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Podemos estar criando condições para próxima crise, diz Rajan

Para economista da Universidade de Chicago, o Fed deve começar a pensar em subir os juros nos Estados Unidos

Por Luciana Xavier e da Agência Estado
Atualização:

Se o Federal Reserve (Fed) mantiver os juros perto de 0% por muito tempo, ele pode criar condições para uma próxima crise, avalia o economista indiano Raghuram G. Rajan ou Raghu Rajan, como também é conhecido, professor de finanças da Universidade de Chicago. Em 2005, Rajan foi muito criticado pelo Fed e mesmo pelo ex-secretário do Tesouro Lawrence Summers ao alertar para os riscos de uma crise financeira, um ano antes de Nouriel Roubini, como ele mesmo reconhece em seu site, e quando o mundo ainda navegava em muita liquidez. Ele foi ainda economista-chefe do FMI e é autor do livro "Salvando o Capitalismo dos Capitalistas".

 

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"Creio que o Fed deve levar em consideração como fazer para retornar os juros para um nível mais normal. Ele deve fazer isso, levando em consideração que a atividade deverá ainda estar relativamente fraca quando ele decidir fazer isso. Então, de algum modo ele deverá convencer o mercado de que não será um grande obstáculo para o crescimento se os juros estiverem em patamares mais altos do que vemos agora", disse Rajan, em entrevista, por telefone, ao AE Broadcast Ao Vivo.

 

Segundo Rajan, a razão de o Fed estar mantendo os juros no menor patamar de sua história, de 0,00% a 0,25%, é a mesma que levou o banco central norte-americano a segurar os Fed Funds abaixo de 2%, entre final de 2001 e 2004, boa parte desse período em 1%: a ameaça de deflação.

 

"As consequências disso nas duas vezes também são semelhantes. Aumenta a procura por ativos de maior risco, porque os ativos de menos risco, especialmente os de curto prazo, não estão pagando muito. A real questão agora é a seguinte: os bancos e o sistema estão avessos ao risco o suficiente para que esse comportamento crescente de tomar maior risco diante dos juros baixos não seja problemático? E há cada vez mais vozes dizendo: Talvez não. Então precisamos nos preocupar em talvez estar criando condições para a próxima crise", avaliou.

 

Com exceção dos emergentes, que parecem já estar melhorando, Rajan acredita que não se pode dizer ainda que a recuperação global está em curso. "As pessoas estão mais otimistas, os negócios estão mais otimistas, mas isso de níveis muito baixos. Diria que ainda é um pouco cedo para dizer que há sinais firmes de recuperação nos países industriais", afirmou. "A boa notícia é que saíamos do abismo que estávamos no 4º trimestre de 2008 e no 1º trimestre deste ano", acrescentou.

 

Rajan disse que para os emergentes Brasil, China e Índia, especialmente os dois primeiros, a crise atual pode ser uma oportunidade. "Acho que esses países estarão em melhor posição (ao final desta crise) do que os países industriais por duas razões: primeiro porque seus sistemas financeiros estão menos comprometidos e segundo porque a dívida pública deles - com exceção da Índia, cuja dívida já é alta - será menor, por causa dos imensos gastos que os países industriais estão tendo que fazer.

 

Ele acredita que com o tempo, a demanda deve passar dos Estados Unidos para os emergentes. "Os EUA não podem ser o principal consumidor global para sempre. Nesse sentido, o Brasil e a China têm sido amplamente exportadores líquidos. Com o tempo, isso deve se equilibrar ainda mais. As moedas desses países irão se apreciar e eles fornecerão uma demanda maior ao mundo".

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