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Com ajuda do exterior, dólar cai 0,2% e Bolsa sobe 0,4%; Ibovespa fecha semana em queda

Moeda cedeu a nível global nesta sexta-feira, após índice de confiança do consumidor dos Estados Unidos de agosto vir muito abaixo do esperado; índice encerra semana com baixa de 1,3%

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Por Redação
Atualização:

Apoiado no exterior positivo e no forte recuo da confiança do consumidor dos Estados Unidos, o mercado brasileiro conseguiu corrigir parte das perdas recentes nesta sexta-feira, 13. Após uma sessão volátil, a Bolsa brasileira (B3) conseguiu virar para o positivo e terminou o dia com alta de 0,41%, aos 121.193,75 pontos - mas cedeu 1,32% na semana. No câmbio, o recuo do dólar no exterior ajudou o real, com a moeda americana fechando em queda de 0,21%, cotada a R$ 5,2451.

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Nas primeiras horas do negócio, o dólar até ensaiou uma nova rodada de alta, em meio à percepção crescente de aumento do risco fiscal doméstico, mas acabou cedendo ainda pela manhã, com investidores aproveitando a maré externa para realizar lucros e ajustar posições. 

Na mínima, a moda bateu em R$ 5,2211. Apesar de tanto vaivém ao longo dos últimos dias, o dólar à vista, que chegou a encostar em R$ 5,30, encerra a semana com variação reduzida, em alta de 0,17%. Em agosto, avança 0,68%. Isso reforça a percepção de que há certa rigidez na taxa de câmbio, com o risco fiscal impedindo que o real se beneficie da perspectiva de aperto monetário maior e mais prolongado.

Lá fora, o índice DXY - que mede a variação do dólar frente a seis moedas fortes - operou em queda firme durante à tarde, abaixo da linha dos 93 mil. A moeda americana também recuou, com raras exceções, em relação a divisas de países emergentes e exportadores de commodities. O dólar para setembro cedeu 0,04%, a R$ 5,2630.

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Werther Santana/ Estadão

O dólar já fraquejava lá fora no início dos negócios e afundou com a divulgação do índice do sentimento do consumidor nos EUA, da Universidade de Michigan: queda de 81,2 em julho para 70,2 na preliminar de agosto, bem abaixo das previsões (81,3). Analistas atribuíram o resultado a preocupações com inflação e avanço da variante Delta da covid, cujo impacto econômico ainda não é mensurável.

"A forte queda nos dados de confiança nos Estados Unidos acabou enfraquecendo a moeda americana diante dos emergentes. Tivemos um reflexo no mercado local, com a cotação do dólar mostrando certo alívio", afirma a economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli. "Mas as questões políticas e fiscais permanecem no radar. E podemos esperar mais volatilidade no mercado".

Declarações da área econômica do governon ficaram no radar do mercado hoje. Bruno Funchal, presidente do Tesouro, resumiu hoje, ao participar de uma live, o "dilema" do governo, que tenta conciliar pagamento dos precatórios com o desejo presidencial de aumento do Bolsa Família. Haverá espaço fiscal para reajuste do programa social apenas em caso de aprovação da PEC dos Precatórios (premissa que será levada em conta na elaboração da lei orçamentária).

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Se a proposta for rejeitada pelos parlamentares, o Bolsa Família ficaria como está. Em cerimônia para entrega de moradias populares em Cariri (CE), Jair Bolsonaro voltou prometer reajuste de, pelo menos, 50% no Bolsa Família (rebatizado de Auxílio Brasil) a partir de novembro, data em que acabam os pagamento do auxílio emergencial por conta da pandemia.

Em entrevista a uma rádio, o ministro da Economia, Paulo Guedes classificou o aumento no valor dos precatórios de assustador e disse que o parcelamento é o único meio de executar o orçamento. "Preferiam que eu rompesse o teto [de gastos]", indagou Guedes, argumentado que o parcelamento está previsto na jurisprudência, embora a maioria dos analistas veja o expediente com um calote velado.

