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Bolsa cai 1,51% e emenda seis sessões de baixa; dólar sobe 1,49% e se aproxima de R$ 5

Nos últimas seis pregões, a perda acumulada do Ibovespa chega a 6,15% ante o último dia 2, quando o índice teve seu melhor fechamento desde 20 de abril

Por Luis Eduardo Leal e Antonio Perez
Atualização:

O Ibovespa colheu apenas perdas nesta primeira semana completa de junho, estendendo a série negativa pelo sexto dia e elevando a 5,06% a queda acumulada nas últimas cinco sessões, após retração de 0,75% na semana anterior. O intervalo é o pior desde as sete perdas seguidas observadas na segunda quinzena de abril. Nesta sexta-feira, 10, a inflação a 8,6% ao ano nos Estados Unidos em maio, no maior nível desde 1981, derrubou os mercados no exterior, que já vinham de aversão a risco ontem, quando prevaleceram sinais mais duros do Banco Central Europeu (BCE) quanto à orientação da política monetária na zona do euro para os próximos meses.

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Assim, em dia de moderada leitura positiva sobre as vendas do varejo no Brasil - ainda em expansão na margem, mas em desaceleração de ritmo frente aos três resultados anteriores a abril, agora 4% acima do nível pré-pandemia -, a referência da B3 acompanhou o mal-estar externo e fechou em baixa de 1,51%, aos 105.481,23 pontos. Nas últimas seis sessões, a perda acumulada chega a 6,15% ante o último dia 2, data em que o Ibovespa, a 112.392,91 pontos, obteve seu melhor nível de fechamento desde 20 de abril.

Nesta sexta-feira, oscilou entre mínima de 104.647,59, menor nível intradia desde 12 de maio (103.578,58), e máxima de 107.092,37, quase equivalente à abertura do dia (107.091,09). Em relação ao fechamento de maio, o índice tem agora retração de 5.869,28 pontos, acumulando perdas diárias acima da marca de 1% nas últimas três sessões. O nível de fechamento, hoje, foi o menor desde 11 de maio (104.396,90 pontos). Mostrando evolução desde ontem, o giro financeiro subiu hoje para R$ 30,6 bilhões. No mês, o Ibovespa acumula queda de 5,27%, limitando o ganho do ano a 0,63%. A perda desta semana foi a maior desde outubro passado, quando o Ibovespa havia cedido 7,28% entre os dias 18 e 22 daquele mês.

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo;Ibovespachega à sexta sessão de baixa e acumela perdas de5,27% em junho Foto: Daniel Teixeira/Estadão

"A inflação acumulada em 12 meses nos Estados Unidos, a 8,6% em maio, veio acima da expectativa do mercado, com mediana ao redor de 8,2%. Quando se olha para o núcleo, que exclui itens mais voláteis, como alimentação e energia, a leitura foi de 6% em 12 meses, ainda bem acima da meta de inflação no país. O núcleo mostra que, para além da guerra no leste europeu, que acentuou a inflação global pelo efeito sobre commodities agrícolas e de energia, há uma atividade econômica forte nos Estados Unidos, com inflação de 5,2% no setor de serviços, excluindo o setor de energia, no acumulado em 12 meses", diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

"O dado de inflação nos Estados Unidos, com alta de 1% no mês, foi horrível, pior do que o esperado, e os mercados, como era de se esperar, azedaram ainda mais" neste fechamento de semana, observa Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. "Inflação rodando a 8% ao ano nos Estados Unidos e na Europa não é qualquer coisa: estamos falando de inflação em dólar, em euro. Os BCs estão reagindo. Semana que vem tem a reunião do Federal Reserve, com aumento de meio ponto (nos juros de referência) já precificado pelo mercado."

"A inflação americana preocupa, e isso impactou todas as bolsas hoje. A perspectiva é de juros ainda mais altos nos Estados Unidos, o que é muito ruim para ativos de Bolsa", diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.

