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Bolsa emenda 3ª perda e cede 0,11%; dólar sobe 1,64%

Com o terceiro dia de queda, o Ibovespa chega ao menor nível de encerramento desde 20 de maio

Por Luis Eduardo Leal e Antonio Perez
Atualização:

O Ibovespa manteve margem de variação estreita desde a abertura desta terça-feira, 7, sem conseguir acompanhar a melhora de humor em Nova York ao longo da tarde, com as três referências se firmando em alta por lá. Ao fim, o índice da B3 mostrava leve perda de 0,11%, a 110.069,76 pontos. Ainda fraco, o giro ficou em R$ 21,4 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa cede 0,93% e, no mês, 1,15%. No ano, sobe 5,01%. Com o desempenho desta terça-feira, o Ibovespa emenda a terceira perda diária, permanecendo no menor nível de encerramento desde 20 de maio (108.487,88).

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Desde a virada de maio - mês em que o índice avançou 3,22% - para junho, o Ibovespa tem mostrado menos força, lateralizado, em sessões com volume também mais fraco, refletindo o momento de expectativa por juros mais altos não apenas nos Estados Unidos mas também na zona do euro. O movimento sobre as políticas monetárias nas maiores economias ocorre em meio à reabertura da China, que tem contribuído para a recuperação tanto do minério de ferro como do petróleo - neste caso especialmente, com sequelas para a inflação global, ante o contágio da elevação dos preços de combustíveis na economia como um todo.

Aqui, a questão passa a ser crucial para as chances do governo na eleição de outubro, o que leva o Planalto a propor alternativa, com desoneração tributária, para tentar estancar o avanço dos preços.

"A redução do ICMS sobre combustíveis é o tema do momento, com o governo tendo apresentado ontem uma proposta muito agressiva, oferecendo contrapartida para os Estados - mesmo assim, difícil de passar. É razoável limitar o ICMS a 17%, com repasse para baixo significativo - essa ação sobre a tributação de combustíveis tem ocorrido no mundo, frente à alta do petróleo. Não faz sentido ICMS de 35% sobre gasolina. Alguma coisa vai sair, mas não essa desoneração total proposta pelo governo, ainda assim com efeito importante para o IPCA, de até dois pontos porcentuais: um choque que seria positivo para a economia, com mudança na trajetória de inflação para este ano", avalia Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

B3, a Bolsa de Valores de São Paulo; com o desempenho desta terça-feira, Ibovespa emenda a terceira perda diária Foto: Werther Santana/ Estadão

Hoje, na B3, o desempenho positivo de Petrobras (ON +0,36%, PN +1,19%) e de Vale (ON +2,34%, maior alta do Ibovespa na sessão) foi fundamental para compensar o efeito negativo do ajuste em bancos (Bradesco ON e PN, -0,85%; Unit do Santander -0,87%) e em algumas ações de siderurgia (Usiminas PNA -2,71%) e de Utilities (Cemig PN -1,15%). Além de Vale, destaque hoje para BR Malls (+1,93%), JBS (+1,65%) e Suzano (+1,65% também). No lado oposto, Cielo (-4,28%), Soma (-4,14%), Positivo (-4,07%) e Cosan (-3,52%).

"O dia foi de volume baixo, liquidez reduzida no mercado. A Bolsa oscilou entre pequenas altas e pequenas baixas, digerindo o pronunciamento de ontem à noite do presidente (Bolsonaro, sobre a proposta de desoneração dos combustíveis). A leitura que o mercado está fazendo é a do risco fiscal, que vai aparecendo, ficando iminente, nesse período de eleição. Tudo acaba sendo 'possível' na tentativa do governo de reverter sua popularidade", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, chamando atenção para a elevação dos DIs, e para o dólar também em alta na sessão, com a busca por segurança.

Câmbio

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O risco fiscal voltou a dar as cartas no mercado doméstico de câmbio nesta terça-feira (7) e levou o real a amargar o pior desempenho entre as principais moedas do mundo, incluindo divisas fortes e emergentes. A proposta do governo de cortar tributos federais sobre combustíveis e compensar Estados por perdas de arrecadação com ICMS - com impactos estimados em R$ 40 bilhões - voltou a despertar temores de uma escalada populista em ano eleitoral.

