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Até quando o dólar continuará a subir a montanha?

Entenda quem ganha, quem perde e quais os efeitos da crise cambial para os brasileiros

Por Amilton Pinheiro
Atualização:

Atualizada no dia 21/10, às 15h15

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Em alguns dias de setembro a cotação do dólar superou a marca simbólica de R$ 4. Trata-se do maior valor desde a implementação do Plano Real em 1994. Vários são os fatores que explicam a alta da moeda norte-americana, segundo os especialistas consultados pelo Estadão. O impasse sobre os rumos da crise política agravam os já combalidos indicadores econômicos e o mercado sinaliza essas turbulências. “A causa principal para a alta do dólar é o risco político mais elevado. Há a percepção de que o governo não sabe para onde ir e isso aumenta a ideia de que a economia vai piorar no curto prazo”, explica Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados.

 

Por que a alta do dólar?

Segundo os especialistas a alta volatilidade da moeda americana, além das questões políticas e econômicas internas, o Banco Central americano (FED) sinalizou que não iria subir os juros a economia daquele país para não prejudicar os mercados emergentes, o que foi suficiente para que as expectativas dos agentes antecipassem essa alta futura, entende André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos. É preciso entender que no mercado do câmbio o dólar reflete os efeitos da demanda. A deterioração gradual dos indicadores da economia brasileira vem fazendo com que os agentes econômicos tentem se proteger com ativos estrangeiros. “No mercado de câmbio, o dólar é um preço e como tal está tendo mais compra do que venda, mesmo com a intervenção do Banco Central tentando queimar reservas para controlar a subida do dólar. Esse excesso de demanda deixará o dólar bastante volátil nas próximas semanas”, explica Márcio Salvato, coordenador do curso de economia do IBMEC de Minas Gerais.

Para onde vai o dólar?

Fernando Bergallo, gerente de câmbio da TOV Corretora, não se arrisca a estimar uma cotação futura do dólar e acredita que qualquer palpite é mera especulação. “Não tem piso, não tem teto e nem preço técnico; o mercado do dólar está a deriva, pode escrever isso”, resume. Para os outros especialistas ouvidos, o dólar continuará em alta durante as próximas semanas, pois o impasse do governo com o Congresso está longe de um final. Aliado a isso, a decisão da agência de classificação de risco, Fitch ter rebaixado a nota do País para o último patamar de grau de investimento, alinhado com a da outra agência, Moody`s, recrudesceu ainda mais as expectativas negativas dos agentes econômicos. “É bem provável que a Moody`s possa soltar outra nota ainda esse ano”, acredita André Perfeito; para ele o dólar continuará em alta nos próximos meses, podendo fechar a R$ 4,5 até o final do ano, mesmo patamar projetado por Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Já Márcio Salvato é mais moderado quando diz que é arriscado projetar um número para o dólar, mas a tendência é de alta.

Quem ganha com a alta do dólar?

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Para os especialistas, o mercado exportador vai ganhar com a alta do dólar, mas isso é temporário. “Para o exportador, é um resultado positivo, apesar de temporário. Câmbio depreciado como agora ajuda a voltar a exportar durante um tempo, ajusta as contas externas, mas não ajuda a aumentar a competitividade geral dos exportadores. A hora que o câmbio volta a apreciar perde-se o que ganhou”, diz Sérgio Vale. Esse ganho da indústria em geral, segundo Fernando Bergallo, protege alguns empregos, mas as pressões sobre a inflação prejudicam as contas do governo, já muito deterioradas. Preços favoráveis dos produtos exportáveis, devido ao câmbio depreciado, não garantem vendas, pois elas dependem também do mercado favorável lá fora. “O mercado exportador mesmo com o câmbio favorável depende da demanda externa e essa não vem demonstrando melhora, pois os mercados emergentes estão se retraindo, a China, nossa parceira, principalmente”, analisa Márcio Salvato.

Quem perde com a alta do dólar?

Mesmo que as exportações consigam melhorar e, com isso, a Balança de Pagamentos, com entrada de mais dólares, a depreciação do câmbio repercutirá nos preços internos, com o aumento dos custos dos insumos importados e, dessa maneira, contribuindo com o aumento dos preços de alguns produtos, ou seja - o reflexo é a retomada da inflação. Segundo Sérgio Vale, câmbio depreciado resulta em salários reais mais baixos, inflação mais elevada e custos maiores para as empresas - aquelas que estão endividadas em dólar e as que usam insumos importados.

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“A crise cambial nunca é algo positivo e quem acaba pagando é quem não consegue se proteger, especialmente os mais pobres”, completa. O próprio governo é afetado com a depreciação do câmbio, pois ele aumenta o rombo de suas contas e cria feitos negativos em cascata na economia brasileira já tão combalida, explica Fernando Bergallo. “Aumenta a inflação e a dívida do governo e de algumas empresas que comparam produtos e insumos, por exemplo”. Com aumento de inflação, o consumidor é prejudicado, inclusive aqueles que viajam para o exterior e fazem compras. “Com o dólar alto e com tendência de subida podem dizer adeus as viagens, pois a coisa vai piorar”, sentencia Fernando Bergallo.

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