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Conheça as perspectivas para a semana

Veja a análise elaborada pela equipe de economistas do banco Santander Banespa sobre a semana passada e as análises sobre as perspectivas para o cenário político, econômico e financeiro para a semana de 22 a 26 de maio.

Por Agencia Estado
Atualização:

Política Se o candidato do PSDB à presidência, Geraldo Alckmin, coloca todas suas fichas na TV para aumentar seus índices de intenção de voto, então não será nessa semana que a situação irá melhorar para o seu lado. Pelo contrário. À grande exposição do presidente Lula na mídia se somarão dois programas do PT: um na segunda-feira em rede estadual, e outro dia 25 (quinta) em cadeia nacional. Já o PSDB, terá sua chance no dia 29, nos estados, e em cadeia nacional apenas no dia 22 de junho, dividindo atenções com a Copa do Mundo. Pode ser até que se reduza a tensão na campanha do oposicionista Alckmin, após a definição do pernambucano José Jorge (PFL) para a vaga de candidato a vice-presidente. Isso porque elimina não apenas os conflitos envolvidos na escolha, como descabidas especulações de que o PFL poderia desistir da aliança em função do fraco desempenho do candidato peessedebista nas pesquisas. Continuamos achando que o quadro eleitoral deve permanecer praticamente inalterado até princípios de julho. O espaço do PSDB na TV ocorrerá em um momento em que as atenções da população estarão voltadas para o futebol. Apenas no segundo semestre é que a campanha começa para valer. Em Brasília os principais eventos deverão ser: 1) votação pelo Senado da MP 281, que isenta investidores estrangeiros de IR em aplicações em renda fixa, 2) provável depoimento de Delúbio Soares à CPI dos Bingos, e 3) debate sobre a convocação ou não de Daniel Dantas para a depor (pouco provável). Nada muito emocionante. Atividade As estatísticas de mercado de trabalho de abril serão conhecidas na segunda-feira, quando o IBGE divulgará a Pesquisa Mensal de Emprego (PME). Nossa projeção é de que a taxa de desemprego tenha sofrido tímido recuo, passando de 10,4% em março para 10,2% em abril. A alta da taxa de desemprego dos últimos três meses foi superior à sazonalmente esperada. Na verdade, a taxa de desemprego dessazonalizada de março ficou em patamar próximo ao do mês anterior, depois de duas altas consecutivas, de cerca de 0,6 ponto porcentual, o que não significa necessariamente um alívio. Com exceção dos dados de rendimento, o mercado de trabalho teve um fraco desempenho em março. A PEA recuou 0,3% frente a fevereiro de 2006, resultado de uma contração de 0,2% do número de ocupados e de 2,4% dos desocupados (ambos em termos dessazonalizados na mesma comparação acima). Anualizado o resultado (dessazonalizado) do 1º trimetre de 2006, a ocupação cresce apenas 0,9% em 2006 (ante 3% de 2005), a desocupação sobe 28% (ante queda de 13,4% de 2005), resultado do bom comportamento da economia que tem levado um maior número de pessoas a ingressar no mercado de trabalho nos últimos meses. A renda real avançou 1,0% no 1T06 anualizado ante 2,0% em 2005. Como acreditamos em avanço mais forte da economia em 2006, de 4,1%, entretanto, o pé no freio no mercado de trabalho neste início de ano não preocupa, e deve ser pontual. A combinação de flexibilização de política monetária e perspectiva de alta adicional de crescimento característica de anos eleitorais devem garantir um bom crescimento econômico com reflexos também positivos para os dados de mercado de trabalho. Crédito O Banco Central divulgará na Nota para Imprensa de política monetária as informações de crédito de abril na terça-feira. No primeiro trimestre o comportamento do crédito foi bom, apesar do crescimento do estoque ter sido inferior ao observado nos primeiro trimestre de 2005 e últimos três meses de 2004. É natural que depois de