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Alta do petróleo pode levar a reajuste de combustíveis no Brasil

Economista Fábio Silveira, da RC Consultores, diz que a defasagem no preço da gasolina é, em média, de 18%

Por Luciana Xavier e Nathália Ferreira
Atualização:

A disparada do petróleo deve aumentar a defasagem entre os preços praticados no Brasil e no mercado internacional e poderá levar a Petrobras a promover um aumento dos combustíveis em breve, segundo o economista Fábio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores. "Não descartaria a hipótese de reajustes", disse. Ouça a entrevista Silveira disse que a defasagem no preço da gasolina é, em média, de 18%, enquanto a do óleo diesel chega a 25%. Ele ressalta, no entanto, que os reajustes não viriam nessa magnitude. "Se viessem, podíamos esquecer a meta inflacionária", observou. Para ele, os reajustes seriam feitos em parcelas, com um primeiro aumento de cerca de 5%. Depois de três, quatro ou cinco meses, (a Petrobras) poderia pensar em outro reajuste e jogaria a pressão inflacionária para o ano que vem", explicou. O economista disse ainda que o petróleo é hoje o maior risco para a inflação global e que algumas commodities agrícolas, como açúcar, soja e café, e metálicas atingiram o auge dos preços em março e podem parar de subir daqui para frente Para Silveira, está cada vez mais difícil prever um teto para o petróleo e os preços podem "ir para a lua" com o descontrole do mercado financeiro. "Nesse estágio de ultranervosismo podemos esperar tudo. Trata-se de um mercado que perdeu o referencial e não há preço de equilíbrio", disse. Segundo ele, é possível que a commodity supere no curto prazo os US$ 120 o barril, podendo ir para perto de US$ 125. "Há efeito manada, com investidores bastante desorientados. Há incerteza muito grande, apesar de a ação do Fed, Banco Central Europeu (BCE) e Banco Central da Inglaterra (BOE). Todas as ações atenuam, mas não removem o temor de que notícias piores poderão surgir", comentou. "Os mercados de commodities ganham força nesse contexto." Para Silveira, os bancos centrais estão agora em posição difícil, com a alta de petróleo representando uma ameaça à inflação de um lado e sinais de recessão nos Estados Unidos e desaceleração na Europa, de outro. "O Fed não pode elevar os juros. A Europa hesita em subir muito os juros. Portanto, é uma situação bastante complexa", disse. O economista acredita que a maior parte da alta do petróleo se deve a movimento especulativo e não ao aumento da demanda de países como a China, como justificam alguns analistas. Se não fosse pela especulação, Silveira calcula que o petróleo poderia estar ao redor de US$ 80. "É um movimento nitidamente especulativo. De seis meses a um ano, deverá haver um enfraquecimento do comércio mundial e, no médio prazo, da demanda por petróleo e derivados. O petróleo está subindo porque o investidor não tem para onde ir e buscará abrigo no mercado de petróleo enquanto for possível ganhar", afirmou. Silveira espera que o PIB americano fique negativo no primeiro semestre deste ano. A alta do petróleo deve pesar nos custos das famílias e empresas e isso levará a uma redução no consumo e reversão dos preços da commodity nos próximos meses. "O ajuste virá via corte de demanda. É uma questão de tempo", afirmou. Por isso, Silveira ainda mantém sua projeção para petróleo com barril fechando entre US$ 80 e US$ 90 este ano. A expectativa para o PIB dos EUA é de que fique em 0% este ano.

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