Publicidade

Bovespa sobe e dólar cai com decisão sobre juros nos EUA

Bolsa avançou 0,55%, com Petrobrás, Vale e siderúrgicas registrando as maiores altas; moeda teve baixa de 0,25% e terminou a sessão cotada a R$ 3,47

Por Silvana Rocha , Lucas Hirata e Paula Dias
Atualização:

O dólar encerrou o pregão desta quarta-feira, 15, em queda ante o real pelo segundo dia seguido, acompanhando a tendência negativa observada no exterior, em meio a sinais de que o Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) não deve ter pressa para elevar juros nos Estados Unidos. A moeda no mercado à vista terminou em baixa de 0,25%, aos R$ 3,4714 no balcão. O giro financeiro somou US$ 1,908 bilhão, ajudado pela alta volatilidade da moeda no dia, de 1,49%. 

Momentos após o anúncio da manutenção das taxas dos Fed Funds entre 0,25% e 0,50% e da taxa de redesconto, em 1,00%, investidores praticamente descartaram a possibilidade de uma elevação de juros nos Estados Unidos este ano, segundo dados compilados pelo CME Group. As chances de uma elevação de juros na reunião de julho caíram de 23% antes do anúncio do Fed para 0%. A expectativa sobre uma elevação em setembro caiu de 41% para 24%, enquanto a de novembro recuou de 43% para 26% e a de dezembro, de 59% para 47%.

Cenário político influenciou mercado financeiro, mas teve impacto limitado Foto: Marcio Fernandes|Estadão

PUBLICIDADE

A presidente do BC norte-americano, Janet Yellen, ajudou a fortalecer as impressões do mercado ao ressaltar, em entrevista coletiva, que "vamos continuar a monitorar a inflação atual e esperar progresso em direção à meta (de 2% ao ano)". Segundo ela, a recente criação de postos de trabalho é muito baixa (houve criação de 38 mil postos de trabalho em maio nos EUA) e a possibilidade de Brexit foi um dos fatores que levou à decisão de hoje. 

Política. Antes de acelerar a queda, sem renovar mínima, reagindo ao Fed, o dólar chegou a subir pontualmente à tarde. O dólar à vista avançou até R$ 3,4978 (+0,51%). Já o contrato futuro para julho entrou em leilão, pelo fato de ter oscilado bruscamente 1,21 ponto porcentual, passando de uma queda de 0,66%, a R$ 3,4729, para o lado positivo e até uma máxima, alta de 0,54%, aos R$ 3,5150.

A alta momentânea resultou da informação de que o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado citou o presidente em exercício Michel Temer (PMDB) e outros 20 políticos em sua delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal. De acordo com Machado, 20 políticos teriam recebido propinas no esquema de corrupção na subsidiária da Petrobras e também o presidente em exercício Michel Temer teria pedido ao delator doações para a campanha de Gabriel Chalita (PMDB) à Prefeitura de São Paulo em 2012.

Segundo Sergio Machado, todos os políticos citados por ele “sabiam” do funcionamento do esquema de corrupção capitaneado por ele na estatal e “embora a palavra propina não fosse dita, esses políticos sabiam, ao procurarem o depoente, não obteriam dele doação com recursos do próprio, enquanto pessoa física, nem da Transpetro, e sim de empresas que tinham relacionamento contratual com a Transpetro”.

O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse que o presidente em exercício, Michel Temer, negou que tenha se encontrado com ex-presidente da Transpetro. "Não teve esse encontro", disse Padilha, por telefone, ao Estado. O ministro destacou que as declarações de Machado não se referem, a princípio, a nenhum tipo de crime. "A narrativa do Sérgio Machado não fala nem dá a entender qualquer tipo de ilegalidade", afirmou. Em nota, Gabriel Chalita disse que nunca pediu recursos ou auxílio a Sérgio Machado para campanha.

Publicidade

Na Câmara, o líder do PSOL, deputado Ivan Valente (SP), afirmou que o partido deverá protocolar um pedido para que a Procuradoria-Geral da República (PGR) investigue a citação do presidente em exercício, Michel Temer, feita por Sérgio Machado. Segundo Valente, é "bem possível" que a legenda também protocole um novo pedido de impeachment do peemedebista com base nessa citação.

Para um profissional de câmbio, houve uma reação instintiva e exagerada à notícia, com rápida busca por proteção no dólar, mas por se tratar apenas, por enquanto, de uma citação a Michel Temer, o câmbio voltou a se ajustar em baixa, com a decisão do Fed no radar.

A mínima do dólar à vista, de R$ 3,4465 (-0,96%) foi registrada no começo da tarde, em meio à entrevista do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, sobre a PEC do teto de gastos, apresentada no Palácio do Planalto aos líderes do Congresso.

Bolsa. A quarta-feira movimentada trouxe volatilidade à Bovespa, que alternou altas e baixas e terminou o dia com ganho leve, de 0,55%, aos 48.914,74 pontos. O cenário político voltou a trazer alguma preocupação aos investidores, mas o principal foco de atenções foi a decisão de política monetária do Fed e a fala "dovish" de Janet Yellen. A Bolsa brasileira movimentou R$ 15,364 bilhões, inflados pelos R$ 3,774 bilhões do exercício de opções sobre o Ibovespa, cujo ajuste ficou em 48.890 pontos. 

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

O discurso suave da presidente do Fed teve efeito positivo, mas limitado nos mercados de renda variável. A Bovespa acelerou os ganhos, mas esbarrou na virada das bolsas americanas para o terreno negativo, no final dos negócios. A alta do Ibovespa foi sustentada principalmente pelas ações dos setores de mineração, siderurgia, metalurgia e petróleo, que recuperaram parte das perdas recentes, mesmo em meio à queda das commodities. Petrobrás ON e PN avançaram 1,53% e 2,53%, respectivamente. Vale ON (+2,53%) e Vale PNA (+3,22%) também se destacaram. 

Usiminas PNA disparou 22,75% e foi de longe a maior alta do Ibovespa. O papel reagiu ao anúncio da assinatura de termos para renegociação de suas dívidas com bancos e debenturistas. A valorização de Usiminas e a recuperação de pares no exterior também deram forças a outros papéis do setor, como Metalúrgica Gerdau PN (+5,73%) e CSN ON (+5,55%).

O cenário político doméstico foi forte fator de volatilidade para o mercado de ações, mas teve efeito bastante pontual. Notícia sobre a homologação da delação premiada de Sergio Machado, incluindo o nome do presidente em exercício Michel Temer, chegou a derrubar a Bovespa para o terreno negativo após as 14h. 

Publicidade

O Ibovespa chegou a tocar a mínima de 48.324 pontos (-0,67%), até que os investidores assimilaram que a notícia não continha novidades em relação ao que já havia sido revelado em gravações. Segundo a denúncia, Temer teria pedido dinheiro de esquema de corrupção para a campanha de Gabriel Chalita à Prefeitura de São Paulo em 2012.

Com o resultado de hoje, o Ibovespa passa a contabilizar alta de 0,92% em junho e de 12,84% em 2016.