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Prévia da inflação de outubro acima do esperado faz Bolsa cair 2,1%; dólar sobe

Resultado da prévia da inflação, que veio no maior nível desde 1995 e elevou o acumulado em 12 meses a 10,34%, coloca mais pressão sobre o Banco Central, que define amanhã o aumento da Selic

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Por Redação
Atualização:

Os dados macroeconômicos negativos, com destaque para o avanço de 1,20% da prévia da inflação de outubro, frearam a recuperação iniciada ontem no mercado brasileiro, após um desempenho negativo na semana anterior. Nesta terça-feira, 26, a Bolsa brasileira (B3) teve queda de 2,11%, aos 106.419,53 pontos, enquanto no câmbio, o dólar subiu 0,32%, a R$ 5,5734. No exterior, os índices fecharam em alta.

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O resultado veio acima da mediana das estimativas de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, de avanço de 1%.  No maior nível desde 1995 para outubro, elevando o acumulado em 12 meses a 10,34%, a inflação pelo IPCA-15 divulgada hoje tende a colocar pressão extra no Banco Central sobre a decisão de política monetária amanhã, quando se espera movimento ainda mais 'duro' do Copom para conter a rápida deterioração das expectativas dos agentes econômicos desde o rompimento do compromisso do governo com o teto de gastos para 2022, na semana passada.

O consenso inicial, de manutenção nesta quarta-feira do ritmo de 1 ponto porcentual de aumento na Selic, deu lugar a apostas maiores, de 1,25, 1,5 ou mesmo 2 pontos porcentuais, refletindo a inflexão no fiscal que tem preocupado o mercado, afetando também as estimativas de crescimento econômico para o ano que vem, dominado pela agenda eleitoral.

Com o desempenho de hoje, Bolsa tem alta acumulada de apenas 0,12% na semana. Foto: Werther Santana/Estadão - 18/6/2021

"A decisão de amanhã e o tom do comunicado do Copom serão fundamentais para a orientação do mercado, em especial para o câmbio, depois de a manutenção da alta de 1 ponto porcentual ter sido endereçada com clareza tanto no comunicado como na última ata", ambos superados pelos desdobramentos sobre o fiscal na semana passada, em que o ministro da Economia, Paulo Guedes, "perdeu a guerra sobre o teto de gastos", aponta Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, escritório ligado ao BTG Pactual.

"Quando não se tem número fica difícil fazer conta, e onde passa boi, passa boiada, independente da justificativa que se encontre. Eventuais notícias positivas acabam em segundo plano neste momento defensivo, em que se opta pela segurança das boas distribuidoras de dividendos e com receita em dólar. Em outros casos, quando se tem algum lucro, a tendência é realizar logo para fazer caixa e esperar momento de maior clareza", diz.

Hoje, além do IPCA-15, houve também a divulgação do Caged e da arrecadação federal, ambos referentes a setembro: o primeiro, um pouco mais fraco em comparação a agosto; o segundo, a R$ 149,1 bilhões, acima da projeção mediana do mercado, de R$ 147,7 bilhões, e no maior nível para o mês na série histórica iniciada em 1995.

A leitura positiva sobre a arrecadação contribuiu para que o Ibovespa chegasse a limitar um pouco o ajuste negativo, que no início da tarde superava 2% e que voltou a se acentuar na reta final da sessão, em dia moderadamente positivo para o petróleo e também em Nova York, esta em recentes renovações de máximas, vistas mais uma vez hoje no S&P 500 e também no Dow Jones. "A arrecadação federal ajudou um pouco, mas não tira da cabeça a preocupação com o fiscal", acrescenta Farto.

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Em Nova York, em meio à temporada de balanços de gigantes de tecnologia, Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq tiveram ganhos modestos de 0,04%, 0,18% e 0,06% cada. Na Europa, as Bolsas de Londres, Paris e Lisboa subiram 0,76%, 1,01% e 0,80% cada. Na Ásia, a Bolsa de Tóquio teve alta de 1,77%. Os contratos de petróleo também subiram, com o WTI em alta de 1,06% e o Brent, de 0,56%.

Para Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, "a queda de hoje também está relacionada ao forte movimento de alta da curva de juros, que reflete o aumento da expectativa pelo avanço da Selic, em resposta a mais um dado de inflação acima do esperado". "Para quem está de olho em um repique maior (no Ibovespa), é fundamental para o índice seguir acima dos 106 mil pontos e superar os 109 mil, tendo como alvo principal o topo (gráfico) cravado em 115 mil pontos", acrescenta.

Dessa forma, o Ibovespa descolou desde cedo do dia moderadamente positivo no exterior, interrompendo a recuperação parcial ensaiada ontem, quando fechou em alta de 2,28% após acumular perda acima de 7% na semana anterior. Na semana, o índice ganha apenas 0,12%, ainda cedendo 4,11% no mês - em 2021, as perdas estão em 10,58%. 

Entre as ações, após subir mais de 6%, as ações ON e PN de Petrobras caíram 1,15% e 0,93% cada, um dia após a petroleira questionar o governo sobre as recentes falas de que a privatização da estatal vem sendo estudada - possibilidade considerada pouco provável. Já Eztec baixou 7,64%, Getnet, 7,79%, e Azul, 8,38%. As perdas também foram disseminadas para o setor de mineração e siderurgia, com CSN em queda de 6,59%, Usiminas, de 3,27% e Vale, de 0,83%. Entre os bancos, Bradesco recuou 2,20%, Itaú, 1,29%, e Santander, 1,76%.

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Câmbio

A piora das perspectivas para a economia brasileira, na esteira do IPCA-15 de outubro acima do esperado, aliada ao sinal predominante de alta da moeda americana no exterior, levou investidores a recompor posições defensivas no mercado de câmbio doméstico, jogando o dólar para cima na sessão desta terça, 26.

Afora uma queda pontual pela manhã, a moeda americana operou com sinal positivo durante todo o pregão e chegou a se situar acima de R$ 5,60 no início da tarde, ao atingir a máxima de R$ 5,6064, alta de 0,91%. No mês, a moeda acumula valorização de 2,34%.

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Espremido entre essas forças contrárias, o real não encontrou hoje forças para dar sequência à recuperação esboçada no pregão de ontem, embora não tenha amargado, desta vez, o pior desempenho entre divisas emergentes, papel que coube ao rand sul-africano. O DXY - que mede a variação do dólar frente a seis divisas fortes - trabalhou em alta moderada, em dia de dados positivos da confiança do consumidor nos Estados Unidos.

O head de câmbio da HCI Investimentos, Anilson Moretti, vê possibilidade de o dólar recuar para o patamar de R$ 5,50 caso o Copom promova, pelo menos, uma alta da Selic em 1,5 ponto porcentual amanhã, de 6,25% para 7,75% ao ano. "A inflação está elevada e a política fiscal provoca muita incerteza. Um aumento mais forte dos juros pode trazer alívio para o câmbio", afirma Moretti, que vê potencial para entrada de fluxo externo, tanto para explorar o diferencial de juros quanto para eventuais pechinchas na Bolsa. "O BC tem que ao menos tentar estancar essa piora das expectativas que estão acontecendo. Acredito em alta 1,5 ponto". /LUÍS EDUARDO LEAL, ANTONIO PEREZ E MAIARA SANTIAGO

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