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Bolsa cai 1,7% e fecha abaixo de 120 mil pontos, menor nível desde 5 de maio; dólar vai a R$ 5,28

Investidor já se prepara para a votação da reforma do Imposto de Renda, marcada para amanhã, e também monitora o exterior, com dados fracos da economia chinesa

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Por Redação
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Em dia de leitura frustrante sobre a economia chinesa - a que setores como mineração e siderurgia -, a Bolsa brasileira (B3) aprofundou o clima de realização de lucros visto na semana passada e fechou a segunda-feira, 17, com queda de 1,66%, aos 119.180,03 pontos, no menor nível intradia desde 5 de maio. No câmbio, o dólar subiu  0,68%, a R$ 5,2807.

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Na máxima do dia, alcançada na abertura, o Ibovespa tocou nos 121,1 mil pontos. No mês, o índice cede 2,15%, limitando os ganhos do ano a apenas 0,14%. Considerado um suporte importante, a linha de 120 mil pontos havia sido defendida com sucesso mesmo nos piores momentos das três sessões anteriores, quando prevalecia a percepção sobre o "risco Brasil", associado especialmente à gestão fiscal, em meio à formatação de novo programa social, de maior alcance, e a dúvidas sobre a versão final da reforma do Imposto de Renda, cuja votação na Câmara foi adiada para amanhã.

O pedido do presidente Jair Bolsonaro por impeachment dos ministros Luis Roberto Barroso e Alexandre Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), é acompanhado também com atenção pelo mercado, em meio à turbulenta relação entre Executivo e Judiciário.

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Werther Santana/Estadão - 18/06/2021

"Não duvidaria de uma correção até os 117 mil pontos. Hoje, Vale ON, em alta de 0,46%, acabou ajudando à tarde, virando do negativo para o positivo, o que contribuiu um pouco para segurar o índice, muito pressionado por dados chineses bem abaixo do consenso, especialmente a produção industrial. Além dos dados chineses, a covid-19 volta a preocupar por lá, e também nos Estados Unidos, com tensão geopolítica emergindo após a retirada americana do Afeganistão", diz Rodrigo Friedrich, chefe de renda variável da Renova Invest, escritório ligado ao BTG Pactual.

No exterior, "os mercados de ações têm apresentado um bom desempenho nas últimas semanas e a retração desta segunda-feira provavelmente tem muito a ver com isso", observa em nota Craig Erlam, analista de mercado sênior da OANDA na Europa. "Houve alguns números econômicos ruins, começando com a leitura do índice de sentimento do consumidor (nos EUA), na sexta-feira, quando o movimento corretivo começou. Mas o mercado estava preparado para alguma realização de lucro e os investidores provavelmente estão aproveitando a oportunidade", acrescenta o analista, destacando também os dados chineses, que "vão alimentar a incerteza de curto prazo no país".

Em Nova York, Dow Jones e S&P 500 se firmaram em alta à tarde, e voltaram a renovar máximas históricas de fechamento, descolados da cautela externa. O crescimento econômico da China vai desacelerar este ano devido às enchentes do verão local e às medidas de restrições para conter o coronavírus, afirmou o porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas do país, Fu Linghui, após uma série de dados que apontaram para esfriamento da atividade.

Assim, nesta segunda-feira na B3, o desempenho das ações de siderurgia, com UsiminasGerdauCSN em baixas de 5,30%, 3,13% e 2,72% cada, refletiu evolução abaixo do esperado para a produção industrial na segunda maior economia do mundo, com desaceleração do setor de construção. Com o petróleo em queda, Petrobras ON e PN fecharam o dia respectivamente em baixa de 1,91% e 2,42%.

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"Começo de segunda quinzena de agosto no negativo, com os mercados da Europa vindo (assim como Nova York) de máximas. Destaque para o VIX (índice de volatilidade em Nova York) que subia 11,8% pela manhã. Bastante cautela ainda no nosso mercado, com dados da China bem abaixo do consenso, e agora tensão geopolítica no Afeganistão. É o começo de uma semana decisiva para pautas importantes, como a reforma do IR e o parcelamento de precatórios", diz Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos.

Dólar

A cautela com a cena fiscal doméstica, em meio à expectativa pela votação da reforma do Imposto de Renda, e o fortalecimento global da moeda americana falaram mais alto nos negócios no mercado de câmbio na tarde desta segunda, levando o dólar a encerrar o dia em alta firme, na casa de R$ 5,28. Pela manhã, a volatilidade tomou conta da taxa de câmbio, com o dólar alternando sinais. Logo após a abertura, a moeda americana aproximou-se do teto psicológico de R$ 5,30, ao registrar máxima a R$ 5,2962. Mas perdeu força rapidamente e passou a trabalhar em terreno negativo, descendo até a casa de R$ 5,22 na mínima (R$ 5,2262). 

Depois de andar de lado no início da tarde, o dólar ganhou força novamente, alinhando-se à alta da moeda americana em relação a divisas fortes e emergentes, em dia marcado por aversão ao risco. Indicadores econômicos fracos na China em meio ao avanço da variante Delta geraram temores de desaceleração da atividade global. Também pesou nos negócios a crescente tensão geopolítica no Afeganistão.

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Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar americana frente a seis moedas fortes - operava em alta, ao redor de 92,600 pontos (perto das máximas). O dólar também avançava frente à maioria das divisas emergentes, com alta mais pronunciada ante o peso colombiano e o rand sul-africano. Por aqui, a moeda para setembro subiu 0,12%, a R$ 5,2695.

Na avaliação do gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, o mercado segue muito na defensiva por causa dos ruídos políticos domésticos e da questão fiscal, com o temor de rompimento do teto de gastos. Isso impede a moeda brasileira de se recuperar, a despeito da expectativa de aperto monetário mais forte. "O clima interno é muito carregado e está impregnado na formação da taxa de câmbio, que não deve ter alívio no curto prazo", afirma Galhardo, que vê o dólar operando numa banda entre R$ 5,00 e R$ 5,30 nas próximas semanas. "Enquanto o Brasil não recuperar a credibilidade, com reformas, como a administrativa, e avanço das privatizações, vai ser difícil ver esse dólar cair." /LUÍS EDUARDO LEAL, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO

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