07 de maio de 2018 | 18h49
Depois do pequeno refresco nos dois últimos pregões da semana passada, o real voltou a ficar sob pressão nesta segunda-feira, 07. O dólar encerrou o dia com valorização de 0,78%, a R$ 3,5522, na maior cotação desde junho de 2016. A alta do dólar por aqui refletiu, novamente, a tendência global de valorização da moeda em relação a divisas de países emergentes.
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Em maio, o dólar acumula alta de 1,4% e, no ano, o avanço chega a 7,3%. “Os mercados internacionais têm apostado globalmente na força da moeda americana”, disse o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria Integrada.
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Campos ressaltou que o cenário político brasileiro incerto ainda não teve grande impacto no mercado cambial. “Quando as questões internas entrarem no radar dos agentes, a tendência é que a moeda fique ainda mais volátil e que o dólar avance mais”, destacou.
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O economista-chefe da Modalmais, Alvaro Bandeira, porém, não vê muito espaço para que o dólar continue sua trajetória ascendente. “A não ser que haja um motivo grande para estresse no mercado.” A possibilidade de o presidente americano, Donald Trump, deixar o acordo nuclear com o Irã seria um desses motivos. Nesta segunda, Trump escreveu em uma rede social que fará um anúncio nesta terça, 08, sobre sua decisão em relação ao acordo. “Se ele permanecer, o mercado não deve mudar muito. Caso contrário, pressionará (para cima) o petróleo e o dólar”, afirmou Bandeira.
Globalmente, a valorização do dólar decorre da perspectiva crescente de aceleração da economia norte-americana e da possibilidade de o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) aumentar a taxa básica de juros mais três vezes neste ano.
Esse cenário ganhou forças após mais um dirigente do Fed falar sobre o assunto. Em seu primeiro discurso desde que assumiu a distrital de Richmond do Federal Reserve, Thomas Barkin afirmou nesta segunda que a autoridade monetária dos EUA deve continuar elevando as taxas de juros. Sem responder quantas vezes mais isso ocorrerá, Barkin comentou que seria difícil justificar uma política monetária que estimule o crescimento quando a economia já está em sólida expansão. “Nossa política ainda é bastante acomodatícia. E é difícil argumentar que a acomodação é apropriada quando o desemprego está baixo e a inflação está efetivamente na nossa meta”, disse.
O dólar tem ainda sido apoiado pela escolha recente de Larry Kudlow como principal assessor econômico de Trump. Kudlow é um defensor do dólar forte, com a avaliação de que isso não prejudica as exportações.
Bolsa. O Ibovespa, principal índice da B3, a bolsa paulista, encerrou o pregão desta segunda em queda pela quinta vez consecutiva, abaixo dos 83 mil pontos, em meio ao movimento de saída de investidores estrangeiros. O índice fechou em baixa de 0,49%, aos 82.714 pontos. O volume de negócios somou R$ 7,7 bilhões, inferior à média dos últimos dias.
Em cinco dias de queda ininterrupta, o Ibovespa já perdeu 4,32%. A falta de sustentação dos preços das ações é atribuída em boa parte à redução da participação dos investidores estrangeiros, que retiraram mais de R$ 800 milhões da bolsa brasileira somente nos dois primeiros dias de maio. A alta persistente do dólar e o clima de indefinição política são apontados por analistas como fatores de desconforto para o investidor do mercado de ações.
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Nesta segunda, o desempenho do Ibovespa só não foi pior por conta dos ganhos das ações da Petrobrás, que avançaram apoiadas na alta dos preços do petróleo e na perspectiva de um resultado financeiro melhor, a ser divulgado nesta terça. As ações ordinárias (com direito a voto) da estatal subiram 3,56%. A Eletrobrás registrou o pior desempenho do Ibovespa, com as crescentes dúvidas sobre seu processo de privatização. Os papéis ordinários caíram 9,15%.
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