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Nacionalismo sul-americano afugenta multinacionais

Por Agencia Estado
Atualização:

A petroleira espanhola Repsol iniciou processo de venda de até 20% das ações de sua subsidiária argentina YPF, comprada em 1999 por ? 15 bilhões. A operação, que tem como objetivo reduzir a exposição da multinacional no país, indica o alastramento da crise do setor de petróleo da América do Sul, que já deixou baixas na Venezuela, Equador e ameaça a Bolívia. O Brasil, até agora, não foi contaminado pela crise de credibilidade que se abate sobre o setor no continente. A onda nacionalista que varreu o setor de petróleo sul-americano vem afastando empresas que chegaram à região com a abertura dos anos 90. A francesa Total, a italiana Eni e a americana Exxon desistiram dos ativos na Venezuela por não aceitarem novos contratos de parceria propostos em 2005. No Equador, após aumentar os impostos sobre a produção, o governo expulsou a americana Occidental, acusada de contratos irregulares. Na Bolívia, a proposta é transformar as petroleiras em prestadoras de serviço para a estatal local YPFB. O governo já avisou que quem não aceitar deve sair do país. Embora mais sutil que seus vizinhos, o governo argentino Néstor Kirchner também promove mudanças no setor. A pulverização de parte do capital da YPF foi anunciada pela direção da Repsol no segundo trimestre. Agora, segundo a imprensa argentina, a companhia contratou dois bancos para coordenar a operação. No último balanço da empresa, a Argentina é citada várias vezes como principal causa da queda do resultado operacional no período, por causa do tabelamento do preço do petróleo no país, que impede o repasse ao consumidor da alta internacional do produto. Segundo o consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), o governo argentino fixou o preço de venda no mercado interno em US$ 35 por barril - no mercado internacional, a cotação de ontem fechou em US$ 61,59. As empresas que atuam no país são obrigadas a vender pelo menos 55% de sua produção pelo valor de tabela e o restante pode ser exportado a preços internacionais. Há fixação de preços-teto também para gás natural e combustíveis. A Argentina convive com riscos de grave crise energética, com suas reservas de gás caindo ano a ano, e é apontada por especialistas como próximo país do continente a adotar medidas radicais no setor. Esta semana, o governo determinou inspeções nas refinarias locais - uma delas operada pela Petrobrás - à busca de responsáveis pela escassez de óleo diesel, ampliando o temor de intervenções duras. Sophie Aldebert, sócia-diretora do Cambridge Energy Resources Associates (Cera), diz que há um grande nível de descontentamento, no setor, em relação à América do Sul, mas o risco de contaminação do mercado brasileiro é pequeno. "Enquanto houver bons projetos e estabilidade regulatória, as empresas investirão. Chile, Brasil e Colômbia ainda são vistos como estáveis."

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