dois anos de forte crescimento, o ritmo de empréstimos apresente desaceleração. De qualquer forma, o ambiente para o mercado de crédito é bom. A queda da taxa Selic (hoje em 15,75% ao ano, esperada para encerrar o ano em 14,5% ao ano ) será um fator importante para contribuir para o crescimento do mercado, com aumento (ainda que mais moderado) dos volumes, queda das taxas e spreads e alongamento de prazos de financiamento. Além disso, o crescimento da massa salarial (em 12 meses acumula alta de 5%) tem ajudado a sustentar a demanda. Inflação O IPCA-15 de maio deve registrar inflação ligeiramente acima da observada em abril (0,17%), mas bastante abaixo do resultado do mesmo período do ano passado, quando ficou em 0,83%. Nossa estimativa é de que fique ao redor de 0,23%. O movimento deverá ser parecido ao do mês passado, quando o IPCA ficou em 0,21%. Os preços dos alimentos devem continuar mostrando variações negativas, porém, com menor intensidade. Outros indicadores de inflação ao consumidor (Fipe e IPC-S), já sinalizaram esta tendência. As medidas de núcleo devem permanecer estáveis. Projetamos variação de 0,4% para o núcleo por médias aparadas com suavização (ante 0,41% do resultado de abril) e 0,23% para o núcleo por exclusão (ante 0,22%). Além disso, esta semana será publicado também o IPC da Fipe referente a terceira quadrissemana e o IGP-M do segundo decêndio. Projetamos variação de 0,11% e 0,4%, respectivamente. Os preços no atacado ficarão mais pressionados este mês por conta de dois motivos: reajuste no preço do minério de ferro e pressão dos preços agrícolas. Essa alta, no entanto, deverá ser logo repassada também ao consumidor, por isso devemos observar números mais elevados no final do mês tanto no IPCA quanto no IPC da Fipe. Continuamos acreditando que, apesar da sinalização de alta da margem o cenário de inflação para o ano é confortável. E, os movimentos recentes constituem apenas mais um motivo para se esperar que o Banco Central reduza a velocidade de queda da taxa Selic na próxima reunião do Copom. Resultado Fiscal Na semana passada, o resultado da arrecadação de abril totalizou R$ 34,9 bilhões, a segunda maior da história, mais de R$ 5 bilhões superior à registrada no mês anterior. O bom desempenho decorreu tanto de fatores sazonais (recolhimento de imposto de renda em abril, principalmente de bancos), quanto de royalties referentes à extração de petróleo. Com esse resultado a projeção de resultado primário para o governo central subiu de R$ 9,3 bilhões em abril, para R$ 13,3 bilhões, com o consolidado do setor público (que inclui estados, municípios e estatais) devendo chegar a R$ 14, 4 bilhões. O ritmo da atividade econômica em recuperação deve continuar contribuindo para o crescimento das receitas neste ano, mas em ritmo menor que no ano passado (veja tabela). E mesmo que haja aumento dos gastos públicos, comum em ano eleitoral, a política de superávit primário elevado (compatível com a redução da relação dívida líquida do setor público / PIB) ainda poderá ser mantida em 2006. Mas o governo precisará trabalhar para isso. A meta do governo federal (governo central + estatais federais) para o primeiro quadrimestre deste ano é de R$ 28,7 bilhões, sendo que, até março, o resultado atingido foi de R$ 13,9 bilhões. Faltam, portanto, R$ 14,8 bilhões para atingir a meta. De acordo com nossas estimativas, governo central + federais estatais irão fazer cerca de R$ 26,5 bilhões até abril, o que significa uma falta de R$ 2,2 bilhões. Não deve ser visto como surpresa, no entanto, se um esforço extraordinário for realizado (postergação de despesas ou investimentos de estatais federais, artifícios contábeis em geral) e a meta cumprida. É factível, apesar de difícil o cumprimento da meta no quadrimestre. Caso nossa projeção para o resultado consolidado se confirme, o superávit primário