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Programa incentiva a participação de mulheres negras em conselhos de administração

Conselheira 101 vai proporcionar encontros com 20 executivas negras e promover interação com líderes de grandes empresas

Por Luisa Laval
Atualização:

Para promover a diversidade em conselhos de administração, um coletivo de mulheres lançou, na terça-feira, 25, o programa Conselheira 101, que promove o conhecimento do mundo corporativo entre mulheres negras. Além do incentivo à participação em conselhos, a iniciativa busca formar líderes e incentivar o relacionamento das participantes no mundo empresarial.

Foram selecionadas 20 executivas negras, que terão dez encontros virtuais sobre a dinâmica de conselhos de administração. Além disso, cada uma terá uma mentoria com executivas e conselheiras de grandes empresas.

Lisiane Lemos, uma das criadoras do programa Conselheira 101. Foto: Eliaria Andrade

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O programa conta com o apoio da WomenCorporateDirectors (WCD), fundação global que promove a diversidade de gênero nos conselhos, e da consultoria KPMG.

A ideia começou com uma publicação no LinkedIn, na qual a advogada Lisiane Lemos compartilhou questionamentos sobre a presença de mulheres negras em conselhos de administração.

“O conselho de administração sempre foi para mim esse ‘Olimpo’ corporativo, um lugar em que eu queria estar, e eu queria muito referências de pessoas para seguir”, conta Lisiane. “Então, perguntei no LinkedIn se as pessoas conheciam conselheiros negros e o post viralizou. Depois, a WCD me convidou para desenvolvermos juntas algum projeto.”

Leila Loria, co-chair da WCD no Brasil, conselheira de administração e cocriadora do Conselheira 101, diz que a entidade viu na publicação de Lisiane uma provocação positiva para poderem implementar uma nova iniciativa.

“Na WCD, estávamos incomodadas quando fazíamos nossos eventos presenciais e não tinha negras participando. A gente queria fazer alguma coisa para fomentar também a diversidade racial nos conselhos”, afirma. 

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Ela diz que ainda é um desafio ter negros participando de conselhos no Brasil. De acordo com um levantamento do Instituto Ethos, realizado em 2016, apenas 4,9% dos conselhos possuíam conselheiros autodeclarados pardos, e nenhum preto. Por outro lado, ela diz que o programa teve excelente receptividade entre executivos e palestrantes.

“Apesar de os negros representarem mais de 50% dos cargos de trainee, quando você passa para o nível de gerência, chega a 6%. Se você não consegue ter negros na gerência, é ainda mais difícil tê-los em conselhos. Iniciativas como essa ajudam a acelerar esse processo”, diz a co-chair da WCD.

Leila Loria, co-chair da WCD no Brasil. Foto: Divulgação/WCD

Em cerca de três meses, Lisiane e outras mulheres estruturaram o programa e fizeram a seleção de executivas que poderiam ter o perfil para ocupar cadeiras nos conselhos de administração.

“Não é uma certificação, um workshop ou uma pós-graduação. É um catalisador para que elas possam ocupar e ter visibilidade nesses cargos”, conta Lisiane, agora colíder do Conselheira 101. “Elas têm mais de 15 anos de experiência e já ocupam lugares de liderança no ambiente corporativo, além de ter muita preparação técnica. São requisitos que os conselhos estão procurando.”

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Além de Lisiane e Leila, o grupo fundador conta com Ana Beatrix Trejos, Ana Paula Pessoa, Elisangela Almeida, Graciema Bertoletti, Jandaraci Araujo, Lisiane Lemos, Marienne Coutinho e Patrícia Molino. Todas são voluntárias e o programa é totalmente gratuito.

“É impressionante como a gente encontra talentos. Cada vez mais, descobrimos que tem muito mais mulheres competentes e preparadas para assumir conselhos do que imaginávamos”, afirma Leila. “Elas estão escondidas, e o networking é fundamental para essas posições de conselho, então elas conseguirem ter acesso a esses tomadores de decisão é fundamental.”

“Se a gente conseguir que as participantes sejam pelo menos convidadas a participar desses processos dos conselhos de administração, já terá valido muito a pena”, aponta Lisiane.

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Oportunidade para crescer

Andréa Cruz, de 44 anos, fundadora da CEO da Serh1 Consultoria e com mais 18 anos de experiência no mundo corporativo, é uma das selecionadas para participar do programa Conselheira 101. Ela acredita que será uma oportunidade de ampliar o networking e alcançar novos objetivos.

Andréa Cruz,fundadora da CEO da Serh1 Consultoria e participante do Conselheira 101. Foto: Divulgação/Oliver Press

“Eu já vislumbrava a participação em conselhos na minha carreira, mas via isso muito mais adiante, quando tivesse mais de 50 anos. Quando recebi o convite para participar, trouxe uma perspectiva diferente de que não precisaria esperar a aposentadoria para me tornar conselheira”, diz a executiva.

Para ela, iniciativas como essa são importantes para o aumento da diversidade em empresas. “Já ouvi em reuniões que não há mulheres preparadas, que é muito difícil achá-las: isso é uma falácia, porque sabemos que existem muitas mulheres prontas para isso. Se não houvesse essas iniciativas, talvez não chegaríamos nessas posições”, conta Andréa. “As cotas para mulheres em conselhos também foram importantes para isso, para criar mais consciência sobre a necessidade de diversidade.” 

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