A primeira pesquisa Focus divulgada após a apresentação da ata do encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), na quinta-feira da semana passada, evidencia que a deterioração das expectativas dos agentes financeiros em relação à inflação não foi represada pelo documento. O prognóstico para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2011 subiu de 5,53% para 5,64% e, em 2012, de 4,54% para 4,70%. A sondagem tende a dar sustentação à reincorporação de prêmios à curva, mas o mercado futuro já vinha prevendo essa piora das expectativas após a ata.
Hoje, o uso de ferramentas alternativas à elevação do juro básico ganhou o endosso da Rússia, que surpreendeu ao manter sua taxa básica, mas elevando o compulsório bancário. O apetite ao risco segue contido pelo alastramento das tensões no Egito, o que pode gerar desdobramentos na ponta longa dos contratos futuros de DI no mercado brasileiro.
"O mercado segue altamente propício para a volatilidade. A queda não é tendência das taxas, mas há sim uma trégua do mercado", ponderou uma fonte, sem prever que as taxas busquem hoje uma recomposição forte, após a devolução de prêmios do fim da semana passada. Essa percepção é respaldada pela "precificação" elevada de DIs mais líquidos, como os de vencimento em janeiro de 2012 e janeiro de 2013.
Além de as elevações das estimativas para o IPCA deste ano e do próximo se afastarem cada vez mais do centro da meta de inflação, de 4,50%, outros parâmetros coletados na pesquisa Focus, divulgada hoje pelo Banco Central (BC), pioraram. A projeção suavizada para o IPCA nos próximos 12 meses subiu de 5,49% para 5,53%.
A coleta diária elaborada pela FGV, porém, apontou alívio na inflação corrente. O IPCA ponta regrediu de 0,67% no dia 27 para 0,60% no dia 28, com forte desaceleração no grupo alimentos e bebidas, de acordo com uma fonte que teve acesso ao dado divulgado reservadamente pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A Focus mostrou ainda que a previsão de aperto monetário se intensificou. A Selic (a taxa básica de juros da economia) para fim de 2011 avançou de 12,25% para 12,50% ao ano, elevando a previsão da taxa média para este ano de 12,06% para 12,22%.
Enquanto a autoridade monetária brasileira mostra-se confiante em tentar domar a inflação com um mix de alta da taxa de juros calibrada por medidas macroprudenciais e pela expectativa de ajuste fiscal, a Rússia também optou pelo uso de ferramentas alternativas. "É mais confortável para o governo ver que esse é um movimento global de outros países. É sempre melhor que seja, mas não deve influenciar na curva interna de juros diretamente", observou uma fonte.
As principais preocupações giram em torno das decisões de política monetária da China e das tensões no Egito. O gigante asiático se prepara para o feriado do Ano Novo Lunar, a partir de quarta-feira, e analistas acreditam que o país está na iminência de anunciar mais uma elevação da taxa de juros.
No Brasil, às 9h45 (horário de Brasília), a taxa projetada pelo DI com vencimento em janeiro de 2012 apontava 12,37%, ante 12,38% de sexta-feira. Já o contrato com vencimento em janeiro de 2013 apresentava taxa de 12,84%, a mesma de sexta-feira.