em 12 meses totalizaria R$ 84,9 bilhões ou 4,26% do PIB, abaixo do observado em abril do ano passado (5,08% do PIB). Já a dívida líquida deve subir de 50,7% para 51,1% na mesma comparação. Internacional O ambiente da economia americana continua propício à volatilidade nos mercados. Os últimos dados divulgados, embora de certa forma, confirmem um início do desaquecimento da atividade econômica, mostraram que a inflação continua subindo e inspirando preocupação. Como já colocamos neste espaço há algumas semanas, a situação do Fed não é nada confortável, já que ressuscita, entre alguns analistas mais catastróficos, uma palavra temerosa e que há muito, nos Estados Unidos, estava limitada aos livros de história: estagflação. Embora não concordemos com essa avaliação extremamente pessimista, cabe entender os motivos que levam a ela. Na última semana, dois indicadores surpreenderam: na Terça, o número de construção de novas residências (Housing Starts) de abril mostrou uma acentuada queda de 7,4% contra o mês anterior, contra uma variação esperada de apenas -0,5%. O alívio durou pouco, já que no dia seguinte a medida de núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI) registrou inflação mensal acima do esperado (0,3% contra 0,2%) - o que levou a inflação acumulada em 12 meses, por essa medida, a níveis não vistos desde 2002, se desconsiderarmos as medidas do início do ano passado, ainda influenciadas pelos efeitos do furacão Katrina. O comportamento do mercado dos Treasuries, que vem numa gangorra ao sabor dos dados divulgados, dá a entender que os agentes não terão paciência para esperar o desaquecimento se confirmar enquanto a inflação corrente continuar alta. Isso coloca o FOMC ao dilema já explorado por nós: confiar nos lags de política monetária e esperar por um arrefecimento nos preços sem levar os Fed Funds acima de 5% ou agir cautelosamente e subir mais os juros. Por enquanto, a segunda opção parece ser a mais plausível; no entanto, ainda temos mais de um mês para a próxima reunião do FOMC (no final de Junho), e os dados divulgados até lá podem facilmente mudar essa avaliação. Para esta semana, os dados a serem observados são: Quarta, nos EUA: encomendas de bens duráveis e venda de novas residências; Quinta: PIB e as vendas de residências antigas nos EUA e o CPI no Japão; Sexta: a medida de inflação mais importante dos EUA, o deflator do PCE. Na semana que passou, além dos desenvolvimentos nos EUA citados acima, é importante destacar que o Banco do Japão, conforme esperado, manteve inalterada em 0% a taxa de redesconto. Câmbio e Renda Fixa Os mercados locais descolam dos fundamentos. As incertezas com a inflação e a taxa de juros americana têm feito com que os níveis dos mercados locais deixem de corresponder aos fundamentos. Isso se dá por uma diminuição expressiva, nas últimas semanas, no apetite a risco por parte dos investidores. É evidente a correlação entre o salto no índice VIX (uma medida comum de aversão a risco, que mede a volatilidade das ações que fazem parte do S&P 500) e o aumento (mais de 30 bps) no EMBI +. Boa parte dos investidores estrangeiros enxerga os mercados emergentes como uma só classe de ativos, não importando se entre eles estão economias com diferenças gritantes, como, por exemplo, Indonésia, Argentina e Brasil. Em um momento de stress, todos são considerados ativos de risco e são igualmente vendidos. No caso do Brasil, como os fundamentos seguem inalterados (e bastante positivos, tanto para câmbio quanto juros), acreditamos que, desde que o desfecho da situação dos EUA não seja muito pior do que o esperado, os preços devem se recuperar e, portanto, os níveis atuais oferecem prêmios bastante atrativos. Porém, dada a volatilidade observada nas últimas semanas, é difícil escapar da máxima de Keynes: "Os mercados podem permanecer irracionais por mais tempo