No front corporativo, as ações da Eletrobras passaram hoje por correção (ON -4,74%, PNB -6,59%) após o fechamento da oferta da estatal, nesta quinta-feira, 9. As ações foram vendidas aos investidores a R$ 42, desconto de 3,4% em relação ao preço de fechamento do dia 27 de maio, a R$ 43,46, quando a transação foi protocolada na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e na Securities and Exchange Comission (SEC), dos EUA. A operação atraiu grandes fundos internacionais, respondendo por 45% da demanda. Foram movimentados R$ 33,7 bilhões nesta que foi a maior oferta de ações em bolsa neste ano no Brasil, reportam Altamiro Silva Junior e Cynthia Decloedt, do Broadcast.

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"A expectativa do mercado é de que as ações da Eletrobras cheguem a um preço médio de R$ 50, R$ 55 por unidade, o que representa valorização de 20% em 2022, até dezembro. E por que caiu hoje? Investidores que não estão confortáveis com esse preço, os que duvidam do ganho de 20% neste ano, mostram desconforto e vendem os papéis. Dada sua posição, optam por se retirar", diz Simone Pasianotto, economista-chefe da Reag Investimentos, acrescentando que, de forma geral, a precificação foi bem recebida no mercado.

"Há apetite por Eletrobras, a despeito dessa queda de hoje, dos investidores que mostraram incompatibilidade com essa precificação de R$ 42, antes do início da colocação no mercado de capitais", observa a economista da Reag, casa que projeta avanço de 10% a 15% no ano para as ações da empresa.

"Ontem à noite saiu o preço do 'bookbuilding' nesse lote do governo, de R$ 42. E todos os que trabalharam essa oferta levaram integralmente o valor solicitado. Algumas corretoras e bancos solicitaram talvez valor acima do que gostariam, contando que a oferta poderia ter algum tipo de rateio, para que coubesse todo mundo. Alguns usaram essa estratégia de entrar pedindo mais do que deveria, e acabaram levando tudo. E isso gerou um fluxo grande de venda desse papel hoje para poder ajustar para o valor correto", diz Alves, da Valor Investimentos.

Na ponta negativa do Ibovespa nesta última sessão da semana, além de Eletrobras PNB, destaque também para Americanas ON (-10,63%), Banco Inter (-6,87%) e Azul (-6,62%). No lado oposto, Qualicorp (+7,39%), CSN Mineração (+3,98%) e Raia Drogasil (+0,73%). Entre as blue chips, o desempenho foi amplamente negativo, à exceção de Vale ON (+0,02%). Petrobras ON e PN fecharam, respectivamente, em queda de 1,26% e 1,40%, enquanto as perdas entre os grandes bancos chegaram a 2,19% (Itaú PN).

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As expectativas do mercado financeiro estão mais conservadoras sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, segundo o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira, mas a previsão de alta para a próxima semana ainda prevalece. Entre os participantes, 50,00% acreditam em ganhos para o Ibovespa; 30,00%, em estabilidade; e 20,00%, em queda. No levantamento da semana passada, a expectativa de alta tinha fatia de 60,00% e a de variação neutra, 26,67%. Os que esperavam baixa eram 13,33%.

Dólar

A dobradinha formada por alta expressiva da inflação americana em maio e tombo da confiança do consumidor nos EUA ao menor nível histórico detonou uma onda de fuga das Bolsas e corrida global ao dólar na sessão desta sexta-feira, 10. A leitura das mesas de operação é que crescem as chances uma desaceleração mais forte da economia americana dada a necessidade de o Federal Reserve, cujo comitê de política monetária se reúne na próxima semana, ser mais agressivo no processo de alta de juros para domar a maior inflação no país em mais de 40 anos.

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Tirando uma queda pontual na abertura dos negócios, quando chegou a romper o piso de R$ 4,90, registrando mínima a R$ 4,8856, o dólar trabalhou em alta ao longo de todo o dia. A barreira psicológica dos R$ 5,00 foi rompida ainda pela manhã, com moeda marcando máxima a R$ 5,0121. A febre compradora arrefeceu à tarde, em sintonia com o ambiente externo. No fim do dia, o dólar avançava 1,49%, cotado a R$ 4,9886 - maior valor de fechamento desde 18 maio. Com isso, a divisa encerra a semana com valorização de 4,39%. Foi a maior alta semanal desde a semana encerrada em 26 de março de 2021.

