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Fed pode ter ido longe demais nos cortes de juros

Para professor Richard Cooper, de Harvard, nem BC dos EUA deve saber quando começar a subir os juros

Por Luciana Xavier e Patrícia Fortunato
Atualização:

Para o professor de economia da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Richard Cooper, o Fed pode ter ido longe demais nos cortes de juros. "Apoio fortemente a atuação do Fed desde o início dos cortes de juros no ano passado. Talvez eles pudessem ter reduzido um pouco menos os juros. Mas não sou muito crítico do Fed. Se eles perceberem que os juros caíram demais, como ocorreu em 2004, eles são capazes de subi-lo de novo".   - Ouça entrevista com Richard Cooper     Segundo ele, há uma situação ambígua na economia dos Estados Unidos - inflação e desaceleração - e isso torna mais difícil o trabalho do Federal Reserve (Fed) daqui para frente. "O Fed é muito pragmático na tomada de decisões. Infelizmente, as evidências da economia são ambíguas com a pressão inflacionária vinda principalmente das commodities e a pressão de contração da economia. O Fed tem um dilema e acredito que optará por deixar o juro inalterado", disse.   No dia 25 de junho o Comitê de Mercado Aberto do Fed (Fomc) decide como ficarão os juros, que caíram de 5,25% para 2% em apenas sete meses, de setembro do ano passado a abril deste ano, numa tentativa do Fed de conter a crise financeira iniciada no setor de hipotecas imobiliárias de segunda linha, o subprime.   Cooper, no entanto, é cauteloso ao falar quanto tempo a pausa nos juros pode durar até que o Fed resolva aumentar as taxas. "Pode ser que no final deste ano, começo do ano que vem ou mesmo nesta reunião. Acho que nem o Fed sabe ao certo quando deverá começar a subir os juros. Minha estimativa é de que será num futuro próximo. Qualquer outra projeção é um exercício como diversão", afirmou.   Segundo ele, é preciso esperar para ver os efeitos que a devolução de impostos pelo governo aos cidadãos norte-americanos irão surtir na economia. "Não assino a aposta de que os consumidores não irão gastar o dinheiro. Creio que vão gastar tanto em consumo como no pagamento de dívidas como cartão de crédito. Acho que uma quantia significativa, cerca de 50%, será gasta ainda este ano. Mas caso isso não ocorra, teremos uma economia ainda mais fraca e o Fed terá que ver o que deve fazer", disse.     Recessão - Cooper avalia que os Estados Unidos estão em forte desaceleração, mas não em recessão e que possivelmente escaparão desse cenário. No entanto, ele prevê uma recuperação lenta da economia. Segundo ele, o mercado imobiliário deve seguir fraco por mais 12 ou 20 meses e os bancos ainda divulgarão balanços negativos. "Mas o pior da crise financeira ficou para trás", comentou.   Segundo ele, a pressão inflacionária vinda da alta de alimentos poderá diminuir em 2009. "Os preços de grãos podem estão mais baixos daqui a um ano", disse. Ele ressaltou, no entanto, que a alta de alimentos tem menor relevância nos Estados Unidos do que em outros países. Cooper disse que os gastos com alimentos no país não costumam ultrapassar 15% do orçamento doméstico.   O cenário é diferente quando se fala de petróleo. Nesse caso, Cooper admite que o país é mais sensível á elevação da commodity que outros países. "Não que petróleo seja mais importante que alimentos, mas tem maior relevância política e os norte-americanos não estão gostando de ver preços da gasolina e óleo diesel no patamar mais alto de todos os tempos. E estou menos confiante sobre a queda do petróleo do que de alimentos", analisou.   Para o professor, o petróleo ainda deve ficar alto por vários meses ou anos e só deve se normalizar quando houver maior oferta vinda de países fora da Opep, como o Brasil, o que não deve ocorrer nos próximos dois anos pelo menos. "Não teremos um alívio sério do petróleo, a menos que haja uma recessão mundial, mas esse não é o meu cenário", disse Cooper.   Cooper afirmou ainda que o dólar poderá se fortalecer daqui para frente, mas não tem projeções para a moeda norte-americana. "O euro, o franco suíço e a libra esterlina estão supervalorizados e isso sugere que a queda do dólar pode estar chegando ao seu limite".   Ele disse também que uma reforma no sistema financeiro de Wall Street com mudanças regulatórias, como quer o secretário do Tesouro Nacional Henry Paulson, seria algo bom para a economia norte-americana. "Mas minha visão é de que esta não foi a primeira e não será a última crise nos Estados Unidos e é importante que não se coloquem regras muito duras para não pressionar demais o setor financeiro".

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