O mercado financeiro está cada vez menos preocupado com a inflação brasileira e, por esse motivo, os indicadores de preços devem continuar confirmando maior folga para a queda das taxas de juros. Na quarta-feira, a pesquisa Focus apontou nova rodada de queda das estimativas de inflação e, por tabela, menor projeção para a taxa Selic no final do ano. Se for levada em conta taxa Selic efetiva esperada para cada mês deste ano e inflação para o período de 12 meses à frente, a taxa real de juros do Brasil deve ficar abaixo de dois dígitos ainda no segundo semestre deste ano. Isso não acontece deste outubro de 2004, quando o mercado apostou numa Selic baixa e a inflação voltou a preocupar. Naquela época, o Banco Central se viu obrigado a iniciar o ciclo de aperto monetário que se estendeu até setembro do ano passado. Mas agora o risco de um otimismo exagerado, que faça o Banco Central colocar um pé no freio no corte das taxas de juros parece ter sido reduzido. Para o consultor Roberto Padovani, da Tendências Consultoria, as fortes entradas de recursos externos no País e a queda do prêmio de risco do Brasil permitem que o governo gaste menos dinheiro para renegociar sua dívida interna. Para se ter uma idéia da mudança do humor do mercado, o governo era obrigado a pagar juros de 9% ao ano, além da correção do IPCA, para conseguir vender seus papéis em outubro do ano passado. E hoje consegue vender esse mesmo título com juro de 7 e meio por cento ao ano. Para o responsável pela área de renda fixa da administradora de recursos do banco ABN Amro, Eduardo Castro, está na hora do investidor conservador se me mexer. Segundo ele, até o final do ano, o tradicional investidor brasileiro acostumado a ganhar 1% líquido ao mês ao aplicar em um fundo DI, terá que diversificar suas aplicações para conseguir o mesmo rendimento. De certa forma, esse história de diversificar as aplicações não é nova, mas até agora os juros reais brasileiros eram tão altos que não valia a pena se arriscar muito para ganhar dinheiro. Mas se não houver contratempos na economia internacional neste ano e a balança comercial brasileira não sofrer um baque com a queda do dólar, tudo indica que as taxas reais de juros podem cair forte. Grosso modo, se as apostas da pesquisa Focus forem confirmadas, no final do ano a rentabilidade líquida de um fundo DI será menor que 0,8 por cento ao ano. Para o pequeno aplicador, que depende dos juros elevados brasileiros para se manter ou formar uma poupança para a aposentadoria, está na hora de começar a pensar em novas aplicações. Os grandes investidores já estão fazendo isso, aplicando parte de seus recursos em ações ou buscando fundos de investimentos mais arriscados.