Dólar avança a R$ 5,70 e Bolsas sobem após Fed sinalizar um aperto maior nos estímulos

Banco central americano anunciou na tarde desta quarta que vai aumentar o ritmo de aperto no programa de compra de ativos e subir os juros já em 2022, em resposta ao avanço da inflação nos EUA

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Por Redação
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Em decisão já esperada pelo mercado, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) anunciou nesta quarta-feira, 15, um aperto maior na redução do programa de compra de ativos e antecipou a elevação dos juros no ano que vem. Em resposta, o dólar terminou o dia em alta de 0,25%, cotado a R$ 5,7080. Já o mercado de Nova York virou para o positivo, apoiando a Bolsa brasileira (B3), que avançou 0,63%, aos 107.431,18 pontos.

Na reunião, os dirigentes optaram por reduzir de US$ 20 bilhões para US$ 30 bilhões ao mês o programa de compra de ativos, movimento que já era esperado pelo mercado financeiro. A decisão do Fed em apertar os estímulos é uma resposta ao avanço da inflação nos Estados Unidos, conforme mostraram os índices recentes de preços ao consumidor e produtor de novembro.

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Sobre os juros, o Fed prevê três alterações da taxa em 2022, com a maior parte dos dirigentes projetando algo entre 0,75% e 1%. Na reunião de hoje, o BC americano manteve os juros entre 0% e 0,25%, menor patamar da história dos EUA. Em relação ao momento em que se dará o início do processo de alta das taxas, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que não espera ter de subir os juros antes do fim do tapering, em março. Mas deixou claro que é necessário elevar as taxas antes de atingir o pleno emprego e que os reajustes podem mudar se o Produto Interno Bruto (PIB) se enfraquecer.

Federal Reserve, o banco central americano; mercados globais observam atentamente às decisões de política monetária do Fed Foto: Samuel Corum/ Bloomberg

Com os sinais trocados, o investidor oscilou entre o positivo e o negativo, ora sob o receio dos efeitos que o tapering e a alta dos juros podem ter sobre os investimentos em países emergentes, ora respondendo ao ânimo nas Bolsas americanas. Ainda que o tom seja mais otimista sobre a recuperação da economia dos EUA, a sinalização de Powell de que o Fed pode pôr o pé no freio no aperto monetário se a atividade esfriar muito agradou o mercado.

Em Nova York, após a reunião, o Dow Jones fechou em forte alta de 1,08%, o S&P 500, de 1,63% e o Nasdaq, de 2,15% às 16h20. Por aqui, o Ibovespa também foi favorecido e passou a subir, após cair mais de 1%, aos 105 mil pontos pela manhã. Com a alta de hoje, o índice quase zera a alta na semana e recua 0,30%. No ano, avança 5,41%.

"Os Estados Unidos estão nessa posição de ter uma economia crescendo e possibilitando você subir juros, ao contrário de outras regiões fortes, como a Europa", explica Gustavo Cruz, economista e estrategista da RB Investimentos.

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Contudo, os investidores sabem que, ao reduzir os estímulos nos EUA, o banco central americano enxuga liquidez no mundo. E, ao subir os juros, pode causar uma fuga de capital de locais com maior risco, em países emergentes, para investimentos mais seguros no país americano - o que explica também a valorização do dólar nesta quarta.

"O recado do Fed é: vou diminuir minha liquidez e o mundo inteiro vai ter de ajustar isso em 2022. E ao mesmo tempo vou subir juros", aponta Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos, completando: "O Fed criou (com o programa de estímulo) um fluxo de liquidez que foi para a Bolsa americana e emergentes. Quando tem a diminuição desse programa, então não teremos mais US$ 1,5 trilhão no ano que vem de liquidez no mercado. Vou ter dólar mais forte e menos dinheiro rodando na economia, menos dinheiro de risco".

Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, o Fed mostrou calma, o que é importante. "Implicitamente, o Fed sinalizou que vai dar suporte e liquidez ao mercado se for preciso, enquanto espera que a inflação desacelere. Isso animou as Bolsas e tirou um pouco de força do dólar no exterior", disse, ressaltando que a estratégia do BC americano é mais arriscada, já que a inflação pode não dar trégua tão cedo. "O Fed pode ter que mudar a comunicação no primeiro trimestre, gerando um impacto negativo nos mercados"

Entre as ações, destaque para os papéis dos frigoríficos, beneficiados hoje pela retomada das importações de carne bovina desossada com menos de 30 meses do Brasil. Minerva teve alta de 11,19%, JBS de 2,44%, e BRF, de 1,09%. Já as commodities foram afetadas pelo temor ante a pandemia e Petrobras ON caiu 0,32%, enquanto Vale cedeu 0,57%.

Câmbio

O mercado doméstico de câmbio recebeu com uma boa dose de tranquilidade a já esperada decisão do Fed, acompanhada das projeções de integrantes do BC americano de três altas da taxa básica de juros em 2022. O tom mais duro da instituição foi temperado com a ponderação de que a execução desse plano de voo depende dos desdobramentos da pandemia, que pode assumir nova dinâmica com o espalhamento da variante Ômicron.

O dólar até ensaiou uma alta mais forte assim que o Fed divulgou seu comunicado, correndo até a máxima de R$ 5,7357, em sintonia com a aceleração da moeda americana no exterior. Logo em seguida, o movimento altista perdeu fôlego e o dólar voltou a ser negociado abaixo da linha de R$ 5,72. O dólar futuro para janeiro trocou de sinal após o fechamento do mercado à vista e encerrou cotado a R$ 5,7010, queda de 0,03%.

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Depois de um repique pontual na esteira da decisão do Fed, o índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana frente a seis moedas fortes - passou a operar em queda, em meio a declarações de Powell, em entrevista coletiva. As moedas emergentes ganharam fôlego, com o peso mexicano e o rand-sul-africano passando a exibir ganhos.

O real poderia ter apanhado ainda mais nesta quarta-feira não fosse a atuação do Banco Central, que abriu espaço até para uma queda pontual da moeda americana pela manhã. O BC vendeu hoje US$ 950 milhões em leilão à vista e promoveu a rolagem de US$ 750 milhões em contratos de swaps cambiais (equivalentes a venda de dólares no futuro) que vencem em fevereiro. /BÁRBARA NASCIMENTO, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO

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