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Bolsas de NY fecham em forte baixa por temor de recessão; Dow Jones tem maior queda em quase 2 anos

Mercados dos EUA tiveram dia negativo com sinais de fraqueza para o varejo, lockdown na China e aperto do Fed no radar. No Brasil, a Bolsa acompanhou o tombo nos mercados globais e fechou em queda de 2,34%; dolár subiu 0,80%

Por Gabriel Bueno da Costa , Luis Eduardo Leal e Antonio Perez
Atualização:

Os mercados acionários de Nova York tiveram queda forte, nesta quarta-feira, 18. O índice  Dow Jones fechou em baixa de 3,57%, em 31.490,07 pontos, o S&P 500 caiu 4,04%, a 3.923,68 pontos, e o Nasdaq recuou 4,73%, a 11.418,15 pontos. O Dow Jones teve a maior queda porcentual diária desde junho de 2020, segundo a imprensa americana.

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O dia já começou em tom negativo, após ganhos no pregão anterior, e piorou em meio a sinais ruins nas perspectivas de varejistas dos Estados Unidos. Além disso, novas notícias sobre lockdowns para conter o covid-19 na China contribuíram para a fuga do risco das ações entre investidores, que também seguem atentos à perspectiva de aperto monetário pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Houve mínimas no dia ainda pela manhã, em meio aos relatos de lockdown na China, na metrópole de Tianjin. A Eurasia já alertava em relatório a clientes que surtos em regiões importantes do país pesariam no desempenho econômico local, citando Tianjing como um dos focos de surtos recentes da doença.

Bolsas de NY registram forte quedapor temor de recessão Foto: John Minchillo/AP

Além disso, sinais de fraqueza de varejistas dos EUA foram vistos como prenúncio negativo para a economia em geral. Entre ações em foco, Target recuou 24,87% e Walmart, 6,84%, após as duas varejistas publicarem balanços que decepcionaram investidores. Walmart disse que suas margens são pressionadas por preços mais altos de alimentos e outros avanços da inflação, enquanto Target teve lucro líquido inferior ao previsto, entre outros sinais vistos como negativos no balanço. Papéis ligados ao consumo em geral foram penalizados, como Costco (-12,45%), com esse setor liderando perdas.

Entre outras ações importantes, Apple recuou 5,64%, Amazon recuou 7,16% e Microsoft, 4,55%. Alphabet teve perda de 3,93% e, entre os bancos, Citigroup cedeu 3,39% e Bank of America, 3,08%. Boeing fechou em baixa de 4,95%, colaborando para pressionar o  Dow Jones. Em jornada de baixa para o petróleo, Chevron caiu 2,64% e ExxonMobil, 1,59%.

Tesla registrou baixa de 6,80%, após o papel ter sido retirado do índice S&P 500 ESG por falta de uma estratégia de baixo carbono detalhada.

A Capital Economics previa que o índice S&P 500 deve recuar ainda mais. Em relatório, a consultoria aponta que o Fed manterá o aperto, para conter a inflação elevada, o que para ela levará o índice a 3.750 pontos até meados do próximo ano.

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Ibovespa cai 2,34%

Acompanhando a acentuação de perdas ao longo da tarde em Nova York, o Ibovespa devolveu hoje a recuperação vista nas últimas cinco sessões, que havia tirado o índice do negativo para o positivo no mês. Agora a referência da B3 volta a anotar perda em maio (-1,51%) ao fechar nesta quarta-feira em queda de 2,34%, a 106.247,15 pontos, pressionada pela retomada da aversão a risco desde o exterior, onde prevaleceram hoje sinais ruins sobre a trajetória da covid na China, após relativa melhora nos últimos dias quanto à transmissão da doença no país. Na semana, a referência cede 0,63%, limitando o ganho do ano a 1,36%.

Com a aversão a risco agravada à tarde, as perdas se acentuaram nos setores de maior peso e liquidez, em especial o de siderurgia, onde chegaram à casa de 5% para Gerdau PN (-5,69%) e CSN ON (-5,82%). Entre os grandes bancos, a correção chegou a 2,77% (Unit do Santander), enquanto Petrobras e Vale mostraram queda na faixa de 1,6% a 2,5% no fechamento, respectivamente de 2,26% e 1,64% para ON e PN da estatal, e de 2,53% para a ON da mineradora.