do que você pode permanecer solvente". Mais ainda quando consideramos que a próxima reunião do Fed ocorrerá apenas no final de junho, e, até lá, muito provavelmente, os mercados locais estarão à mercê do movimento das Treasuries americanos sendo este movimento intimamente ligado à figura a ser pintada pelo grande volume de dados da economia americana a ser divulgado nesse período. Como não há nenhuma garantia de que esses dados venham a corroborar a tese de economia desaquecendo / inflação controlada, muita cautela é recomendável. Nesse sentido, para o mercado brasileiro, preferimos concentrar o posicionamento em ativos líquidos (contratos de DI de um dia negociados na BM&F com vencimento em janeiro de 2008), evitando NTN-Fs e NTN-Bs mais longas) e naqueles ligados a fundamentos com menor chance de se deteriorarem (DI Jan 07, por exemplo, já que, considerando a inflação corrente e as perspectivas para a inflação no curto prazo, acreditamos ser baixa a chance de a Selic chegar ao fim do ano em um nível maior do que os 14,5% de nossa projeção). Ações Contrariando nossas expectativas, a semana passada foi negativa para a Bolsa de Valores de São Paulo. Após atingir a sua máxima histórica no fechamento do dia 9 de maio, o Ibovespa registrou grande desvalorização, motivada pelas incertezas em relação à economia norte-americana. A divulgação, na quarta-feira, do índice de preços ao consumidor, que veio acima do esperado, aumentou a expectativa de que o Fed manterá o ritmo de aperto monetário, gerando grande stress no mercado em Wall Street e, conseqüentemente, no mercado doméstico. Aliado a isso, o fluxo de investidores estrangeiros, que estava positivo até o início da semana passada, passou a acumular saldo negativo de R$ 53 milhões em maio. Para esta semana, acreditamos que as ações das empresas brasileiras devem sofrer menos dada a forte queda observada na semana anterior. Com relação às empresas, a temporada de resultados do primeiro trimestre encerrou-se na semana passada. A surpresa positiva ficou por conta do setor de Energia, com destaque para Tractebel. Em comparação com nossas estimativas, Tractebel apresentou lucro líquido 57% maior e margem Ebitda de 347 pontos base. Já Eletrobrás, embora tenha reportado lucro maior que o esperado, apresentou baixa performance operacional, o que confirma nossa visão negativa para a empresa. Em nosso universo de cobertura, a margem Ebitda atingida pelas empresas no primeiro trimestre de 2006 foi de 154 pontos base acima de nossas estimativas. Desta forma, acreditamos que o saldo da temporada de resultados foi positivo para o mercado acionário brasileiro. Dólar/Real O dólar não bateu nosso objetivo de R$2,04, mas chegou muito próximo (atingiu a mínima de R$2,05 no dia 10/05). Trabalhamos com a hipótese de que já teríamos terminado o movimento de queda. Dada a força com que a moeda voltou a subir, a probabilidade de reversão de tendência parece mesmo, graficamente, o mais provável (acreditamos que os fundamentos devam levar o câmbio de volta ao patamar de R$ 2,10). No curto prazo o movimento parece esticado, pedindo uma correção antes de novas altas. Um bom range de oscilação para a moeda seria entre o suporte de R$ 2,14 e a resistência de R$ 2,25. Ibovespa A semana foi marcada por forte realização, movimento que começou depois que o Ibovespa atingiu a marca de 42.000 no dia 11. O rompimento de suportes importantes (39.600 e 38.200) deixou a figura bem negativa, sinalizando que estamos dentro de um movimento de queda mais acentuado do que a princípio imaginado. No curto prazo, entretanto, os indicadores começam a apresentar sinais de divergência altista, pedindo uma correção. Esperamos, portanto, por movimentos de recuperação de preços, porém nada muito significativo, seguido novamente por novas quedas.

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