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Pandemia exigiu mais agilidade dos profissionais de relações com investidores e acelerou mudanças

Estudo que ouviu representantes da área mostra como ela foi afetada pela crise e aponta tendências para o pós-covid-19

Por Heloísa Scognamiglio
Atualização:

O profissional de relações com investidores, também chamado de RI, exerce uma função estratégica, servindo como ponte entre a companhia e o mercado. E, durante a pandemia de covid-19, esses profissionais tiveram de se desdobrar diante das incertezas do cenário econômico. 

Em uma pesquisa realizada pela Deloitte Brasil, em parceria com o Instituto Brasileiro de Relação com Investidores (Ibri), 81% dos representantes das áreas de RI e finanças ouvidos afirmaram que atender as demandas por informação dos chamados "stakeholders" foi o maior desafio enfrentado durante a crise de covid-19 - stakeholders são as "partes interessadas" na empresa, incluindo acionistas, gerência e conselho de administração. 

A maioria dos profissionais de RI entrevistados no levantamento afirmou ter feito campanhas de esclarecimento sobre a crise do coronavírus. Foto: Werther Santana/Estadão

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Outros desafios citados pelos profissionais de RI foram adaptar processos e tecnologias para responder a essas demandas (47%), engajar áreas operacionais em ações voltadas para continuidade de negócios (45%) e desenvolver um modelo de reporte tempestivo (40%). 

O estudo é realizado anualmente e está em sua 13ª edição. Com o título “O RI como o guardião do valor em tempos de crise”, o levantamento foi realizado entre junho e julho deste ano e contou com a participação de líderes de Relações com Investidores, Finanças e áreas correlatas de 63 empresas, das quais a maioria teve receita maior que R$ 500 milhões em 2019 (75%). Grande parte delas também está listada na Bolsa de Valores (70%). 

Segundo Ronaldo Fragoso, sócio-diretor da área de riscos regulatórios da Deloitte Brasil, a crise causada pelo novo coronavírus causou um aumento da demanda por informações, o que era esperado. “Observamos que a quantidade de informações solicitadas aumentou muito e o tipo, a diversidade de informações solicitadas, também aumentou”, afirma. 

“Além de ser uma crise, com as pessoas ávidas por informações da companhia, o pessoal também estava mais em casa, conectado 100% do tempo. Então, a demanda foi muito maior, não só na questão da velocidade, mas também da qualidade da informação. O RI teve que se adequar tanto para atender demandas de forma tempestiva, quanto para responder perguntas que não necessariamente ele estava tão preparado para responder”, explica o sócio da Deloitte. 

Os líderes de RI ouvidos listaram quais informações foram mais solicitadas durante a pandemia: 75% disseram que foram informações financeiras atualizadas, 63% indicaram informações sobre o plano de continuidade de negócios e 57% apontaram informações sobre gestão de riscos. 

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As principais ações adotadas para a preservação de valor durante a crise foram novos formatos de reporte (22%), desenvolvimento de canais próprios de comunicação com pequenos investidores (13%) e plano de gestão de crises aplicado à área de RI (11%). Os novos formatos de reporte também aparecem como a principal ação que empresas que ainda não adotaram pretendem adotar nos próximos dois anos (40%). 

Em relação ao envio de informações de mercado, 67% dos profissionais de RI ouvidos pela pesquisa afirmaram ter intensificado esse envio durante a crise, principalmente para o conselho de administração (50%) e para a presidência (45%). 

A maioria dos entrevistados (73%) ainda disse ter realizado campanhas de esclarecimento sobre a crise do coronavírus, o que Fragoso aponta ter sido fundamental. “Se já no início da crise a empresa conseguiu esclarecer quais medidas seriam tomadas, ela teve um grande diferencial estratégico, pois poderia haver especulações totalmente negativas em relação às companhias que não estavam prestando esse tipo de informação”, declara. 

Aceleração de tendências 

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Para Fragoso, a pandemia acelerou tendências da área de RI que já estavam ganhando força nos últimos anos, principalmente em relação ao uso de tecnologia. No levantamento, 94% dos líderes de RI indicaram que concordam com a realização de assembleias virtuais de acionistas, por exemplo. “Havia certa hesitação em relação a isso antes, mas vimos que não há problemas em fazer. Seguindo protocolos necessários, tendo evidências suficientes e guardando o formalismo, é possível até ter mais agilidade”, diz o sócio da Deloitte. 

A tecnologia aparece entre as tendências para o futuro na pesquisa. Entre práticas de aproximação com stakeholders que terão investimento nos próximos dois anos, apesar de a mais citada na pesquisa ter sido investor days (53%), que são eventos em que executivos fazem apresentações sobre a empresa para acionistas e potenciais investidores, logo em seguida aparecem iniciativas digitais como e-mails/website de RI (47%) e webcasts/webinários (43%). Aplicativos (21%), campanhas com influenciadores digitais e em redes sociais (19%), plataformas de educação financeira (12%) e chatbots (10%), que são softwares que fornecem respostas automáticas ao usuário, simulando uma conversa com um ser humano, também estão entre as onze ações mais citadas. 

“O nível de interação dos usuários foi muito maior nesta crise, inclusive com a inclusão de várias novas ferramentas e canais digitais no trabalho dos RIs. Ferramentas anteriores provavelmente não estavam preparadas para o aumento da demanda que ocorreu na pandemia e foi necessário antecipar a adoção de diversas novas ferramentas para poder atender isso. A aceleração tecnológica foi clara e esse é um movimento que não tem volta”, explica Fragoso. 

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O sócio da Deloitte acredita que o profissional de RI do futuro precisará se preparar para essamudança. No levantamento, a proficiência em novas tecnologias foi a décima mais citada entre as capacidades necessárias para o RI do futuro (13%). As mais citadas foram agilidade na resposta ao investidor (79%), visão estratégica dos objetivos (75%), pensamento crítico e analítico (56%) e bom relacionamento interpessoal (52%). 

“Além da capacidade técnica, o profissional do futuro terá que ter todas essas outras habilidades. É necessário uma atualização de competências, mantendo as anteriores e adicionando novas para uma nova realidade de demandas”, diz Ronaldo Fragoso. 

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Outros dois assuntos que foram “acelerados” durante a pandemia, a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e a pauta ESG (meio ambiente, social e governança, na sigla em inglês) aparecem na pesquisa como demandas para o RI antes mesmo da crise do coronavírus: 48% dos entrevistados afirmaram que suas empresas conduziram a adequação à LGPD em 2019, enquanto 46% afirmaram ter adotado indicadores ESG no mesmo ano. 

“São dois temas que já estavam no radar e que ficaram muito em evidência com a pandemia. Esses temas também foram acelerados agora e deixaram de ser somente questão de adequação e itens de discussão e passaram a ser extremamente estratégicos tanto para as empresas quanto para os investidores”, comenta Fragoso. 

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