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Artigo: Como um leigo escolhe seu investimento

Por Agencia Estado
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Em tempos idos, escolher a cor de um carro era muito fácil. "Você pode ter o carro da cor que quiser, contanto que ele seja preto", diz a famosa frase onde Henry Ford sintetizava a gama de opções disponíveis ao consumidor de carros durante o primeiro quarto do século 20. Exageros à parte, assim também era a realidade brasileira há alguns anos, tornando o trabalho de selecionar uma dentre alternativas conservadoras de investimento uma tarefa relativamente fácil. Entretanto, com o passar dos anos, o ambiente financeiro sofisticou-se a ponto de termos uma miríade de opções de investimento. Fazer a escolha do produto mais adequado às nossas necessidades tornou-se uma empreitada não trivial. Mais difícil ainda para o grupo de consumidores de produtos financeiros que não seja iniciado neste mercado (onde, convenhamos, a grande maioria das pessoas enquadra-se). Um cidadão que está no rol daqueles que toma decisões de investimento com base na opinião dos outros ou, pior ainda, ao acaso, deve sentir um desconfortável frio na barriga quando chega o momento de selecionar uma alternativa para servir de porto seguro para a suada economia. Pois bem! Acredito que as pessoas que entendem de assuntos relacionados às finanças podem ser subdivididas em duas subcategorias: a dos leigos que entende o que os especialistas falam e a dos leigos que não faz a menor idéia do que ele, o especialista, está dizendo. A primeira subcategoria, formada por pessoas que embora não dominem o assunto compreendem o que um especialista tem a dizer, tem condição de fazer uma análise critica da situação. Elas podem tomar uma decisão de investimento de maneira autônoma, ainda que se utilize de informações e cenários traçados por outrem. O grande problema está na segunda subcategoria, formada por pessoas que ainda não têm condições de entender o que se passa a sua volta no que diz respeito ao ambiente econômico e que pouco ou nada compreenderá da explanação feita por um especialista. Sobre essas pessoas, caso decidam por si mesmas onde colocar seu dinheiro, paira o azar. A escolha do investimento ao acaso é a quase certeza de dinheiro jogado fora, porque é exatamente para esse público desinformado que o mercado de varejo está repleto de produtos. Prova disso é a grande ênfase que os bancos de varejo dão à venda títulos de capitalização, poupança e fundos de investimento conservadores com altas taxas de administração e, por conseguinte, com rentabilidades pífias. Mas o azar não termina aí. Outro risco para o leigo da segunda subcategoria é informar-se com as pessoas erradas. E como descobrir quem é essa pessoa? Fácil, basta olhar para quem deseja vender algo para você. Aconselhar-se com ela é tão semelhante quanto pedir ao lobo que vá contar as galinhas. Rafael Paschoarelli é doutor e professor de Finanças da Universidade de São Paulo, palestrante e autor do livro A Regra do Jogo - Descubra o que não querem que você saiba sobre o jogo do dinheiro (Saraiva).

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