A fala tranquilizante do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) no dia anterior, não surtiu efeito tão positivo nos mercados internacionais nesta quarta-feira, 23, com os índices fechando mistos. Entre os investidores, a preocupação ainda gira em torno do futuro da política monetária dos Estados Unidos e com a escalada da inflação.
Ontem, o presidente do Fed, Jerome Powell, afastou a chance de um reajuste "preventivo" da taxa de juros, mas prometeu agir caso a inflação suba acima do esperado. Ele apontou ainda para a necessidade de apoiar o mercado de trabalho americano e disse que a recuperação da economia dos EUA ainda tem um longo caminho pela frente, ressaltando a necessidade das medidas de estímulo.
Hoje, no entanto, o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, foi na contramão de Powell e defendeu um reajuste nos juros já para o final de 2022 - e não apenas em 2023, como sugeriu o Fed em sua última reunião. Ele disse que vários meses de dados "fortes" de emprego podem abrir as portas para a retirada dos estímulos e defendeu dar início ao processo de redução das compras de ativos. A declaração gerou preocupação, uma vez que Bostic tem direito à voto nas reuniões do Fed.
Já a diretora do Fed, Michelle Bowman afirmou hoje ser provável que os preços aos consumidores americanos sigam subindo no decorrer de 2021, e as pressões inflacionárias consideradas temporárias, como os gargalos na cadeia de suprimentos, podem levar "algum tempo" até serem solucionadas.
Hoje, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto caiu de 68,7 em maio a 63,9 na preliminar de junho, mas o PMI apenas da indústria subiu de 62,1 em maio a 62,6 na prévia de junho, recorde na série histórica do dado, ante previsão neste caso de 61,5 dos analistas ouvidos pelo The Wall Street Journal. O resultado vem na esteira da alta das matérias-primas e das pressões inflacionárias de junho.
Bolsa de Nova York
A fala do dirigente do Fed fez com que os índices americanos invertessem o sinal. Dow Jones e S&P 500 caíram 0,21% e 0,11% cada, mas o Nasdaq, ainda que com menos fôlego, subiu 0,13%, batendo um novo recorde histórico de fechamento.
Por lá, continua a haver expectativa por um possível pacote de gastos em infraestrutura nos EUA, mas a administração Joe Biden enfrenta dificuldades para avançar nessa frente. Hoje, a porta-voz da Casa Branca disse que o presidente pode se reunir com congressistas para discutir o tema.
Bolsas da Europa
Diante da indefinição da política monetária dos EUA, ficaram em segundo plano dados mais positivos sobre a economia europeia. O índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da zona do euro subiu para o maior nível desde 2006, um sinal sobre a recuperação da atividade econômica do bloco. O índice Stoxx 600 fechou em baixa de 0,73%, enquanto a Bolsa de Londres cedeu 0,22%, Paris recuou 0,91% e Frankfurt teve queda de 1,15%.
A Bolsa de Milão teve perda de 0,94%, enquanto Madri teve queda de 1,10% e Lisboa recuou 0,71%.
Bolsas da Ásia
No mercado asiático, no entanto, o clima foi de alta, com os investidores ainda precificando a fala mais pró-estímulos de Powell. A Bolsa de Hong Kong fechou em alta de 1,79%, enquanto Seul teve ganho de 0,38% e Taiwan se valorizou 1,53%. Os índices chineses de Shenzhen e Xangai subiram 0,25% e 0,79% cada. Exceção, a Bolsa de Tóquio teve perda marginal de 0,03%.
Na Oceania, a bolsa australiana caiu 0,60%, após a adoção de novas restrições de combate a covid-19 em Sydney, cidade mais populosa do país.
Petróleo
O petróleo fechou em alta nesta quarta-feira, com investidores de olho em planos da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) para relaxar os cortes na produção do óleo em 500 mil barris por dia (bpd) em agosto. O mercado ainda acompanhou a forte queda nos estoques da commodity nos Estados Unidos, antecipada pelo American Petroleum Institute (API) no fim da tarde de ontem. Ao todo, o país registrou baixa de 7,614 milhões de barris, ante expectativa de baixa de 4,1 milhões de analistas consultados pelo The Wall Street Journal.
O petróleo WTI com entrega prevista para agosto fechou em alta de 0,32%, a US$ 73,08, enquanto o barril do Brent para o mesmo mês subiu 0,51%, a US$ 75,19. /MAIARA SANTIAGO, GABRIEL CALDEIRA, IANDER PORCELLA E SERGIO CALDEIRA