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Juros sobem após BC chinês elevar compulsório

A curva de juros abriu o dia acrescentando prêmios aos contratos mais curtos, com o mercado dando respaldo à tese de que a decisão da China de elevar o compulsório bancário, antes do ano-novo chinês, pode espelhar uma antecipação de medidas restritivas na esfera doméstica. No Brasil, O Índice Geral de Preços - 10 (IGP-10) acima da mediana esperada e as declarações do presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, de que não será candidato ao governo de Goiás, também dão suporte às taxas.

Por Patricia Lara e da Agência Estado
Atualização:

 No exterior, a preocupação sobre o impacto da ação chinesa na engrenagem da locomotiva asiática já fez estragos nas ações e commodities (matérias-primas). O quadro defensivo que se instalou pode limitar alta das taxas futuras de juros no Brasil.

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 A China não esperou o ano-novo começar no dia 14. Antes do início do ano do tigre, o Banco do Povo da China (PBOC, na sigla em inglês, o banco central do país) disse que vai elevar o compulsório bancário em 0,50 ponto porcentual a partir do dia 25 de fevereiro. Trata-se da segunda medida desse tipo neste ano.

 Em meados de janeiro, o BC chinês aumentou o compulsório, também em 0,5 ponto porcentual. Após o aumento anunciado hoje, os grandes bancos serão obrigados a manter 16,5% de seus depósitos em reserva junto à autoridade monetária. Para o economista-chefe da China International Capital, Ha Jiming, outros movimentos de alta do compulsório bancário podem ocorrer.

 A medida tem a intenção de conter a inflação e mostra que a autoridade monetária ainda considera que o crescimento dos empréstimos está acelerado. Para o economista do Bank of America Merrill Lynch, Lu Ting, a decisão mostra que a China concentra seus esforços no compulsório porque a elevação da taxa básica de juros atrairia fluxo de entradas de capital de curto prazo. Ele ainda prevê alta do compulsório de 1,50 ponto porcentual neste ano e não vê espaço para alteração da taxa básica chinesa antes do 2º semestre.

 O mercado de juros tem se mostrado mais inclinado a ler as decisões chinesas como um paradigma para o Banco Central brasileiro promover uma antecipação no ciclo de aperto monetário. A tese de que a economia chinesa pode ter uma desaceleração nociva para a demanda de commodities, como as exportadas pelo Brasil, fica em segundo plano.

 Além da China, o mercado reage também ao IGP-10, que subiu 1,08% em fevereiro, após avançar 0,20% em janeiro, segundo informou hoje a Fundação Getúlio Vargas (FGV). O resultado de fevereiro superou a mediana das expectativas (0,99%). O grupo dos bens finais avançou 1,63% em fevereiro, em comparação com a alta de 0,16% em janeiro. "Isso indica que aumenta a chance de repasse (de preços) para o consumidor em um prazo mais curto. Continua uma preocupação com um cenário de inflação não tão benigna", comentou uma fonte de uma corretora.

 Comentários do presidente do BC, Henrique Meirelles, também devem ter repercussão hoje. Após a pressão do PMDB de Goiás, Meirelles descartou sair candidato ao governo do Estado e reiterou que se decidirá até o início de abril. Na percepção do mercado, o espaço para que ele se torne vice da pré-candidata do governo Dilma Rousseff é pequeno e restaria o Senado como caminho. "Mas essa notícia diminuiu a chance de ele sair do BC e deve aumentar o prêmio para a curva, já que o mercado estava apreensivo com a possibilidade de um eventual sucessor ter um viés mais leniente no combate à inflação", observou a mesma fonte.

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 No entanto, há correntes que acreditam que a permanência de Meirelles pode esvaziar a urgência de a Selic (a taxa básica de juros da economia) subir em 17 de março, já que não haveria necessidade de o BC apressar o início do ciclo de aperto monetário. "Se Meirelles resolver sair, há chance de ele aumentar a Selic em março, deixando uma indicação para seu sucessor", disse uma fonte.

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