PUBLICIDADE

Publicidade

Pandemia fortalece comitês de crise em empresas; estrutura deve permanecer ativa no longo prazo

Maior integração entre áreas e tomadas rápidas de decisão estão entre principais mudanças na estrutura de governança das empresas

Por Luisa Laval
Atualização:

A crise provocada pela pandemia do novo coronavírus demonstrou a importância de possuir uma estrutura de governança corporativa forte e agilizou o processo de tomada de decisões. Uma pesquisa divulgada pela Deloitte Brasil mostra que 92% dos gestores brasileiros criaram planos de gerenciamento de crise. Antes da pandemia, apenas 18% contavam com esse planejamento.

Entre as medidas tomadas por diretorias e conselhos de administração, o levantamento aponta que as empresas passaram a acompanhar mais de perto questões relacionadas a saúde e legislação, áreas que passaram por diversas mudanças durante o período da crise. 

Pesquisa divulgada pela Deloitte Brasil aponta que 92% dos gestores brasileiros criaram planos de gerenciamento de crise. Foto: Reuters

PUBLICIDADE

Para Ronaldo Fragoso, sócio da Deloitte para respostas de negócios à covid-19, a pandemia promoveu uma mudança estrutural na governança de empresas, que passa a ser mais preparada para analisar e combater riscos.

“Essa estrutura passa a ser quase permanente: o comitê de crises era um órgão de reuniões quando havia algum evento ou situação específica para deliberar sobre aquilo. Agora, a dimensão da crise é tão grande que ele se tornou um órgão permanente, com envolvimento da diretoria e do próprio comitê”, diz o especialista.

Fragoso acredita que as empresas vão manter a agilidade nas decisões, aspecto que também foi reforçado durante a gestão em meio à pandemia. “As empresas experimentaram um novo formato com a velocidade de informação e de tomada de decisões muito maior. Ainda que essa decisão não tivesse todo o nível de informação, ela ajudava a resolver alguns problemas mais imediatos”, diz. “Esse tipo de velocidade de decisão deverá ser mantido, não necessariamente em todas as decisões, mas uma parcela delas vai se manter também com essa nova dinâmica.”

Experiências de empresas

Enquanto muitas companhias adotaram o formato de comitê de crises, outras fortaleceram as estruturas que já existiam, e esperam continuar com o mesmo modelo por pelo menos alguns meses.

Publicidade

É o caso da empresa de pagamentos Stone, que já possuía uma war room (sala de guerra), organização para lidar com problemas de maior relevância, mas que nunca tinha sido utilizada. Augusto Lins, presidente da companhia, diz que as reuniões para gerir a crise foram montadas em um formato preciso e dinâmico.

“Nas nossas reuniões, fomos melhorando com a criação de um protocolo. Primeiro, olhamos a saúde dos funcionários, como por exemplo o número de contaminações. Depois, a gente olha os indicadores mais importantes para nossa companhia. A reunião ficou mais sintética, objetiva e dura até uma hora. A sala de guerra melhorou nossa comunicação e melhorou o processo de compartilhamento de informações. Isso vai ficar daqui para frente”, afirma Lins.

O executivo também acredita que a governança corporativa ganhou um papel mais relevante tanto para gestores quanto para investidores e clientes. “Saímos dessa crise com uma preocupação maior a respeito de riscos, e para tratar deles você precisa ter processos. Acho que a governança virou uma agenda a que muita gente não dava a importância merecida, e entendo que as pessoas agora vão estar mais atentas às questões relacionadas a ela, especificamente o que envolve riscos e o processo para geri-los”, aponta o presidente.

A companhia multinacional de tecnologia e inovação 3M também fortaleceu o comitê de crise e passou a se reunir com maior frequência para lidar com decisões que exigiam maior velocidade.

PUBLICIDADE

“O comitê se reunia pontualmente e, com a pandemia, passou a se reunir diariamente. Tínhamos cinco representantes, e agora temos 15, porque lidamos com muitos assuntos dentro de um cenário dinâmico. Isso ajudou a garantir a saúde e segurança dos trabalhadores e manter a continuidade dos negócios”, afirma Marcelo Oromendia, presidente da 3M no Brasil.

Para ele, a pandemia deixa como legado a consolidação dos comitês de crises em empresas: “Nós teremos mais crises pela frente. O ‘músculo’ já foi treinado. Acho que este é um ensinamento que a pandemia vai nos deixar: todas as indústrias que não tinham comitê de crises agora têm, para estar preparadas para a próxima pandemia, ou outra emergência”.

Lucas Romi, sócio da rede de franquias de consultórios odontológicos Odontoclinic, diz que a empresa instalou um comitê de gestão de crise, que integrava diretoria, sócios e conselho de franqueados.

Publicidade

“Fizemos toda a revisão dos processos de biossegurança. Atuamos também na revisão do planejamento financeiro: preparamos uma ferramenta simples para os franqueados para calcular os custos e receitas de cada uma das clínicas e fazer uma projeção de três meses, que foi o que a gente decidiu fazer em um primeiro momento”, afirma Romi.

A companhia foi fortemente afetada pelos efeitos da crise, podendo manter apenas atendimentos de urgência. Agora, pretende adiar aberturas de novas lojas para segurar o caixa e vai manter o comitê atuante por mais tempo. 

“Às vezes, muitas decisões e projetos ficavam mais restritos a sócios e diretores. Nesse momento mais difícil, os desafios foram discutidos com toda a cadeia. Não sei se vamos continuar chamando essas reuniões de comitê de gestão de crise, mas que a gente vai continuar próximo e se reunindo para discutir diversos assuntos, isso com certeza fica”, diz o sócio da Odontoclinic.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.