24 de agosto de 2021 | 17h30
As Bolsas de Nova York e da Ásia voltaram a repetir a recuperação do dia anterior e fecharam em alta generalizada nesta terça-feira, 24, com a primeira batendo recorde. No entanto, alguns índices do mercado europeu fecharam em queda, ainda em dúvida sobre o ritmo de crescimento da economia da região.
Nos Estados Unidos, a expectativa é grande pelo Simpósio de Jackson Hole, organizado pela distrital do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Kansas. O evento, realizado virtualmente por conta do avanço da variante Delta do coronavírus, deverá trazer mais pistas sobre os próximos passos da autoridade monetária, o que inclui a possível redução do programa de compra de títulos públicos, o chamado 'tapering'. Além disso, espera-se que o Fed adote um tom "mais duro" sobre os estímulos.
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Enquanto isso, a economia americana continua sendo monitorada de perto. Índice do Fed mostra que as vendas de casas novas aumentaram 708 mil em julho, melhor do que a estimativa de 697 mil. "Os dados de hoje confirmam que o mercado imobiliário está se estabilizando. Os estoques estão aumentando à medida que o preço médio de uma nova casa aumentou 18% em relação ao ano passado", diz o analista de mercado financeiro da OANDA, Edward Moya.
No entanto, as contas do governo americano começam a preocupar. Em relatório, o Citi alerta que o teto da dívida pública nos Estados Unidos tem recebido pouca atenção dos mercados, mas pode se tornar um problema maior aos negócios nas próximas semanas. Depois de dois anos suspenso, o limite do endividamento federal voltou a vigorar no início deste mês, na esteira da possível aprovação do pacote de infraestrutura de US$ 1 trilhão de Joe Biden na Câmara.
Na agenda de indicadores europeus, o governo da Alemanha informou hoje que o Produto Interno Bruto (PIB) do país subiu 1,6% no segundo trimestre deste ano ante o anterior, dado levemente acima da expectativa de analistas ouvidos pelo The Wall Street Journal. O resultado, porém, fez os investidores se perguntarem se o ritmo de retomada da economia alemã conseguirá se manter forte até o final do ano.
Para o ING, os problemas de gargalos de oferta representarão maior risco para o crescimento da economia alemã no segundo semestre de 2021. "Provavelmente também por conta das eleições que estão por vir (em setembro), o governo alemão não se cansa de reforçar que não planeja novos lockdowns para pessoas totalmente vacinadas", observa o banco holandês, que estima que a economia da Alemanha retorne aos níveis pré-crise antes do fim do ano.
Sobre a pandemia, há preocupaçõe com o lento ritmo de vacinação na região asiática. Embora estejam em queda na China, Índia, Taiwan e Indonésia, os casos de infecção por covid-19 ganharam força no Japão, Coreia do Sul, Malásia, Filipinas e Vietnã.
Ainda sobre o tema, depois de o governo americano ter concedido ontem à Pfizer o registro definitivo de sua vacina contra covid, o infectologista e principal conselheiro médico da Casa Branca, Anthony Fauci, disse hoje esperar que os imunizantes da Moderna e da Johnson & Johnson recebam autorização integral da FDA, o órgão regulador de alimentos e medicamentos dos EUA, "relativamente logo". As licenças permitem aos gestores públicos desenvolverem novas políticas para o combate à doença, alimentando expectativas de superação da pandemia e abrindo espaço para maior apetite a risco nos mercados.
Estendendo a recuperação, os índices da Bolsa de Nova York subiram, com S&P 500 e Nasdaq avançando 0,15% e 0,52% cada, com ambos batendo novos recordes de fechamento. Com ganhos mais contidos, o Dow Jones teve ganho de apenas 0,09%.
Segundo Moya, os resultados recordes da Best Buy ajudaram o mercado de Nova York, pois "pintaram uma perspectiva muito forte para os consumidores nos EUA". A empresa teve alta de 8,36%, após entregar resultados recordes no segundo trimestre. "Parece que o consumidor está adotando o home office e atualizando seu equipamento de tecnologia. A loja de software e eletrônicos aumentou sua previsão para o resto do ano, já que os gastos parecem continuar fortes", aponta o analista.
Seguindo o desempenho positivo de Wall Street no dia anterior, o mercado asiático fechou em alta. A Bolsa de Tóquio subiu 0,87%, enquanto a de Hong Kong teve ganho de 2,46%, Seul, de 1,56% e Taiwan, 0,46%. Os índices chineses de Xangai e Shenzhen registraram altas de 1,07% e 0,77% cada.
Na Oceania, a Bolsa australiana ficou levemente no azul hoje, com ganho de 0,17%, apesar de fortes perdas de empresas que divulgaram balanços anuais.
Apesar do resultado positivo, o crescimento do PIB alemão não convenceu e afetou o desempenho de alguns índices. O Stoxx 600, por exemplo, que concentra as principais empresas do continente, cedeu 0,02%, enquanto Paris teve queda de 0,28%, com o setor de luxo em queda. Os índices de Milão e Madri recuaram 0,07% e 0,22%.
Na Bolsa de Frankfurt, porém, o resultado da economia alemã foi visto com bons olhos e o índice local subiu 0,33%. Já a Bolsa de Londres teve ganho de 0,24%. Seguindo a alta de mais de 6% do minério de ferro na China, papéis de empresas do setor avançaram no mercado londrino, com Rio Tinto, BHP e Anglo American avançando 2,97%, 1,29% e 2,77%.
Os contratos futuros de petróleo fecharam em alta nesta terça, estendendo os ganhos da sessão anterior. A commodity foi sustentada em parte pelo câmbio, mas sobretudo com o ajuste para cima após perdas recentes, embora a variante Delta e seus riscos à demanda sigam no radar.
O petróleo WTI para outubro fechou com ganho de 2,89%, em US$ 67,54 o barril, enquanto o Brent para o mesmo mês subiu 3,35%, a US$ 71,05 o barril. O Deutsche Bank destacou em relatório a clientes que na segunda-feira o petróleo exibiu o maior ganho desde novembro, "após semanas de pressões sobre as commodities". Os contratos vinham de sete baixas consecutivas, e o movimento de recuperação se estendeu hoje.
"Os preços do petróleo devem se beneficiar da queda dos estoques e conforme as duas maiores economias do mundo começam a ver um retorno da demanda normal de petróleo", diz Moya, da OANDA. /MAIARA SANTIAGO, ILANA CARDIAL E GABRIEL BUENO DA COSTA
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