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Fundos reduzem em até 20% posição em ações da Petrobrás

Dados da Economática mostram que muitos gestores migraram para os papéis ON da estatal

Por Vinícius Pinheiro e da Agência Estado
Atualização:

Em meio às incertezas sobre o processo de capitalização da Petrobrás, os fundos de investimento brasileiros vêm reduzindo a exposição às ações da estatal. Apenas nas ações preferenciais (PN, sem direito a voto), os fundos reduziram a posição em quase 20% de janeiro a abril deste ano (dado mais recente disponível).

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No total, os fundos diminuíram em R$ 3,2 bilhões a exposição à empresa, de acordo com dados da nova ferramenta de análise de fundos desenvolvida pela Economática. No final de abril, a carteira dos fundos com registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) contava com R$ 23 bilhões em papéis da companhia.

O movimento dos fundos brasileiros segue a mesma estratégia dos estrangeiros. Recentemente, o megainvestidor George Soros comunicou que se desfez de todas as ações que possuía na Petrobrás. O fundo de Soros, que possui um total de US$ 25 bilhões em recursos, tinha pouco mais de US$ 600 milhões em ADRs (recibos de ações negociados em Nova York) da estatal.

A queda no valor detido pelos fundos brasileiros não foi provocada apenas pela venda direta, mas também pela queda das ações no mercado, que reduz naturalmente essa posição. A oscilação na bolsa, porém, foi menor que a redução dos recursos investidos pelos gestores na ação da petroleira. Vale lembrar que, no mesmo período, o patrimônio da indústria brasileira de fundos cresceu pouco mais de 5%, de acordo com dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Embora a CVM permita aos gestores ocultar as informações das carteiras por um período de até 90 dias, gestores ouvidos pela Agência Estado afirmam que a posição consolidada em Petrobrças ficou ainda menor nos últimos três meses. "O mercado está leve no papel, à espera da definição das condições da capitalização", afirmou uma fonte de uma grande gestora.

Para outro executivo, que também preferiu não ser identificado, o preço atual das ações é até atrativo, diante da queda de quase 28% no acumulado do ano. "Mas preferimos os detalhes da capitalização para, se for o caso, comprar com desconto na oferta", avaliou.

A avaliação das fontes é de que a redução na exposição poderia ser ainda maior, não fosse o peso das ações da Petrobrás no Ibovespa - o principal índice da bolsa. "Muitos gestores, especialmente os dos grandes bancos, são muito cobrados para acompanhar o índice, por isso não podem simplesmente zerar a posição em Petrobrás", explicou um profissional. Em outros casos, o gestor é obrigado, por regra, a seguir o índice, por isso, não pode vender as ações para não ficar desenquadrado, ainda que não acredite no potencial da empresa.

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Preferência por ON

Os dados da Economática mostram que muitos gestores que reduziram ou se desfizeram totalmente da posição em ações PN acabaram migrando para os papéis ON (ordinários, com direito a voto) da estatal. É nas ON que o governo concentra a participação, que lhe dá o direito de controlar a companhia apesar de possuir apenas 32% do capital total da petroleira. Na dúvida, os fundos têm optado por ficar ao lado do controlador. No final de abril, a exposição em ações ordinárias nas carteiras das gestoras era de R$ 15,2 bilhões, quase o dobro dos R$ 7,8 bilhões alocados em PN, apesar de as preferenciais possuírem liquidez muito maior.

Para o analista de uma gestora de recursos, as ações ON tendem a sofrer menos impacto do que as PN no processo de capitalização. "Como o governo já anunciou que exercerá integralmente o direito de preferência na oferta, certamente haverá uma sobra menor de papéis ordinários na operação, o que provoca menos pressão sobre as cotações", afirmou. A União possui pouco mais de 55% dos papéis ON da Petrobrás.

Com essa perspectiva, muitos gestores se posicionaram comprados em ações ON e vendidos nas PN da companhia, na expectativa de lucrar com o aumento da diferença relativa entre as duas classes de papéis. Essa estratégia - chamada de "long short", no jargão de mercado - também vem sendo adotada desde o início da discussão sobre a capitalização da estatal com a compra de ações da Vale e venda de Petrobras, segundo o especialista.

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Enquanto a maior parte do mercado vem apostando na queda dos papéis, na ponta contrária, ou seja, na compra de ações da Petrobrás, estariam principalmente os fundos de pensão, segundo fontes de mercado. A desvalorização também tem atraído os chamados "caçadores de pechinchas", investidores que compram ações na baixa esperando a reversão desse movimento.

"Mas o fato de a ação ter caído muito não significa que ela não possa cair mais", ponderou um gestor. A eventual definição de um preço muito elevado na cessão onerosa de barris da União para a Petrobras pode ser um catalisador para novas vendas na bolsa no curto prazo, segundo o profissional.

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