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Fed deve aumentar juros somente em 2009

Para Marcelo Carvalho, do Morgan Stanley, política monetária mundial segue trajetória de aperto

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Por Luciana Xavier e Cynthia Decloedt (Broadcast)
Atualização:

Diante de uma economia ainda muito fraca, o Federal Reserve deverá esperar até o primeiro semestre de 2009 para começar a subir os juros, disse o economista-chefe para Brasil do Morgan Stanley, Marcelo Carvalho. Outros países deverão fazer o mesmo, de acordo com ele. Ouça a entrevista   "O quadro global lembra um pouco um cenário de estagflação. Desaquecimento da economia com sinais de inflação. Certamente, a política monetária mundial segue uma trajetória de aperto monetário nos próximos trimestres", afirmou.   Para Carvalho, o Banco Central Europeu (BCE) deve promover nova alta de juros ainda este ano, "apesar do discurso mais dovish, mais positivo da última reunião, que deu a impressão de que foi apenas uma dose e de que (o aperto) acabou". No dia 4 de julho, o BCE elevou a taxa básica da Zona do Euro em 0,25 ponto porcentual para 4,25%.   Na opinião do economista, a situação está um pouco mais difícil e menos previsível para o Banco Central da Inglaterra (BOE), onde os juros estão em 5%, após a decisão de abril deste ano de corte de 0,25 pp. "Lá, como em outras partes do mundo, o cenário é de desaquecimento ao mesmo tempo em que a inflação se agrava. Os números de inflação de hoje e atividade econômica ilustram esse ponto", comentou.   Carvalho disse que a expectativa é de que a economia no Reino Unido desacelere de uma média de 3% para 1,5% este ano e em 2009 e admite que há riscos de recessão no país. "Lá também, como em outros países, a palavra recessão tem sido muito mais mencionada recentemente", afirmou.   "A desaceleração significativa não é apenas nos EUA", ressaltou. O economista citou ainda o Japão, dizendo que a economia está frágil. "Não se sabe se o Japão sairá de recessão secular."   Para os emergentes, a situação parece estar melhor, embora Carvalho ressalte que os riscos são de crescimento para baixo em 2009 para a maioria deles e de apenas um dígito, no caso da China. Ele prevê que o PIB chinês fique em 10% este ano e em 9,5% em 2009.   Resgate O socorro do Federal Reserve e Tesouro dos Estados Unidos às agências de hipotecas Fannie Mae e Freddie Mac foi bem recebido pelos mercados e mostra que o Fed está lidando bem com a crise, na avaliação de Carvalho.   "A Fannie Mae e ao Freddie Mac são órgãos que na percepção do mercado sempre tiveram algum tipo de garantia implícita. Agora, o que está se propondo é uma explicitação desse suporte. O que essa notícia revela é que o sistema financeiro ainda merece atenção", disse.   Para Carvalho, a percepção é de que o pior da crise norte-americana, iniciada no ano passado com o setor de hipotecas imobiliárias subprime, já passou. "Mas os ajustes levam tempo para serem plenamente absorvidos. A implicação disso para o lado real da economia é que o setor de crédito provavelmente ainda será um peso para a perspectiva de crescimento econômico para os próximos trimestres", afirmou ele.   Segundo o economista-chefe para Brasil do Morgan Stanley, por conta desses ajustes, pode-se esperar mais surpresas negativas vindas dos bancos. "Ainda teremos ajustes nos bancos. É um processo lento e gradual", acrescentou.   Carvalho acredita que os Estados Unidos já estão em processo de recessão, mas prevê que ela não será profunda. "Teremos PIB negativo do 4º trimestre e no 1º trimestre de 2009 e a retomada gradual se dará ao longo do ano que vem", disse. O economista espera que o PIB dos EUA cresça 0,9% este ano e 1,2% em 2008.   Dose maior O Banco Central poderá ser mais agressivo no aperto monetário na reunião da próxima semana, acredita o economista-chefe para Brasil do Morgan Stanley, que aposta em alta de 0,75 ponto porcentual da Selic para 13% ao ano. "Com 0,75 pp, o BC manda para o mercado a mensagem firme de que não tolerará desvios sistemáticos da meta", comentou.   A projeção do economista é de que o juro poderia subir três pontos porcentuais este ano, encerrando em 14,25%, mas disse que a avaliação muda se houver mais deterioração das expectativas de inflação nas pesquisas Focus. "Os riscos são de juros maiores. Dependendo de como as expectativas evoluírem, não é descabido falar em alta de 4 pp ou 5 pp", acrescentou.   Na opinião de Carvalho, os riscos de a inflação este ano superar o teto de 6,5% da meta de inflação já estão maiores que os 25% projetados pelo Banco Central. Ele prevê que o IPCA fechará o ano em 6% e em 5% em 2009.   Carvalho disse que este ano o crescimento da economia continuará resistente, mas espera uma "desaceleração significativa" em 2009. "O motivo dessa desaceleração é que a política monetária funciona. Aperto de política monetária implica em desaceleração econômica."   A estimativa é de PIB com crescimento de 4,3% este ano e de 3% no ano que vem. "O consenso continua prevendo 4% para o ano que vem. Mas a desaceleração já está em curso e o consenso do mercado caminhará para revisar seus números para níveis menores do que os atuais de 4%", avaliou o economista.   "Essa esquizofrenia do consenso do mercado, que vê juros crescentes e economia crescendo a ritmo robusto, tende a se dissipar ao longo do tempo. A economia já atingiu seu pico e vai entrar numa desaceleração mais visível no segundo semestre deste ano."   Carvalho disse ainda que o mercado de trabalho reage com defasagem à desaceleração da economia e que o desaquecimento desse mercado ficará mais claro a partir de 2009. Segundo ele, o comportamento do mercado de trabalho e eventuais reajustes salariais, que teriam impacto negativo na inflação, estarão no foco do BC nos próximos meses.   O economista comentou também que o dólar poderá se recuperar frente outras moedas nos próximos trimestres, mas que no Brasil o real tende a se manter fortalecido.

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