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Mesmo com nova regra, fundos de pensão resistem à diversificação

Nova regra permite investimentos alternativos à renda fixa, mas perfil de endividamento pouco mudou

Por Natalia Gomez e da Agência Estado
Atualização:

Mais de um semestre após a sua criação, a nova regulação para os fundos de pensão brasileiros, que permite maior exposição a investimentos alternativos à renda fixa, ainda está longe de se traduzir em realidade para a maioria das fundações. A permissão para aumentar a exposição a investimentos estruturados, à renda variável e a possibilidade de investir no exterior pouco mudaram o perfil de investimentos do setor, segundo especialistas que participam hoje do Brasil Investment Summit 2010, em São Paulo.

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O objetivo da diversificação permitida pela regulação é reduzir a exposição à taxa de juros, que tem cenário de queda no longo prazo e já está muito abaixo dos níveis históricos.

Uma das principais razões para esta demora é a grande exposição dos fundos de pensão a títulos públicos com longo prazo para vencimento, o que garantirá sua rentabilidade por um período longo. Segundo Carlos Eduardo Gomes, membro da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), cerca de 20% dos R$ 200 bilhões investidos pelo setor em títulos públicos tem vencimento em dezembro de 2012; cerca de 20% tem vencimento em três a dez anos, enquanto cerca de 50% vence em mais de dez anos.

Em sua opinião, a aposta em investimentos alternativos também é limitada devido à educação dos membros e conselheiros das fundações, habituados a obter retorno elevados com os títulos do governo. "O conselho fiscal trava os investimentos que não conhece", explicou. A elevação da taxa de juros para 9,5%, anunciada ontem, pode reforçar adiar ainda mais este movimento, segundo ele, por atrair mais recursos aos títulos públicos.

A Petros, fundação dos funcionários da Petrobras, segundo maior fundo de pensão do País, é uma das que optou por cautela neste momento. Segundo o gerente executivo de administração financeira da Petros, Roberto Gremler, a fundação está começando a se preparar para um ambiente de taxas de juros mais baixas.

Mesmo com a alta de ontem, sua perspectiva de longo prazo é de queda. "Observamos em uma série histórica que mesmo quando o juro sobe, não volta ao patamar anterior", disse. O fundo tem avaliado ampliar sua diversificação, mas não tem pressa. Segundo ele, a Petros tem 60% da sua carteira em títulos públicos, sendo que a maior parte vence apenas em 2033. Um dos interesses da fundação é investir em infraestrutura. A instituição deve participar da usina de Belo Monte (PA), mas ele afirmou apenas que existem "conversas" neste sentido.

Potencial

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Segundo um estudo realizado pela Itajubá Investimentos, empresa que distribui produtos de assets para fundos de pensão, existe um grande potencial para investimentos alternativos. No caso de fundos multimercado estruturados, existe um espaço de R$ 6 bilhões nas políticas de investimentos dos fundos de pensão. Para private equity, o potencial é de R$ 7,6 bilhões, enquanto para ações o espaço é de R$ 13 bilhões. Os investimentos no exterior poderiam somar R$ 1,6 bilhão, de acordo com o levantamento, feito com 68 fundos de pensão.

De acordo com o sócio da Itajubá Investimentos, Carlos Garcia, a empresa tem feito muitos contatos com as fundações sobre investimentos alternativos, mas a resposta tem sido evasiva. "O que mais ouvimos dos fundos é: somos conservadores", disse. Segundo ele, isso é natural porque os altos juros brasileiros garantiam a remuneração necessária aos fundos, mas esta não é mais a realidade atual. Em sua opinião, o setor vai se conscientizar da necessidade de diversificação "aos poucos". "Os dirigentes das fundações terão de convencer os participantes e conselheiros", afirmou.

O presidente da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada, José de Souza Mendonça, conta que as oportunidades de diversificação estão sendo avaliadas por cada fundo de pensão, como aportes em private equity, infraestrutura e investimentos no exterior, mas a fase é de estudos. "Esta é uma mudança lenta, depende do que o mercado vai oferecer", afirmou

 

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