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Bolsa fecha no menor nível desde 8 de setembro com cenário fiscal e exterior; dólar sobe

Mercado aguarda com expectativa fim do impasse dos precatórios e da reforma administrativa, enquanto monitora cenário exterior conturbado, com risco de crise imobiliária na China

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Por Redação
Atualização:

Bolsa brasileira (B3) emendou a terceira perda seguida da semana, com o mercado atento à piora das projeções para a economia local, em meio ainda ao clima de tensão do exterior. Além disso, a indefinição de dois temas importantes - os precatórios e a reforma administrativa -, também mexeram com o humor do investidor. Nesta quinta-feira, 16, o Ibovespa caiu 1,10%, aos 113.794,28 pontos, no menor patamar desde 8 de setembro, enquanto no câmbio, o dólar subiu 0,53%, a R$ 5,2650.

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Assim, apesar do mercado de Nova York ter chegado a esboçar reação no fim da tarde, o Ibovespa fechou o dia com perda acumulada de 0,43% na semana, elevando as do mês a 4,20% - no ano, o índice cede agora 4,39%. Na mínima, ele caiu aos 113.394,67 pontos - menor nível intradia desde o dia 9 de setembro.

No cenário fiscal, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), disse que a discussão sobre o Auxílio Brasil e a origem dos recursos para bancar o programa deve se "afunilar" entre os meses de outubro e novembro, sendo "imperioso" que o debate aconteça até 31 de outubro. Lira defendeu que a matéria tramite sem nenhum sobressalto ou "invenção milagrosa". Pela manhã, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), afirmou que espera uma solução definitiva para os precatórios já na semana que vem.

Cenário doméstico tenso impede recuperação da Bolsa nesta quinta-feira. Foto: Werther Santana/Estadão

Nesse cenário, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara começou no final desta tarde a analisar o parecer da PEC enviada pelo governo e que prevê o pagamento parcelado dos precatórios com valores a partir de R$ 66 milhões. O tema interessa ao governo, pois a verba para conseguir bancar novas políticas sociais pode sair dessa decisão.

"Se o quadro político continuar tranquilo, a gente nem precisa de grandes reformas. Ajeitando essa questão dos precatórios, a volatilidade tende a continuar baixa e o real pode se valorizar", afirma o head de Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weig.

A reforma administrativa foi acompanhada de perto pelo mercado, com o relator, Arthur Maia, prometendo apresentar nova versão do texto até amanhã. O parecer apresentado despertou forte reação, com o Centro de Liderança Pública (CLP) dizendo que a proposta se transformou em uma "antirreforma" administrativa e se colocando contra a aprovação do texto.

No cenário macroeconômico, Santander Brasil piorou as projeções para o crescimento econômico, a inflação e os juros básicos, em revisão do cenário obtida com exclusividade pelo Estadão/Broadcast. O banco passa a prever que a inflação oficial deve terminar 2021 mais de 3 pontos porcentuais acima do teto da meta (5,25%), conforme a revisão de 7,3% para 8,5%. No ano que vem, a estimativa também se afastou do alvo central (3,50%) ao subir de 4,1% para 4,3%, com convergência para meta só em 2023 (3,25%).

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Saindo do noticiário local, o cenário externo cauteloso, especialmente com relação à China, resultou hoje em novo forte ajuste nos preços do minério, em queda de 8%, após perda de 4% no dia anterior - agora no menor nível desde julho de 2020 e a caminho de sua pior sequência em três anos. Na B3, as ações de empresas com exposição aos preços de commodities sentiram a alta: CSN ON, Suzano, Usiminas e Vale ON caíram 6,18%, 5,75%, 5,41% e 4,15% cada. Petrobras ON e PN cederam 0,93% e 0,87% cada.

A aversão ao risco no mercado asiático segue reforçada por sinais ruins sobre o setor imobiliário chinês. "Lá fora, a China continua preocupando também: antes, com a intervenção em setores como o de metais, afetando os preços de commodities como o minério; e, agora, com problemas na segunda maior empresa do setor imobiliário, a Evergrande, que pode deixar de honrar o pagamento periódico de juros, o que resultaria na possibilidade de paralisações de obras. Como a China tem um sistema fechado, quando um problema como esse aparece e é reconhecido pelo governo, preocupa demais", diz Aroldo Holanda, head de mesa variável da Aplix Investimentos.

Capital Economics, porém, considerou haver certo exagero nas avaliações sobre a crise na Evergrande. Para a consultoria, um calote gerenciado ou mesmo descontrolado da companhia chinesa teria pouco impacto global, para além de alguma turbulência nos mercados. Mesmo queoutras incorporadoras venham a passar por quadro similar, seria necessário um erro político de Pequim para que isso provocasse grande desaceleração da economia, aponta.

Câmbio

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O dólar operou hoje escorado na onda global de fortalecimento da moeda americana, na esteira um avanço inesperado das vendas no varejo nos EUA em agosto, justamente na semana que antecede a reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em que pode ser anunciado o calendário para a redução dos estímulos monetários.

A despeito da falta da falta de fôlego do real para emendar pregões seguidos de apreciação, analistas notam que o dólar tem encontrado dificuldades para encostar na casa de R$ 5,30 e apresentado oscilações intradia bem mais modestas - o que pode ser interpretado como um sinal de que a alta das taxas de juros locais já serve como anteparo a apostas contra a moeda brasileira.

Com o desempenho de hoje, a moeda americana tem ligeira queda na semana, de 0,04%, e ganho acumulado de 1,80% em setembro. Lá fora, o DXY - que mede o desempenho do dólar ante pares fortes - subiu cerca de 0,30%. Na comparação com divisas emergentes, os maiores ganhos da moeda americana forma contra a lira turca e o rand sul -africano, com altas superiores a 1%. Ou seja, desta vez o real não foi o 'patinho feio' da turma.

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Parte dos analistas afirma até que, caso o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não tivesse desautorizado a expectativa de aceleração da alta da Selic, a taxa de câmbio poderia estar em nível menor. Com uma alta de 1 ponto porcentual do juro básico na reunião do Copom na semana que vem (dias 21 e 22), o mercado espera o comunicado da decisão para recalibrar as apostas em relação ao ritmo e a abrangência do aperto monetário. Uma Selic mais gorda, além de aumentar o diferencial de juros e, em tese, aumentar a atratividade da renda fixa doméstica, desestimula montagem de posições mais fortes contra o real. /LUÍS EDUARDO LEAL, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO

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