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Ata não eleva alerta à inflação, mas desemprego e CMN domam juros

Documento do último encontro do Copom revela um BC que vê a evolução menos favorável da inflação

Por Patricia Lara e da Agência Estado
Atualização:

A ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada hoje, revela um Banco Central (BC) que vê a evolução menos favorável do cenário perspectivo de inflação. No entanto, as autoridades trabalham ainda com incertezas sobre a perenidade das pressões. Os membros do BC ainda contam com a ajuda da política fiscal e tentam balizar os efeitos das medidas prudenciais recentemente adotadas e da transmissão dos preços externos para o Brasil.

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O concreto é que o documento não é tão assertivo, quanto esperavam os operadores, sobre o comportamento dos preços futuros, mas a taxa de desemprego doma, parcialmente, um repique das taxas futuras de juros neste primeiro momento. A taxa caiu de 5,7% em novembro para 5,3% em dezembro, segundo informou hoje o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas não confirmou o melhor cenário previsto e veio acompanhada de redução da massa de renda habitual. O número ajuda a enfraquecer a aposta de intensificação do ritmo de aperto monetário em março. Mas o longo prazo é incerto e hoje ainda ocorre reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN).

Na ata, as autoridades veem "as incertezas que cercam o cenário global e, em menor escala, o doméstico". E isso não permite "identificar com clareza o grau de perenidade de pressões recentes". O documento também cita que as autoridades ainda aguardam mais desdobramentos sobre os efeitos das medidas prudenciais e reitera que depende do cumprimento das promessas no âmbito fiscal para determinar os próximos passos de política monetária.

"É uma ata não tão pesada quanto se esperava", destacou um operador de uma corretora do Rio de Janeiro. "O mais importante da ata está em dois pontos. Primeiro, no reajuste dos salários, que não pode ser incompatível com a produtividade", salientou. "Em segundo, na parte fiscal, já que o texto coloca explicitamente que isso é parte importante do contexto que as decisões futuras serão tomadas", completou.

Um gestor lembra que o dia ainda reserva a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), às 15 horas, com o comando do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que retorna hoje ao trabalho, depois de dez dias de férias. "O mercado futuro de juros montou algumas estruturas de negócios com a previsão de aperto monetário de 0,75 ponto porcentual no próximo Copom e deve seguir carregando esse posicionamento", destacou.

No parágrafo 27 da ata, as autoridades observam que, "no âmbito interno, ações macroprudencias recentemente anunciadas, um instrumento rápido e potente para conter pressões localizadas de demanda, ainda terão seus efeitos incorporados à dinâmica dos preços".

As autoridades repetem que teve seguimento a materialização de riscos de curto prazo com os quais trabalhavam na reunião anterior. "Embora as incertezas que cercam o cenário global e, em menor escala, o doméstico, não permitam identificar com clareza o grau de perenidade de pressões recentes, o Comitê avalia que o cenário prospectivo para a inflação evoluiu desfavoravelmente".

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"A ata veio mais fraca do que o mercado está vendo em relação ao comportamento da inflação no cenário perspectivo. Deu muita ênfase para o lado fiscal", ponderou um operador de uma das maiores corretoras de São Paulo.

"O Copom vê um efeito do cenário externo sobre a inflação doméstica ambíguo. Há preocupação sobre a dívida dos países europeus, mas reconhece melhora na economia norte-americana", ponderou um economista, completando que as autoridades admitem que os preços das commodities no exterior não tem mais uma contrapartida atenuadora nos mercados domésticos, o que traz pressão inflacionária.

Enquanto a ata não elevou o alerta para a inflação, a taxa de desemprego não confirmou o melhor cenário previsto pelos analistas. A taxa de 5,3% de desemprego ficou dentro do esperado, mas acima da mediana (5%). Ela veio acompanhada de uma redução de 0,5% da massa de renda média real (descontada a inflação) habitual dos ocupados em dezembro ante novembro.

Em relação à inflação corrente, o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) subiu 1,03% na terceira prévia de janeiro, acelerando em relação à taxa de 0,86% da segunda quadrissemana.

O indicador ficou igual à mediana das estimativas das instituições consultadas pelo AE Projeções, que variavam de 0,94% a 1,14%. Os preços desaceleraram no grupo Alimentação (de 1,54% para 1,26%), mas se intensificaram em cinco dos outros sete grupos pesquisados. Transportes (de 1,66% para 2,37%) e Educação (de 2,29% para 4,27%) foram destaques nessa aceleração.

Às 10h32 (horário de Brasília), a taxa projetada pelo DI com vencimento em janeiro de 2012 apontava 12,44%, ante 12,43% de ontem. Já o contrato com vencimento em janeiro de 2013 apresentava taxa de 12,85%, ante 12,83% de ontem.

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