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Bolsa sobe 1,6% e fecha em alta pelo 3º dia consecutivo com melhora da Evergrande

Ibovespa fechou aos 114 mil pontos, no seu melhor nível de encerramento desde o último dia 15, ajudado também pelo bom desempenho do mercado de Nova York; dólar subiu 0,1%

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Por Redação
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Buscando uma recuperação, ainda que parcial, das perdas recentes, a Bolsa brasileira (B3) obteve nesta quinta-feira, 23, o terceiro ganho consecutivo, o que não era visto desde julho. O bom resultado veio em sintonia com a diminuição das tensões em torno da Evergrande, na China, e também diante do desempenho positivo do mercado de Nova York. Hoje, o Ibovespa fechou com alta de 1,59%, aos 114.064,36 pontos, no seu melhor nível de encerramento desde o último dia 15. No câmbio, o dólar subiu 0,10%, cotado a R$ 5,3096.

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A sequência foi a melhor para o índice desde o intervalo entre 20 e 22 de julho, a última vez em que o índice conseguiu enfileirar três altas. Movimento é uma tentativa de recuperação da B3 da forte queda registrada no período entre os dias 8 e 20 deste mês, quando além do choque causado pela Evergrande, o País também teve um novo pico na tensão entre os Poderes. Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 2,36%, limitando a perda do mês a 3,97%. No ano, cede agora 4,16%.

No exterior, os mercados tiveram hoje, em sua maioria, também o terceiro dia de recuperação, tanto por conta de "redução dos temores com relação à Evergrande, do risco de calote na empresa, como também pela superação da cautela que costuma preceder as decisões e as sinalizações de política monetária do Fed [Federal Reserve, o banco central americano], que não indicou ontem "intenção imediata de remover estímulos", diz Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos. Em Nova York, o Dow Jones teve alta de 1,48% e o S&P 500 subiu 1,21%.

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo Foto: Werther Santana/ Estadão

"Se o progresso continuar em linha com o esperado, o Comitê (de política monetária, Fomc) acredita que a moderação do ritmo de compra de ativos será em breve implementada", cita Franchini, referindo-se ao comunicado, embora reconheça também que o tom de Jerome Powell, presidente do Fed, foi mais "duro" do que esses termos, na entrevista coletiva, com indicação de início de 'tapering', nome dado a redução do programa de compra de ativos, antes do fim do ano.

Já os temores ante a Evergrande foram aliviados após os papéis da incorporadora subirem 17,62% na Bolsa de Hong Kong. O movimento veio após na quarta-feira, 22, uma subsidiária da gigante chinesa prometer honrar o pagamento de juros sobre bônus que vencem nesta quinta

No entanto, a situação em torno da empresa, que acumula dívidas de US$ 300 bilhões, ainda inspira cuidado. Hoje, autoridades da China pediram a governos locais que se preparem para o eventual colapso da Evergrande, segundo fontes com conhecimento do assunto, sinalizando a relutância do governo de resgatar a empresa e na tentativa de evitar efeitos secundários de sua crise.

Por aqui, o compromisso do Copom em combater a inflação com alta da Selic também foi bem considerado. "A preocupação fundamental do Banco Central é justamente o componente inercial da inflação. Estamos vendo no cenário internacional uma recuperação, que foi abalada pela variante Delta da covid-19, e ainda vemos uma dificuldade de avanço das pautas fiscais no Legislativo", diz Alexandre Almeida, economista da CM Capital, antevendo taxa básica de juros a 8,25% no fim de 2021 - ontem, foi elevada de 5,25% para 6,25% ao ano.

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"Amplamente esperado pelo mercado, o Copom elevou os juros em 100 pontos-base, e antevê aumento da mesma magnitude para a próxima reunião. As projeções inflacionárias mostram uma pressão forte para o ano que vem e, por isso, o BC afirma que vai entrar no território contracionista. Teremos mais aumentos de juros e, muito provavelmente, Selic mais perto de 9% do que de 8%. As projeções de crescimento para 2022 muito provavelmente serão reduzidas, o que se espera que diminua um pouco a pressão inflacionária", diz Mauro Morelli, estrategista da Davos Investimentos.

Diante da situação mais favorável na China, as ações metálicas, muito ligadas à economia chinesa, voltaram a se recuperar nesta quinta. No fechamento, destaque para Usiminas PNA, em alta de 9,25%, e Gerdau PN, de 5,63%. Após o Copom, os ganhos nas ações de grandes bancos foram hoje a 4,44% para Bradesco PN. Apoiada pela alta do petróleo no exterior, Petrobras ON fechou na máxima do dia, com ganho de 4,16%, e a ON subiu 3,83%.

Câmbio

Cautela com o cenário fiscal doméstico e movimentos técnicos de rearranjo de posições impediram que o real se beneficiasse do aumento do apetite ao risco no exterior. Após alternar sinais ao longo da manhã, com descida até a mínima de R$ 5,2573 logo após a abertura, o dólar passou a tarde perto da estabilidade. Afora um pequeno repique na reta final dos negócios, quando atingiu a máxima a R$ 5,3121, a moeda americana trabalhou sempre perto do patamar de R$ 5,30. 

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No exterior, a moeda americana operou em queda firme tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes, devolvendo os ganhos obtidos na tarde de ontem, após o tom mais duro do Fed. Uma retirada de estímulos deixa a renda fixa americana mais interessante, o que prejudica os ganhos de mercados emergentes.

O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - recuava mais de 0,40%, na casa dos 93.000 pontos. Entre as divisas emergentes, a única com perda acentuada em relação ao dólar era a lira turca, punida pela decisão do BC da Turquia de reduzir a taxa básica de juros de 19% para 18% ano.

Hoje, nem mesmo a alta da Selic ajudou o real. Em tese, juros mais elevados aumentam a atratividade da renda fixa local para investidores estrangeiros e desencorajam apostas contra o real. Por ora, contudo, não se vislumbra uma depreciação mais forte do dólar por aqui, muito por conta das incertezas no cenário fiscal e político doméstico, em meio à tramitação da PEC dos Precatórios na Câmara e da reforma do Imposto de Renda no Senado - essenciais para pôr em pé o Auxílio Brasil, a versão ampliada do Bolsa Família.

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Na avaliação do diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, a combinação de início de retirada de estímulos nos EUA com alta mais comedida da Selic por aqui - aliada à falta de avanço das votações no Congresso para resolução do Orçamento de 2022 - incomoda os investidores. "Acima da região de R$ 5,30, [o dólar] tem potencial para subir em direção a R$ 5,40", afirma Júnior, em relatório. /LUÍS EDUARDO LEAL, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO

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