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Loyola: BC pode ter de emprestar direto para bancos

Segundo o ex-presidente do BC, medida pode ser necessária caso haja risco maior de liquidez no mercado

Por Luciana Xavier e Rita Tavares
Atualização:

A idéia de o Banco Central vir a emprestar diretamente aos bancos, caso as medidas adotadas até agora não consigam desempoçar a liquidez no mercado, é uma possibilidade em aberto, disse o ex-presidente do BC e sócio da Tendências, Gustavo Loyola, ao AE Broadcast Ao Vivo. "Não é algo que se queira. Mas essa possibilidade já foi claramente estabelecida", afirmou. Ouça a entrevista Segundo ele, o mercado e o BC devem chegar a um entendimento para evitar que se chegue a esse ponto. "Mas se for necessário para preservar a liquidez, então deve ser feito. Caso contrário atingiria fortemente o crédito. O BC deve avaliar se existe o risco de problema maior de liquidez". O ex-presidente do BC, no entanto, espera que as medidas adotadas até agora surtam o efeito desejado. Loyola ressaltou que o sistema financeiro brasileiro "é sólido", mas nenhum país do mundo está imune à crise. "O BC tem tido um comportamento bastante cauteloso, respeitando a crise. O BC não está subestimando o potencial destrutivo da crise. Não significa admitir que o Brasil seja especialmente vulnerável à crise. Mas o Brasil sofre, porque é player no mercado global", explicou. O ex-presidente do Banco Central elogiou o anúncio feito hoje pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) de que o BC poderá direcionar empréstimos em dólar ao comércio exterior. Segundo ele, o efeito dessas medidas no sistema financeiro é cumulativo. "É um processo lento", disse. O CMN, conforme antecipou o jornalista Fernando Nakagawa, também decidiu que as operações de redesconto realizadas pelos bancos poderão ter debêntures emitidas por empresas não financeiras como garantia. Caso uma instituição financeira realize este tipo de operação com o BC, a autoridade monetária poderá receber debêntures com classificação de risco AA, A e B como contraparte. Para Loyola, a medida é positiva, embora reconheça que existe "um risco residual" de o BC receber debêntures. "O BC procura resolver o problema de liquidez em empresas com qualidade, de primeira linha". Por entender que o processo é lento, Loyola disse que não adianta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pressionar os bancos para que emprestem entre eles. Ontem, o presidente ameaçou punir os bancos que estão segurando o dinheiro liberado pela redução de depósito compulsório para ampliar o crédito no mercado. "Ameaças não funcionam. O BC pode até aumentar o compulsório de novo, mas não faria isso. Seria jogar gasolina na fogueira. E o BC não pode obrigar os bancos a repassar liquidez. É uma decisão de cada banco. Copom Loyola disse que defende a tese de que o BC deve parar de subir juro na próxima reunião. "O horizonte está nebuloso. Qualquer decisão na próxima reunião vai se basear em indicadores muito voláteis", avaliou. "Não temos evidência de quanto a crise irá nos afetar, de quanto será a redução do crédito e qual será o novo patamar de preços das commodities. Por isso, seria prudente o BC se abster de qualquer movimento na taxa de juros na próxima reunião", reforçou. Loyola espera que o dólar recue um pouco para ao redor de R$ 1,90 e R$ 2, o que pode amenizar a pressão inflacionária. "O Brasil sofre choque de demanda externa e o crédito doméstico vai cair", alertou. Loyola disse que é difícil saber até onde irá a crise. "A volatilidade irá continuar por tempo indefinido". Mas avalia que a fase de pânico vai passar, pois as medidas dos BCs do mundo todo foram "muito abrangentes".

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