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Cresce o risco na baixa renda

Por Agencia Estado
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Enquanto bancos e financeiras esticam prazos sem medo da inadimplência, alegando que ela está alta mas sob controle e que boa parte dos empréstimos tem garantias, pesquisas mostram que o quadro não é tão favorável assim, especialmente para o consumidor das camadas de menor renda. Dados da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio - SP) revelam que 59% dos consumidores que recebem até três salários mínimos mensais - ou R$ 1.050 - estão inadimplentes neste mês. Em fevereiro, esse percentual era de 57%. É nesta faixa de renda que está a grande massa de consumidores que usam o crédito. Já na média geral dos 1.360 entrevistados pela entidade, a inadimplência é bem menor: estava em 40% no mês passado e agora, em 41%. A diretora da Assessoria Econômica da Fecomércio - SP, Fernanda Della Rosa, considera arriscado os índices de inadimplência atuais para as camadas de baixa renda e não vê com tranqüilidade o alongamento de prazos do crediário. Em sua análise, o consumidor procura o crédito porque não tem renda para manter o consumo e essa capacidade de pagar as contas em dia está se esgotando na baixa renda. A partir de dados do Banco Central (BC), a RC Consultores faz uma análise que revela que o crédito consignado oculta hoje um nível crescente de inadimplência do consumidor. Considerando os atrasos entre 15 e 90 dias e acima de 90 dias, o estudo mostra que a inadimplência, excluindo o consignado, girava em torno de 28% dos créditos a receber em janeiro deste ano. Já se for levado em conta o crédito consignado, esse indicador cai para algo em torno de 11%. ?Os bancos acreditam que existe potencial de crescimento de massa salarial, mas o risco está crescendo?, adverte o diretor da RC Consultores, Fabio Silveira. Ele observa que, neste ano, ainda há espaço para ampliar o crédito sem grandes riscos para o sistema por conta do consignado. Mas o economista ressalta que é preciso apoiar o crescimento do País cada vez mais no investimento e na produção e menos no crédito. O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, diz que a corrida dos bancos para alongar prazos de pagamento e carência dos financiamentos é uma tentativa para garantir financiamentos com uma taxa de juros maior por um período mais longo. Como a tendência dos juros é de queda, as instituições financeiras, diz ele, querem garantir a rentabilidade futura maior, facilitando a venda hoje com prazos dilatados. É que, se elas deixarem para conquistar o consumidor mais para o fim do ano, quando os juros de mercado serão menores, a rentabilidade dos financiamentos certamente também será menor.

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