Investidores partiram para a defensiva já na abertura dos negócios, levando o dólar a abrir acima de R$ 4,80. Com renovação de sucessivas máximas, a moeda chegou a superar R$ 4,90 ainda pela manhã, correndo até R$ 4,9341 (+2,89%). O movimento comprador perdeu força ao longo da tarde, em sintonia com o exterior, com a divisa voltando trabalhar abaixo de R$ 4,90. No fim do dia, o dólar avançava 1,64%, cotado a R$ 4,8742 - maior valor de fechamento desde 19 de maio. O giro com o contrato de dólar futuro para julho, principal termômetro do apetite por negócios, superou US$ 15 bilhões, sugerindo que pode ter havido mudanças relevantes de posicionamento.

No exterior, o dólar teve um desempenho misto em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, incluindo pares do real. O índice DXY - que mede o desempenho da moeda americana frente a seis pares fortes - chegou a operar em alta pela manhã, mas acabou perdendo força com a recuperação da libra e a diminuição das perdas do iene. A moeda japonesa atingiu pela manhã seu menor valor ante o dólar em mais de 20 anos, após o presidente do Banco do Japão Banco do Japão (BoJ), Haruhiko Kuroda, voltar a defender a política monetária relaxada, até que a inflação se estabilize perto da meta de 2%.

"O movimento de alta do dólar foi predominantemente doméstico. Houve um aumento da percepção de risco que se refletiu na moeda e nos juros futuros", afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho. "O corte de impostos não vai criar um problema fiscal no curto prazo, mas o sinal é muito ruim. A zeragem de impostos é para controlar a inflação e não para aumentar a eficiência da economia. E existe ainda o risco de judicialização."

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

O governo anunciou ontem que pretende zerar tributos federais (PIS/Cofins e Cide) sobre gasolina em troca da aprovação do PLP 18, que coloca teto de 17% sobre o ICMS dos combustíveis. Haveria compensação aos Estados também pelo fim de cobrança de ICMS sobre diesel e gás de cozinha contemplada em uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Se aprovadas, as duas medidas valerão até 31 de dezembro deste ano.

O senador Fernando Bezerra (MDB-PE) foi escolhido para ser relator da PEC e disse que deve apresentar seu parecer nesta quarta-feira (8). Bezerra prevê a votação do "pacote de combustíveis" no Senado na próxima semana. A PEC permitirá ao governo transferir aos Estados recursos fora do teto de gastos (a regra que limita o crescimento das despesas) para compensar a perda de arrecadação caso optem por zerar o ICMS de diesel e gás.

Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmam que o governo, premido pelo calendário eleitoral, trabalha para zerar os tributos federais sobre a gasolina e aplicar um teto para as alíquotas de ICMS sobre combustíveis e gás de cozinha a partir de 1º de julho.

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A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, observa que, embora possa ter impacto positivo na inflação deste ano, a redução de tributos agrava a percepção sobre a política fiscal, que já vem desgastada pela mudança do teto de gastos. "Essa pressão sobre nossa moeda reflete o desconforto dos investidores. O real se descolou em relação às demais divisas emergentes, principalmente por conta das incertezas fiscais", afirma.

Segundo cálculos do Bradesco, a aprovação do projeto que cria um teto de 17% para o ICMS (sobre combustíveis e energia) e da PEC proposta pelo governo poderia levar o IPCA deste ano de 9%, no cenário-base do banco, para 6,8%. Haveria, contudo, um aumento de ao menos 1 ponto porcentual no IPCA do ano que vem, de 4,1% para 5,1%.

Os riscos fiscais envolvidos nas duas propostas seriam suficientes para levar a projeção para o primário do setor público consolidado em 2022 de um superávit de R$ 40 bilhões para um déficit de R$ 45 bilhões, alerta o banco. "Nossa expectativa para o câmbio também seria provavelmente ajustada, refletindo o aumento do risco fiscal", dizem os economistas do Bradesco, em relatório. No cenário-base, o banco reduziu a projeção de dólar no fim de 2022 e 2023, de R$ 5,10 para R$ 5,0.

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