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Projeto brasileiro Women on Board atua pela inclusão de mulheres em conselhos 

Iniciativa certifica companhias que têm pelo menos duas mulheres em conselhos de administração ou consultivos 

Por Heloísa Scognamiglio 
Atualização:

A discussão acerca da diversidade no mundo corporativo ganha cada vez mais relevância, mas a presença de mulheres em cargos da alta liderança e em conselhos de administração ainda é considerada baixa no Brasil. Para combater essa realidade e incentivar a diversidade de gênero nos conselhos, foi criada a iniciativa Women on Board (WOB)

O WOB concede um selo de certificação para empresas de capital aberto e fechado que tenham pelo menos duas mulheres em seus colegiados, e acompanha se a organização mantém o número de conselheiras. Caso o número caia, a empresa perde a certificação. A iniciativa conta com o apoio da ONU Mulheres e já certificou mais de 80 empresas.  

Patrícia Marins, uma das fundadoras do WOB;pressão de investidores e da sociedade por negócios responsáveis alavancou debate sobre práticas ESG. Foto: Divulgação/Women on Board

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Criado em outubro de 2019, por um grupo de oito mulheres, entre empresárias, executivas, conselheiras e advogadas, o projeto tem o objetivo de reconhecer e valorizar as empresas que prezam pela inclusão de mulheres em cargos de liderança, além de fomentar o debate acerca da importância da diversidade de gênero. 

"É uma iniciativa sem fins lucrativos que visa demonstrar os benefícios da diversidade para os negócios e para o mundo corporativo como um todo”, afirma Patrícia Marins, uma das fundadoras do WOB e sócia diretora da Oficina Consultoria

Segundo Patrícia, a escolha de certificar empresas que possuem a partir de duas mulheres no conselho tem um motivo: quando há apenas uma conselheira, é muito difícil que ela faça diferença efetiva nas tomadas de decisão. 

“Por mais que a mulher chegue com o espírito de mudar, de contribuir, é muito difícil que isso ocorra. É preciso ter um ambiente propício para novas ideias e para uma mudança de cultura mesmo. Quando falamos tanto de mulheres como de outras minorias, é necessário você ter pelo menos dois representantes até para conseguir começar a chacoalhar as estruturas”, explica.

Diversidade em destaque 

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A diversidade de gênero está dentro da pauta ESG, sigla em inglês que se refere a aspectos ambientais, sociais e de governança das empresas, que está em destaque atualmente tanto no mundo corporativo quanto no meio dos investidores. 

Segundo Patrícia, a pressão de investidores e da própria sociedade por negócios mais responsáveis alavancou o debate acerca das práticas ESG e serviu também como base para a discussão sobre a presença de mulheres no ambiente de negócios. E, em alguns países, essa pressão também vem do órgão regulador: Patrícia menciona a Securities and Exchange Commission (SEC), o órgão regulador do mercado de capitais nos Estados Unidos, que aprovou em 2021 uma proposta da Nasdaq de exigir que os conselhos de administração das companhias listadas tenham pelo menos uma mulher e um outro membro que se identifique como minoria sub-representada.  

“Hoje já sabemos que as empresas que apostam em diversidade e inclusão têm melhores resultados financeiros, além de ter um diferencial competitivo, com mais soluções criativas e mais colaboração. Essa diversidade deve permear todas as áreas da empresa, mas deve estar também na liderança, onde ocorre a tomada de decisão. Por isso é tão importante a presença das mulheres nos conselhos”, destaca Patrícia. 

A cofundadora do WOB ainda aponta o machismo na visão de que mulheres não estão preparadas para assumir assentos no conselho de administração. “Hoje, eu diria que as mulheres são muito mais preparadas para estar em conselhos do que os homens. Há cursos de formação para conselheiras em várias instituições, como a Saint Paul Business School, por exemplo. Há mulheres de todos os tipos muito qualificadas para estarem em conselho. O que não existe muitas vezes é a abertura para isso, então é cômodo dizer que não existem essas mulheres. Lutamos e trabalhamos contra esse pensamento”, diz. 

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Patrícia cita a pesquisa Brasil Board Index 2021, realizada pela Spencer Stuart com 211 companhias de capital aberto brasileiras, que aponta que o percentual de mulheres em conselhos no Brasil é 14,3% - contra 11,5% em 2020. Houve crescimento, mas ainda é um número baixo comparado ao percentual médio internacional de um grupo de 20 países analisados pela pesquisa: 27,1%. 

“Estatisticamente houve um avanço, mas esse número ainda está longe da média internacional. Nós estamos caminhando, mas ainda falta entendimento sobre as vantagens de ter igualdade de gênero nos conselhos”, afirma. 

Divulgação e incentivo 

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A atuação do Women on Board, segundo Patrícia, inclui a identificação das empresas que podem ser certificadas e também a divulgação dessa certificação, para incentivar que outras empresas adotem uma postura semelhante. "É meio que 'peer pressure' (pressão dos pares, em tradução livre). Quando certificamos grandes empresas, fazemos questão de fazer barulho e então, geralmente, os concorrentes nos procuram querendo saber como fazer", explica. 

"No começo, nós realmente batíamos nas portas das empresas para realizar a certificação. Hoje ainda procuramos as empresas, mas somos muito procurados também e não estamos dando conta. Depois de grandes certificações, como a da B3 e da AmBev, por exemplo, sempre tem um 'boom' de empresas pedindo a certificação", afirma Patrícia. 

A cofundadora avalia os avanços do WOB como muito positivos e aponta uma internacionalização da iniciativa no futuro. "Nossa pauta agora com a ONU Mulheres é exportar o WOB para o mundo. Então estamos muito animadas", diz 

"Já agora, neste começo de ano, o que temos é um plano de aproveitar essa onda do ESG para que essa pauta de igualdade de gênero avance. E nosso principal alerta é para que as empresas lembrem dos ganhos que a igualdade de gênero pode proporcionar quando elas indicarem os novos conselheiros para suas empresas", diz Patrícia.

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