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Bovespa já perdeu US$ 187 bi com turbulência global

Por Agencia Estado
Atualização:

A turbulência financeira global já reduziu em US$ 187 bilhões o valor de mercado das empresas com ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), de 9 de maio a 12 de junho. Só para os bancos, o setor mais atingido, a crise já custou US$ 41 bilhões. Em pouco mais de um mês, o preço dos 18 bancos com papéis negociados na Bovespa despencou de US$ 129 bilhões para US$ 88 bilhões - ou 32%, segundo levantamento da consultoria Economática com 229 companhias abertas. As empresas de petróleo e gás ficaram em segundo lugar na lista dos maiores perdedores. Apenas sete companhias responderam por uma queda no preço de mercado de US$ 33 bilhões. A área de mineração, com duas companhias listadas na Bolsa, aparece em seguida, com perda de US$ 18 bilhões. Juntos, os três setores, que somam 27 empresas, foram responsáveis por praticamente a metade (US$ 93 bilhões) das perdas da Bovespa. De acordo com a Economática, desde o início da turbulência global, em maio, o índice Bovespa (Ibovespa) caiu 29,83% em dólar, para 32.847 pontos. Já o índice que inclui as ações com governança corporativa se desvalorizou 30,89%, o segundo maior prejuízo entre as Bolsas da América Latina e dos Estados Unidos. Os índices brasileiros só perdem para os da Colômbia, cuja desvalorização atingiu 46,65% desde maio. Tanto mau humor entre os investidores deve-se à evolução dos juros americanos, hoje em 5% ao ano. A preocupação é que a alta das taxas para conter os preços desacelere a economia americana e desencadeie uma crise mundial. A possibilidade de isso ocorrer faz com que os investidores refaçam suas apostas nas aplicações. Na maioria das vezes, esse investidores vendem papéis do mercado acionário e se refugiam em títulos do governo, como os treasuries americanos. Os mercados emergentes, como o Brasil, são os que mais sofrem nesses momentos de nervosismo, já que representam maior risco. Por enquanto, ninguém arrisca dizer até onde vai essa turbulência. A certeza é que até o dia 29, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) decide a nova taxa de juros nos Estados Unidos, o nervosismo vai imperar entre os investidores, afirma o economista da GRC Visão, Jason Vieira. Há, no entanto, a esperança de que, após a reunião, os dirigentes da autoridade monetária americana dêem algum sinal do rumo das taxas. A indicação de que o aperto monetário pode continuar aumentará o mau humor no mercado. Apesar das quedas consecutivas, os analistas não classificam o nervosismo atual como uma crise e acreditam que logo as Bolsas poderão ter resultados positivos. "É um processo de correção", afirma o diretor de Renda Variável do Crédit Suisse First Boston (CSFB), Marcelo Kayath. Segundo ele, nos últimos quatro anos a Bovespa só acumulou lucros. Saiu de cerca de 10 mil pontos para mais de 42 mil pontos. Boa parte desse desempenho deve-se à entrada de recursos estrangeiros no País. Em 2003, a parcela do investimento externo na Bolsa era de 24,1%. Esse índice subiu para 35,6% em abril, quando o saldo ficou positivo em R$ 1,1 bilhão. Em maio, o movimento se inverteu e as saídas foram R$ 1,5 bilhão superiores às entradas. Nesse mês, até o dia 9, o saldo estava negativo em R$ 1,1 bilhão. "Muitos investidores que tinham grandes aplicações no Brasil decidiram reduzir o volume", afirma Kayath. Na avaliação dele, a liquidez mundial não acabou. "Diminuiu um pouco, mas ainda vai sobrar muito dinheiro para investir." O economista do ABN Amro Asset Management, Hugo Penteado, acredita que a recente deterioração do mercado não está totalmente relacionada às mudanças de fundamentos macroeconômicos globais, e sim ao excessivo posicionamento dos investidores no quarto ano de alta consecutiva das bolsas. "Junta-se a isso, a mudança de direção do Fed", disse.

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