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"O diabo é que o câmbio flutuante flutua"

Por Agencia Estado
Atualização:

"O diabo do câmbio flutuante é que ele flutua'. Essa frase, dita sempre com um sorriso, é a forma como o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, responde a reclamações de exportadores sobre o dólar fraco ante o real. Ela reflete, também, uma opção firme por esse regime, adotado pelo Brasil em 1999. Antes disso, o câmbio era administrado pelo Banco Central (BC), que programava antecipadamente as desvalorizações da moeda nacional ante a estrangeira. A cotação controlada pelo governo foi a forma utilizada pelo Plano Real, de 1994, para derrubar a inflação. Era a chamada ?âncora cambial?, que garantia o ingresso de produtos estrangeiros por preços baixos e, com isso, evitava que os preços de produtos nacionais subissem exageradamente. Na visão de economistas de variadas tendências, a chamada âncora cambial cumpriu seu papel no combate aos preços altos, mas trouxe prejuízos ao País por ter sido mantido por um tempo considerado longo em demasia. Em 1999, quando o Brasil foi engolfado pela série de crises internacionais, foi adotado o regime de metas de inflação e, com ele, o câmbio flutuante. Com o fim da âncora cambial, os analistas previram o pior e apostaram na volta dos períodos de constantes e fortes remarcações de preços. Com o intuito de debelar essa ameaça, o então presidente do BC, Armínio Fraga, chegou ao cargo promovendo uma forte elevação dos juros, que chegaram a alcançar a marca dos 45% ao ano. O câmbio flutuante, apesar do nome, admite intervenções pontuais do BC no mercado à vista com o objetivo de adquirir reservas internacionais e melhorar as condições de solvência externa do País. No atual governo, o BC, presidido por Henrique Meirelles, começou a conduzir uma política de compras de dólares no mercado. Como resultado dessa política, o Brasil reuniu, ao final do ano passado, condições de quitar antecipadamente toda a dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e com os credores oficiais do Clube de Paris. ?O setor externo já não é mais problema para o País?, afirma o economista Amir Khair, ligado ao PT. A grande dúvida no mercado é sobre as regras de atuação do BC na compra de divisas externas. Comunicado de janeiro de 2004 diz que as condições para as intervenções seriam pautadas pelas condições de liquidez e teriam como objetivo não inserir volatilidade no mercado, nem mesmo interferir na tendência de flutuação da taxa de câmbio. A economista do Banco ABN Amro, Zeina Latif, acha, no entanto, que o BC acabou por inserir alguma volatilidade nos mercados ao atuar com força no fim do ano passado. Apesar disso, ela acredita que os princípios gerais de atuação do BC estão mantidos. ?Uma coisa é o seu objetivo e outra é o que acaba acontecendo quando o BC efetivamente atua?, disse. Apesar de o BC insistir que não persegue uma meta para a taxa de câmbio, a economista do ABN avalia que a autoridade monetária procura hoje trabalhar com uma taxa de câmbio de equilíbrio em torno dos R$ 2,30. ?Pelo menos, foi essa a impressão que ficou?, disse. Ela também considera que o mercado trabalha atualmente com uma banda informal de câmbio entre R$ 2,20 e R$ 2,30. ?Qualquer coisa muito longe disso, o BC entra no mercado?, afirmou. Para Zeina Latif, o quadro se deve a uma conjuntura de forte fluxo de capitais externos na direção do Brasil. ?No médio e longo prazos, a taxa de câmbio voltará a ser formada mesmo é pelos fundamentos econômicos do País?, disse. Além das compras diretas de moeda estrangeira, outra maneira que o Banco Central utiliza para evitar a queda exagerada das cotações do dólar são os chamados contratos de swap reverso. Ao vender esses contratos, o Banco Central cria, na prática, o mesmo efeito proporcionado pela compra de dólares no mercado futuro. Por isso, é também uma forma de interferir no câmbio. O governo tem, porém, descartado outras propostas para ampliar o controle sobre a cotação do dólar.

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