No exterior, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - saltou do patamar de 103,000 pontos para operar acima dos 104,000 pontos, atingindo máxima aos 104,230 pontos. A moeda americana também subiu em bloco frente a divisas emergentes e de exportadores de commodities. As taxas dos Treasuries avançaram com força, com a T-note de 2 anos - mais ligada à perspectiva para os próximos passos do Fed - tocando 3%, no maior nível desde dezembro de 2007. Acompanhamento do CME Group mostra que possibilidade de o BC americano elevar a taxa básica de juros ao menos uma vez em 75 pontos-base até a reunião de julho passou a ser majoritária.

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A escalada dos juros dos Treasuries parece ter afetado até o leilão de swap cambial realizado pelo Banco Central, segundo avaliação de Antonio Madeira, economista da MCM Consultores. No leilão, que deu continuidade à rolagem dos vencimentos previstos para agosto, o BC vendeu apenas 3.600 contratos (180 milhões) de swap cambial, um volume muito aquém da oferta total de 15.000 contratos (US$ 750 milhões). "O BC não deve ter aceitado diante da dispersão alta nas taxas e do juro mais salgado. É um dia meio complicado para vender swap", afirmou Madeira em entrevista à repórter Thais Barcellos.

O índice de preços ao consumidor (CPI) nos EUA subiu 1% em maio em relação abril, quando o esperado era alta de 0,7%. O núcleo, que exclui energia e alimentos, avançou 0,5%, também acima das expectativas. Na comparação anual, o CPI acelerou de 8,3% em abril para 8,6% em maio, superando as projeções (8,3%) e atingindo o maior nível desde dezembro de 1981. Enquanto a inflação acelera, a atividade dá sinais de fraqueza. O índice de sentimento do consumidor americano caiu de 58,4 em maio a 50,2 na preliminar de junho (expectativa era de 58,5), atingindo o menor valor já registrado, de acordo com pesquisa elaborada pela Universidade de Michigan.

Para o economista-chefe do Integral Group, Daniel Miraglia, a inflação americana está disseminada e com padrões típicos de países emergentes, fruto da conjunção de dois choques seguidos de oferta (pandemia e guerra na Ucrânia) e de estímulos monetários gigantescos. "Para trazer a inflação de volta, o Fed vai ter que ser mais agressivo e provocar uma desaceleração da economia americana", diz Miraglia, para quem a onda de volatilidade dos ativos de risco ainda está longe do fim.

Miraglia trabalha com dois cenários. Em um deles, o Fed eleva a taxa em 75 pontos-base na semana que vem. Isso levaria os mercados de risco a sofrer bastante no curto prazo, mas abriria espaço para um reequilíbrio mais rápido na sequência, com as taxas longas dos Treasuries se acomodando em patamares comportados. No segundo, o Fed mantém a política gradualista e o quadro se deteriora continuamente, com o retorno da T-note de 10 anos superando 3,5% e podendo até atingir 4% - o que levaria a perdas agudas em portfólios de renda fixa e de ações, ensejando riscos de uma crise sistêmica.

Seja qual for o caminho do Fed, Miraglia vê um dólar cada vez mais forte no mundo, uma vez que o euro sofre com a fraqueza da economia europeia e o iene perdeu seu papel de refúgio em razão da política monetária frouxa do Banco do Japão. Esse movimento global de valorização da moeda americana vai respingar no mercado doméstico de câmbio nos próximos meses, avalia. "A tendência é de um dólar para cima. Na minha visão, o mercado ainda não está precificando a questão eleitoral. Bolsonaro deve ir de peito aperto para o conflito com o STF (Supremo Tribunal Federal)", diz o economista, que prevê dólar a R$ 5,50 no fim deste ano.

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Para o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, o real ainda têm fôlego para uma nova rodada de apreciação, descolando-se da tendência de alta da moeda americana no exterior, uma vez que a economia mostra fôlego maior que o esperado e a inflação dá sinais de arrefecimento. "O caso da Eletrobras mostrou que tem apetite por Brasil. E temos ainda taxas de juros domésticas elevadas", diz Rolha, que vê possibilidade de o dólar retornar ao patamar de R$ 4,80. "O que prejudicou muito o real na última semana foi esse problema fiscal, com a questão do pacote para segurar os preços de combustíveis".

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