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Despesa financeira reduz lucro da indústria pela metade em 2005

Por Agencia Estado
Atualização:

As despesas financeiras voltaram a afetar fortemente o lucro das indústrias, depois de uma trégua em 2003 e 2004. Estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), feito em conjunto com a Serasa, mostra que esses gastos consumiram, em média, o equivalente a 50% do lucro - já descontados os impostos e os custos operacionais - das empresas do setor no ano passado. Por trás desse aumento está a escalada dos juros básicos da economia entre meados de 2004 e 2005, que encareceu ainda mais os financiamentos tomados pelas indústrias. Essa subida teve impacto maior nos negócios das pequenas e médias empresas, que não têm capacidade de negociar taxas menores com os bancos nem acesso a créditos no mercado internacional, mais baratos. Em 2004, as despesas financeiras consumiram 23% do ganho das grandes empresas. Já entre as indústrias de menor porte, a mordida foi de 39%. ?Não há nenhuma perspectiva de melhora da situação para este ano?, diz José Ricardo Roriz Coelho, diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Fiesp. ?Está todo mundo pendurado em financiamentos contratados a taxas de juros pré-fixadas muito altas.? O estudo mostra que 2005 só não foi pior porque a queda do lucro operacional e o aumento da despesa financeira foram em parte compensados pelo aumento da receita financeira das empresas, que aumentou exatamente por causa dos juros. ? Esse alívio, porém, é restrito às empresas que desfrutavam de uma situação mais tranqüila de caixa?, observa Laércio Pinto, diretor da Serasa responsável pelo levantamento. Para a maioria das indústrias, principalmente as pequenas e médias , esse quadro é muito desfavorável. Com lucros reduzidos pelas despesas financeiras, as empresas acabam não tendo dinheiro para investir. A Poly Hidrometalúrgica, fabricante de metais sanitários, por exemplo, desistiu de investir US$ 300 mil na importação de uma máquina para fabricar um produto de alto valor agregado, chamado registro de gaveta, que controla o fluxo de água em casas e apartamentos. ?Já tínhamos feito alguns contatos com representantes da empresa na Itália, mas resolvemos adiar a compra porque, além de não dispormos de recursos próprios, os juros bancários estão comendo nossas pernas?, diz Denis Perez Martins, diretor industrial da empresa. A Poly Hidrometalúrgica fatura R$ 1 milhão por ano, o que é quase o custo do investimento na compra da máquina. A situação se agravou porque a principal matéria-prima das empresas de metais sanitários, o cobre, teve aumento de 100% desde o início do ano, que só foi repassado em parte para os preços. Com isso, a Poly Hidrometalúrgica teve de aumentar o seu endividamento nos bancos para obter mais capital de giro. No setor de embalagens, considerado um termômetro do nível de atividade econômica no País, a situação não é diferente. No mês passado, as vendas do setor caíram 6% em relação a junho e acumularam no ano alta de apenas 1,5%. ?Isso significa que existe uma oferta grande e uma demanda baixa, o que compromete a margem de lucro das empresas?, diz Roberto Nicolau Jeha, presidente da Indústria de Papel e Papelão São Roberto. ?Como as taxas de juros estão muito elevadas, o custo financeiro acaba sendo responsável por uma empresa ter prejuízo ou lucro?. A São Roberto tem planos de investir R$ 7 milhões na construção de uma unidade para produção de papelão da sua fábrica de Santa Luzia, na região metropolitana de Belo Horizonte, onde já produz papel. Mas a decisão de investir vem sendo adiada desde o ano passado. ?Já concluímos o projeto no papel, mas, para ele se tornar realidade, ainda vamos esperar mais um pouco para ver se vai continuar essa maluquice de juros altos e câmbio baixo?, diz Jeha. Se o quadro não melhorar, o investimento será, mais uma, vez adiado. ?O problema é que temos como sócios nos investimentos o governo com os impostos e os bancos com os juros altos?, afirma Roriz, da Fiesp.

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