Entre as maiores perdas do índice, destaque para Banco Inter (-8,62%), Ultrapar (-7,71%) e Dexco (-6,43%). No lado oposto, apenas sete ações da carteira teórica da B3 conseguiram sustentar ganhos na sessão, com Locaweb (+13,95%), Hapvida (+4,45%) e Ecorodovias (+2,27%) à frente.

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"O Ibovespa acompanhou hoje o mercado americano nas mínimas do dia. Um ponto a destacar foi que, diferente da maioria dos dias em uma perspectiva mais longa, a Bolsa aqui caiu e com juros dos Treasuries fechando. Hoje, não foi abertura de Treasuries que provocou essa queda em bolsa, mas sim uma aversão maior a risco, com o medo de desaceleração global mais forte - seja também por Fed um pouco mais 'hawkish' apesar das declarações relativamente tranquilizadoras do Jerome Powell (presidente do Fed), recentemente", diz Luiz Adriano Martinez, portfólio manager da Kilima Asset.

Dólar sobe 0,80%

Após recuar mais de 2% ontem, quando emendou seu quarto pregão seguido de queda e zerou os ganhos em maio, o dólar subiu na sessão desta quarta-feira, 18, em um movimento de correção amparado pelo ambiente externo negativo. Relatos de novas medidas restritivas na China, que sustenta a política de covid zero, e a leitura de que os Bancos Centrais dos países desenvolvidos, em especial o Federal Reserve, terão que ser mais agressivos para conter a inflação preocupam os mercados. Em uma clássica fuga para a qualidade, investidores abandonaram bolsas e correram para se abrigar na moeda americana e nos títulos do Tesouro americano.

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Esse movimento se traduziu por aqui em tombo do Ibovespa e alta do dólar, embora em ritmo mais moderado do que o azedume lá fora e a perda de fôlego das commodities agrícolas e metálicas poderiam sugerir. Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar flertou com o rompimento do patamar de R$ 5,00 no meio da tarde e encerrou o dia cotado a R$ 4,9826, em alta de 0,80%.

Analistas apontam que a elevada taxa de juros doméstica, que atrai capitais de curto prazo para "carry trade" e torna custosa aposta comprada em dólar, daria certo suporte à moeda brasileira. Operadores também citaram como possível entrave para uma escalada mais forte do dólar hoje declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, em evento pela manhã em São Paulo.

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Serra disse que o BC tem "instrumentos para combater uma eventual volatilidade adicional do câmbio" e que, se precisar subir mais o juro porque o juro global sobe, "a gente pode fazer". O diretor do BC lembrou que o real é uma das melhores moedas em desempenho no mundo nos últimos 12 meses, seis meses e no acumulado deste ano, "o que faz sentido nesse momento em que o Brasil se beneficia do choque de oferta global".

O economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, atribui a derrocada dos ativos de risco hoje, sobretudo, à incerteza sobre a intensidade e o ritmo de ajuste dos juros nos Estados Unidos, dados os sinais erráticos emitidos por autoridades do BC americano, em especial a fala de ontem do chairman Jerome Powell. Embora tenha dito que há "amplo apoio" no comitê de política monetária da instituição para alta de 50 pontos-base dos Fed Funds em junho, Powell se mostrou preocupado com a inflação e afirmou que não hesitará em levar a taxa de juros além do nível neutro.

"O Fed não consegue emitir um sinal claro sobre o cenário para os juros nos EUA. O mercado não está 'comprando' essa ideia de que não vai ser preciso subir os juros com mais força. A sensação é de que o Fed terá que ir muito além do que está dizendo", afirma Vieira, ressaltando que os índices de inflação na Europa, divulgados hoje, mostram que a inflação tem é um problema global. "O dólar não sobe tanto por aqui porque ainda tem interesse do estrangeiro por Brasil, em um posicionamento global para emergentes, e um pouco de carry trade".