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Dólar fecha, pelo segundo dia consecutivo, abaixo de R$ 5; Bolsa cai

Sinal misto do mercado de Nova York afetou os negócios, após um dirigente do banco central dos EUA defender a retirada de estímulos já em 2022; moeda americana encerrou a R$ 4,96

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Por Redação
Atualização:

Mesmo com o dólar fechando pelo segundo dia consecutivo abaixo do limiar de R$ 5, em leve queda de 0,07%, a R$ 4,9628, a Bolsa brasileira (B3) cedeu 0,26%, aos 128.427,98 mil pontos, em sintonia com o recuo de Nova York. Nesta quarta-feira, 23, investidores voltaram a ficar preocupados com o futuro da política monetária dos Estados Unidos, após um dirigente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) voltar a defender o aperto dos estímulos adotados durante a pandemia.

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Ontem, o presidente do banco central dos EUA, Jerome Powell, acalmou o mercado ao dizer que não planejava fazer uma alta "preventiva" dos juros, pois o processo de recuperação da economia americana ainda tinha um longo caminho pela frente. Hoje, no entanto, Raphael Bostic, presidente da distrital de Atlanta do Fed, disse que antecipou sua previsão para o início do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos. Ele agora prevê uma elevação da taxa básica de juros no fim de 2022 - e não apenas em 2023, como já havia sido anunciado pela autoridade monetária -, e outras duas em 2023.

Além disso, o dirigente também defendeu dar início ao processo de redução das compras de ativos e apontou, inclusive, que vários meses de dados "fortes" de emprego podem abrir as portas para a retirada dos estímulos. Ontem, Powell disse que o mercado de trabalho ainda se recuperava da pandemia.

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Daniel Teixeira/Estadão

A fala de Bostic azedou o mercado, uma vez que o dirigente tem direito a voto nas reuniões do Fed. Em resposta, o mercado de Nova York ficou misto e os índices perderam o fôlego. Dow Jones cedeu 0,21%, enquanto S&P 500 caiu 0,11%. Apenas o Nasdaq fechou em alta, com ganho de 0,13%. O índice também renovou seu recorde histórico de fechamento

"A (nova) rodada de discursos do Fed não seguiu exatamente a liderança de Powell em minimizar os temores inflacionários", observa em nota Edward Moya, analista da OANDA em Nova York, chamando atenção também para palavras de Michelle Bowman, integrante da direção do Federal Reserve, em tom "bastante agressivo com relação aos preços", embora "moderado com relação ao emprego". "O Fed ainda está longe de um progresso substancial com o mercado de trabalho, então Wall Street não deve esperar nenhum anúncio de redução (de estímulos) até depois do fim do verão (no Hemisfério Norte)", acrescenta Moya.

Assim, nesta quarta-feira, "o Ibovespa ficou dividido entre a alta das commodities, com a recuperação do minério de ferro e do cobre, e as novas falas 'duras' de dirigentes do Fed, que pressionaram as bolsas dos EUA e se refletiram aqui", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. Na semana, o índice avança apenas 0,02%, colocando os ganhos do mês a 1,75% e os do ano a 7,91%

"Hoje, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, reiterou a natureza transitória da inflação, defendeu estímulos fiscais e a ideia de um imposto global para multinacionais", observa Betina Roxo, estrategista-chefe da Rico Investimentos, chamando atenção também, no Brasil, para discussão sobre tributação de dividendos. "No último dia 21 de junho, o Ministério da Economia definiu uma proposta que prevê tributação de dividendos em 20% com uma faixa de isenção de R$ 240 mil ao ano, equivalente a R$ 20 mil ao mês. Hoje, todos os pagamentos de dividendos são isentos de tributos", diz a estrategista.

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Fatores pontuais, como a aprovação, no Senado, de Medida Provisória (MP) que eleva a tributação sobre bancos e a indústria química para viabilizar subsídio temporário ao diesel e ao gás de cozinha, também influenciaram o desempenho do índice, em que o setor financeiro tem o maior peso. Hoje, as ações de bancos fecharam com perdas moderadas, limitadas a 0,94% para Santander, em dia positivo para as ações de commodities, com Petrobrás PN em alta de 0,69%, Vale ON, com ganho de 1,50% e para parte do setor de siderurgia, com Usiminas e CSN com altas de 2,14% e 1,55% cada.

Câmbio

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No aguardo de novos catalisadores para se manter abaixo de R$ 5, o câmbio teve um pregão volátil, em parte marcado por um movimento de realização de ganhos, após a moeda americana acumular queda de 7% nos últimos 30 dias, a maior dos emergentes no período. No exterior, o dólar operou sem tendência única hoje, o que contribuiu para a falta de direção do real. Indicadores mistos da economia americana e declarações de dirigentes do Fed reforçaram o tom de cautela nas mesas de operação. Na mínima do dia, a moeda bateu em R$ 4,93. O dólar para julho cedeu 0,19%, a R$ 4,9705.

No Brasil, o fluxo de capital externo, comercial e financeiro, tem sido forte este mês e mais recursos entram nos próximos dias, por conta de captações de empresas, o que ajuda a limitar eventual pressão de valorização do dólar, destacam os profissionais das mesas de câmbio. Hoje o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o dólar, após ter rompido o piso dos R$ 5,00 ontem, ainda pode cair mais. Ao mesmo tempo, ele disse que Jair Bolsonaro anunciará mais três meses de auxílio emergencial, o que provocou certa cautela nos investidores.

O fluxo cambial em junho está positivo em US$ 2,3 bilhões até o dia 18, segundo dados de hoje do Banco Central. Só pelo comércio exterior entraram US$ 1,3 bilhão. Pelo canal financeiro, entraram US$ 1 bilhão e há ainda as operações desta semana, com ao menos parcela de recursos de estrangeiros. A EcoRodovias captou ontem um total de R$ 2 bilhões e o Banco Inter pode lançar amanhã R$ 5,5 bilhões, dia em que a XP Inc deve acessar o mercado para emitir títulos de dívida.

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Na B3, grandes investidores deram prosseguimento ontem ao movimento de desmonte de posições contra o real no mercado futuro. Considerando apenas contratos de dólar futuro, estrangeiros diminuíram posições compradas, que ganham com a valorização da moeda americana, em US$ 472 milhões./LUÍS EDUARDO LEAL, ALTAMIRO SILVA E JÚNIOR E MAIARA SANTIAGO

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