Guedes também defendeu a reforma do Imposto de Renda, cuja votação na Câmara foi reprogramada para terça-feira, 17, pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), após acordo com lideranças partidárias. As preocupações com o orçamento de 2022 e as expectativas para a condução da reforma do IR devem continuar a ditar o rumo dos negócios na próxima semana.

Não bastasse todo o estresse fiscal, a crise política parece não dar trégua, com embates crescentes entre Bolsonaro e os demais Poderes. O novo episódio foi a prisão, nesta sexta-feira do presidente do PTB e aliado de Bolsonaro, Roberto Jefferson, ordenada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes

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O estrategista-chefe do Grupo Laatus, Jefferson Laatus, ressalta que um sinal claro dos problemas domésticos é o fato de o dólar por aqui ter operado descolado do cenário externo pela manhã. "Isso demonstra que a preocupação com a política fiscal é gigantesca. A curva de juros não para de subir, com taxas longas já acima de 10%. Os investidores estão muito estressados com o Brasil", afirma.

Bolsa

Pouco distante do zero a zero em boa parte da sessão, o Ibovespa esboçou reação à tarde sem conseguir levá-la muito adiante no fechamento desta sexta-feira. Na semana, o índice da B3 acumulou perda de 1,32%, vindo de ganho de 0,83% na anterior. Assim, nesta primeira quinzena do mês, teve baixa de 0,50%, restringindo o avanço do ano a apenas 1,83%. O ganho foi apoiado no mercado de Nova York, que também virou para o positivo no final do pregão e fechou com novo recorde.

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"O mundo inteiro está uma festa e a gente está feliz porque sobrou uma cerveja quente", diz Rodrigo Knudsen, gestor da Vitreo, chamando atenção para o fato de que, mesmo dados domésticos favoráveis, como a leitura de hoje sobre o IBC-Br, e resultados corporativos positivos ou não exatamente decepcionantes, não têm sido o suficiente para vencer a "anemia" que tem prevalecido na B3, que segue desconectada do humor externo.

"Não saímos do lugar nessas últimas duas semanas. As questões continuam as mesmas, não desenrolam, o que acaba se resumindo naquela expressão velha conhecida: Risco Brasil", acrescenta o gestor, ressalvando que, apesar dos ruídos políticos, econômicos e fiscais que contaminam o horizonte imediato, a perspectiva de médio e longo prazo é positiva. "Há descontos, as empresas têm apresentado bons números, mas, mesmo assim, estamos ficando para trás quando se considera o momento externo. Isso se reflete também nos IPOs, que não estão se saindo tão bem, quando acontecem, A gente vai perdendo tempo: todo mundo sabe que, a partir de março, não se falará em outra coisa que não seja eleição."

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"Para a próxima semana, esperamos que o mercado tome algum grau de racionalidade, dê uma acalmada e volte a olhar para fundamento. O lado ruim é que esta semana, que foi tranquila lá fora, aqui dentro foi conturbada. Se por acaso lá fora vier a ser uma semana ruim, a gente tende a ter outra assim também, emendando duas (semanas negativas)", diz Pedro Lang, head de renda variável da Valor Investimentos.

Entre as ações, Lojas Americanas fechou hoje em baixa de 9,13% e Via Varejo, de 6,38%. No lado oposto, CPFL subiu 8,28%, Embraer, 7,28% e Hering, 5,40%. Entre as ações de maior peso, destaque para alta de Petrobras ON, de 1,56%, e da PN, de 0,86%. A maior parte dos bancos subiram, com exceção de Banco do Brasil ON, em baixa de 0,81%. Vale ON fechou em baixa de 0,82%, em dia negativo também para a siderurgia, em especial CSN ON, com queda de 2,32% e Usiminas PNA, de 2,62%. /ANTONIO PEREZ, LUÍS EDUARDO LEAL E MAIARA SANTIAGO

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