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Bolsa aproveita esfriamento do cenário político e sobe 1,85%; dólar cai a R$ 5,22

Nem mesmo o desempenho fraco do mercado de Nova York conseguiu derrubar os ganhos do Ibovespa; no entanto, apesar da calma em Brasília, cenário econômico ainda preocupa

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Por Redação
Atualização:

Mesmo com desempenho fraco na maior parte da sessão em Nova York, a Bolsa brasileira (B3) chega ao fim desta segunda-feira, 13, em alta de 1,85%, aos 116.403,72 pontos, buscando deixar para trás a tumultuada semana anterior, que só terminou de fato ontem, com protestos da oposição pedindo a saída do presidente Jair Bolsonaro, relativamente esvaziados quando comparados ao que se viu no 7 de setembro. No câmbio, o dólar caiu 0,83%, a R$ 5,2236.

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A divisão do grito contrário, em uma semana na qual o próprio presidente deu passo atrás, em declaração à nação na qual tentou reconstruir ponte com o Supremo Tribunal Federal (STF), via Michel Temer, contribui para reduzir a fervura política que vinha penalizando os ativos brasileiros. Na máxima, o Ibovespa chegou a testar os 117 mil pontos. O índice ainda acumula perda de 2% no mês, cedendo 2,20% no ano.

Eventual substituto de Bolsonaro, o vice-presidente, Hamilton Mourão, rebateu hoje à tarde informações de que tem uma "agenda paralela" e disse que "não aceita" conversas sobre o impeachment. Instigado a falar sobre a relação entre os Poderes, Mourão afirmou que o presidente, com a divulgação da "carta à Nação", busca uma "reaproximação com o STF" e que o país começa a semana "com pauta positiva e muita coisa a ser tratada no Congresso".

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Gustavo Scatena/B3 - 21/10/2020

Apesar de algum esfriamento da política nesses últimos dias, a deterioração da perspectiva econômica - no câmbio, nos juros, na expectativa para inflação e crescimento - continua a se refletir semanalmente nas projeções compiladas pelo Banco Central junto ao mercado.

Hoje, "o Boletim Focus trouxe mais ajustes em relação a alguns pontos muito importantes, como a inflação, com o IPCA, pela 23ª semana consecutiva em elevação, precificado pelo mercado para o fechamento de 2021 a 8% - pela oitava semana, com expectativa elevada também para 2022, agora a 4,03%. E com diminuição da projeção de PIB, pela quinta semana, para 5,04% (em 2021), vindo de 5,15% na semana anterior e de 5,28%, há um mês", observa Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.

Em Wall Street, após Dow Jones e S&P 500 acumularem perdas nas cinco sessões anteriores, o dia vinha misto, com variações acomodadas nas duas direções, inclusive para o Nasdaq (em baixa de 0,07% no fechamento). Ao final, Dow Jones e S&P 500 conseguiram se firmar em alta. "Todos já vinham perguntando em que momento haveria a realização dos mercados nos EUA, dado que estavam numa sequência forte de alta, anteriormente. Será que chegou esse momento? Ainda não podemos afirmar", diz Pietra Guerra, analista da Clear Corretora.

Assim, enquanto se espera na próxima semana, ao final das reuniões do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) nos dias 21 e 22, novos sinais sobre a calibragem de estímulos monetários na maior economia do mundo, nos mesmos dias o Comitê de Política Monetária do BC estará reunido para deliberar sobre a Selic, em meio a constantes revisões dos agentes sobre a economia, em 2021 como em 2022. Até lá, na ausência de catalisadores mais fortes, a tendência é de que o mercado mostre certa acomodação nos próximos dias, em semana que reserva algumas boas referências, como o IBC-Br, considerado prévia para o PIB - e nos Estados Unidos, amanhã, a inflação ao consumidor.

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Nesta segunda-feira, à exceção de Vale ON, em queda de 0,05% e CSN ON, de 0,41%, prevaleceu a recuperação nas empresas e setores de maior liquidez e peso no índice, considerados porta de entrada (e saída) dos investidores externos e, não por acaso, entre os mais penalizados recentemente pela elevação da temperatura política, que resultou em temores sobre o risco de ruptura institucional reportados também pela imprensa estrangeira.

Dessa forma, em dia moderadamente positivo para as cotações do petróleo, Petrobras ON e PN fecharam respectivamente em alta de 3,11% e 3,51%, enquanto as ações de grandes bancos tiveram ganhos entre 0,87% para Santander e de 2,21% para Banco do Brasil ON na sessão.

Câmbio

Com agenda esvaziada e sem novos sinais de tensão vindos do governo, o mercado de câmbio doméstico trabalhou em ritmo lento nesta segunda, acompanhando o tom positivo dos demais ativos domésticos. Em queda desde a abertura dos negócios, o dólar à vista oscilou menos de quatro centavos entre a mínima, de R$ 5,2015, no início da tarde (em sintonia com o auge da valorização do Ibovespa), a máxima, de R$ 5,2411, registrada logo após a abertura. No mês, a moeda acumula valorização de 1%. O dólar para outubro fecha em queda de 0,65%, a R$ 5,2340.

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Na avaliação do economista-chefe da Integral Group, Daniel Miraglia, os ativos domésticos, mais a Bolsa que o câmbio, passaram hoje por um "movimento natural" de correção, em razão da diminuição das tensões políticas. "O mercado já começa a colocar no preço uma costura mais adequada com o STF para a questão dos precatórios, que é favorecida por esse ambiente político mais calmo. Mas o cenário continua ainda bem desafiador", afirma Miraglia, chamando a atenção para o debate em torno do Orçamento e o potencial impacto negativo de um avanço da reforma do Imposto de Renda no Senado.

O especialista em câmbio da Valor Investimentos, Zeller Bernardino, ressalta que houve uma elevação da mediana agregada das projeções para a taxa de câmbio no fim deste ano, de R$ 5,17 para R$ 5,20, no Boletim Focus. "Apesar do alívio de hoje, os investidores seguem de olho nas tensões políticas em Brasília, sobretudo na questão fiscal e na inflação", afirma. /LUÍS EDUARDO LEAL, ALTAMIRO SILVA JÚNIOR E MAIARA SANTIAGO

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