente para uma análise mais precisa”, afirma o sócio da PwC Brasil.

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As companhias devem realizar diferentes testes para avaliar se não houve deterioração de ativos não financeiros pelos efeitos da pandemia, mesmo em áreas que não tenham sido afetadas diretamente durante as mudanças operadas.

O estudo sugere que a administração apresente múltiplos cenários conforme os possíveis desdobramentos que o novo coronavírus pode provocar no futuro. “As empresas precisam apresentar pelo menos três cenários, que chamamos de otimista, realista e pessimista, e desenhar possíveis atitudes de acordo com cada um deles. Antigamente, muitas empresas apresentavam um cenário mais provável”, aconselha McManus.

Também é importante comunicar as medidas tomadas para evitar a disseminação da covid-19 e planos de adaptação de escritórios, extensão de home office, adaptação de infraestrutura e quanto foi gasto com todas essas políticas.

Com a instabilidade econômica, investidores esperam relatórios mais completos de riscos e perdas de crédito e liquidez por parte da empresa, aspectos que poderiam não estar fortemente presentes em demonstrações anteriores. A PwC Brasil sugere que pode ser necessário fazer divulgações adicionais para comunicar mudanças de fluxo de caixa, faturamento e acesso a linhas de crédito governamentais.

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Em relação a funcionários e colaboradores, a companhia deve informar obrigações legais para com seus funcionários em relação ao vírus, por exemplo, auxílio-doença ou pagamentos para empregados que estiverem em isolamento voluntário. Todas as atitudes, como desligamento de trabalhadores, redução de jornada e suspensão temporária de contratos, devem ser justificadas com o respectivo impacto financeiro para as empresas.

A publicação da PwC Brasil sugere o maior detalhamento das demonstrações intermediárias, incluindo os eventos ocorridos desde as apresentações anteriores e a adequação de estimativas e projeções. 

“As empresas que já tinham, mesmo que de forma pequena, a implantação do trabalho remoto, estarão mais preparadas para elaborar essas demonstrações financeiras e reunir dados de forma objetiva. Para as que não estavam familiarizadas, é preciso redobrar a atenção para não haver falta ou incongruência entre as informações nos processos de elaboração”, afirma McManus.

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