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Na guerra para agregar valor, empresas precisam ir além do retorno ao acionista

Segundo especialistas, o pensamento de curto prazo e o foco exclusivo no resultado financeiro têm atrasado o caminho das companhias rumo à eficiência e à transparência na gestão

Por Ian Gastim e Malena Oliveira
Atualização:
Governança "do parecer" traz riscos à perpetuidade das empresas Foto: Free Images

SÃO PAULO - A busca pelo aumento dos lucros por meio dos princípios de governança corporativa tem mais prejudicado do que ajudado as empresas brasileiras. Segundo especialistas, a adoção das melhores práticas de gestão apenas com a intenção de trazer retorno aos acionistas tem criado efeitos reversos. 

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"A pressão por criar valor tem tirado o foco dos gestores e gerado um ambiente de estresse", explica o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), Alexandre Di Micelli, que aponta uma série de equívocos que impedem que a adoção de boas práticas produza resultados plenos.

Para ele, o pensamento de curto prazo, o foco no resultado financeiro, o desconsiderar externalidades (impactos positivos ou negativos gerados indiretamente pelo negócio) e o mero cumprimento de uma lista de requisitos de boa governança têm atrasado o caminho das companhias rumo à eficiência e à transparência na gestão.

Remunerar acionistas e executivos com base nos resultados da empresa oferece riscos à medida em que investimentos são feitos apenas com o intuito de maximizar o retorno, adverte a professora da Cornell Law School, de Nova York, Lynn Stout. 

"Companhias existem para cumprir um papel social, e não somente em relação a seus acionistas", explica a especialista em legislação para negócios, que defende "honra e integridade" para definir a remuneração tanto para os investidores quanto para os executivos e o conselho de uma organização. Para ela, os valores não devem ser nem muito altos e nem podem estar atrelados ao sucesso ou ao fracasso das operações.

A presidente do conselho de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Sandra Guerra, destaca a importância da aplicação efetiva desses conceitos e alerta que o mero exercício formal tem impedido as empresas de evoluir: "A atitude de conformidade às regras da boa governança nos levou à governança do parecer." 

O tema criação de valor foi o carro-chefe do 15º Congresso do IBGC, realizado em São Paulo nos dias 13 e 14 de outubro. 

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