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Entrada de Mendes no BC não deve mudar política monetária

Diretor da Asset Management do Itaú Unibanco diz que referências sobre novo funcionário são 'favoráveis'

Por Luciana Xavier e da Agência Estado
Atualização:

A substituição de Mário Torós por Aldo Luiz Mendes na direção de Política Monetária do Banco Central não deve gerar nenhuma mudança na condução da política monetária, acredita Demosthenes Madureira de Pinho Neto, diretor executivo da Asset Management do Itaú Unibanco e ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, de 97 a 99.

 

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"Acho que o Banco do Brasil sempre produziu técnicos de alta competência, de alto gabarito. Torós fez um trabalho magnífico no Banco Central, mas não vejo grandes problemas nessa substituição. Conheço Aldo só de nome, mas as referências acerca da trajetória dele são muito favoráveis", afirmou Demosthenes, em entrevista ao AE Broadcast Ao Vivo.

 

Segundo o ex-diretor do BC, houve um avanço institucional significativo no Brasil e esse é um dos fatores de atração do País entre os emergentes. "Consolidamos uma institucionalidade que não depende somente de pessoas e temos técnicos no governo de alta competência que podem assumir posições", disse.

 

Demosthenes afirmou não ter lido a entrevista dada por Torós ao jornal Valor Econômico revelando bastidores do BC, o que teria sido o estopim para sua saída da instituição. "Eu estava no exterior, num road show, e não tive oportunidade de ler", desconversou.

 

Para Demosthenes, a eventual saída de outros diretores ou mesmo do presidente do BC, Henrique Meirelles, tampouco deve trazer surpresas em relação às políticas do BC, mas não chega a ser categórico quanto à ausência de riscos.

 

"Não posso dizer isso (que não há riscos). Mas quero crer que a institucionalidade que conquistamos neste País torna esse tipo de mudança muito natural. Claro que sempre tem o fato desconhecido, mas o Brasil já avançou muito nisso. Há certa autonomia consolidada do Banco Central em relação a manter a inflação sob controle e crescimento sólido. Não vejo isso como problema e acho que o mercado também não verá como problema", avaliou.

 

Câmbio

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Diante da valorização do real, Demosthenes acredita que o governo pode, no máximo, tentar conter um pouco esse processo por meio de medidas, mas não pode esperar revertê-lo.

 

"É difícil, quando você tem um fluxo gigantesco de recursos, navegar contra a corrente de valorização. Eu passei pelo Banco Central e eu não consigo ver nenhuma mágica que possa ser feita para impedir a apreciação cambial quando você tem um movimento muito estrutural por trás disso de atração de investimentos no Brasil, de um lado, e desvalorização do dólar do outro", explicou.

 

Demosthenes avalia que no curto prazo, num período de 8 a 10 meses, o real deva ficar ao redor de R$ 1,70. "No horizonte de 12 meses, imagino que alguma apreciação seja revertida para ao redor de R$ 1,80". Segundo ele, medidas pontuais sozinhas nesse sentido não devem fazer diferença. "Não existe uma única ação que pode dar conta disso, mas um conjunto de ações que podem atenuar esse movimento. Aumentar a poupança (do País) seria um caminho, mas outros caminhos existem", afirmou.

 

Um outro caminho, segundo ele, e que está em curso pelo BC, é a liberalização da legislação cambial brasileira. "Ainda tem muito trabalho no sentido de liberalizar fluxos de saída. A lei privilegia ainda a situação em que Brasil era carente de reservas e isso mudou drasticamente. O Brasil recebe hoje um fluxo de investimento muito grande e não há necessidade de uma legislação tão preocupada com a fragilidade da situação externa brasileira", avaliou.

 

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Para Demosthenes, além da liberalização do fluxo de saída , o governo deveria promover um maior ajuste fiscal para "atenuar uma tendência internacional". Outra opção, segundo ele, seria aumentar a possibilidade de brasileiros mandarem recursos para o exterior, permitindo contas em dólares em bancos brasileiros, que bancos brasileiros distribuíssem produtos de investimentos lá fora ou liberalizar para fundos de pensão diversificarem com aplicações em moedas estrangeiras.

 

"Seria pouco vantajoso no curto prazo, dado que retornos aqui são muito maiores. Mas existe demanda oculta de diversificação de portfólio em vários segmentos da sociedade brasileira", argumentou o ex-diretor do BC.

 

O diretor executivo da Asset do Itaú Unibanco disse ainda que no Brasil, as melhores opções de investimentos são nos setores que "puxam o crescimento futuro". Ele citou os setores ligados a commodities, consumo e varejo. Ele se mostrou mais cético em relação ao fôlego de alta da Bovespa que, segundo ele, "já valorizou demais".

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Crescimento

 

Para o ex-diretor do BC, o PIB brasileiro deve manter uma alta velocidade de expansão nos próximos trimestres e tem condições de crescer acima de 5% em 2010. "O fato de que estamos numa recuperação forte é completamente inquestionável. A questão é durante quanto tempo nós conseguimos sustentar esse processo sem que se gere pressão inflacionária. Nesse sentido, creio que a situação de aquecimento no segundo trimestre leve o Banco Central a fazer algum ajuste da política monetária", afirmou.

 

Na opinião do ex-diretor do BC, o aperto monetário não exigiria fortes ajustes na taxa Selic, atualmente em 8,75%, para conter um "possível sobreaquecimento". Para ele, alta de 100 pontos-base a 150 pb seria razoável. "O mercado precifica mais do que isso, mas acho que nessa precificação está componente de incerteza. A curva de juros precifica política fiscal, ano eleitoral, um aumento de juros previsto muito maior do que 150 pontos. Mas creio que algo em torno 150 pontos conseguiria manter crescimento saudável no ano que vem com inflação sob controle", avaliou.

 

Para Demosthenes, o Brasil vive o dilema de ter potencial para crescer, mas não possuir oferta de infraestrutura básica que permita um crescimento sustentável acima de 5,5%. "Isso requer investimento, poupança e tempo. Não resolvemos esse problema ainda", disse.

 

Enquanto esse problema não for resolvido, o diretor executivo da Asset Management do Itaú Unibanco disse que um ritmo de crescimento mais forte sempre acabará pressionando a inflação. "Isso força algum tipo de contração da política monetária para que o crescimento volte a uma trajetória compatível com os gargalos que a economia brasileira ainda apresenta", acrescentou.

 

Demosthenes ressaltou que é preciso mais investimentos na oferta de energia. Segundo ele, o problema de oferta de energia só não ficou mais crítico porque a economia desacelerou este ano. Ele também citou entre os problemas de infraestrutura, a necessidade de melhoria nos aeroportos do País. "Realmente o que me preocupa é infraestrutura. Se não acabarmos com esse gargalo, vamos ficar crescendo em espasmos."

 

De acordo com o executivo, a solução dos gargalos e a elevação da taxa de poupança impulsionariam o aumento da taxa de investimento no País. "Mas aumentar a poupança requer a reversão da tendência do gasto público. É o grande desafio no médio e longo prazos."

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