Publicidade

Primeira etapa de swap argentino fica abaixo do esperado

Houve aceitação de apenas 45% de credores, sendo que o governo espera mais de 55%

Por Marina Guimarães e da Agência Estado
Atualização:

O poder de convencimento do ministro de Economia da Argentina, Amado Boudou, não atendeu às expectativas do governo na primeira etapa do swap, destinado aos grandes credores dos títulos em default. Concluída na última sexta-feira, a primeira etapa registrou uma aceitação de apenas 45% desses credores - abaixo da estimativa de 55% da equipe econômica. O número é ainda inferior aos 60% que Boudou fixou como piso para que a proposta total seja considerada "um sucesso".

PUBLICIDADE

Os números do swap foram dados pelo ministro ontem à noite, em uma entrevista à imprensa. Segundo ele, apenas US$ 8,54 bilhões dos US$ 18,7 bilhões em títulos entraram na troca, que  incluiu bônus Discount com um corte do valor de face da ordem de 66% e bônus Par, sem descontos. Boudou classificou o resultado da etapa como "muito satisfatório", mas sua decepção, embora disfarçada entre sorrisos e gestos, era visível. Ainda mais porque os bancos organizadores do swap tinham indicado que os grandes investidores teriam garantido a troca de US$ 10 bilhões. Boudou demorou a reconhecer que o swap argentino foi afetado pela crise nos mercados internacionais provocada pelos temores sobre a situação financeira da Europa.

Nas últimas semanas, o ministro fincou o pé na operação que desenhou, dizendo que não mudaria os planos sobre sua execução. Contudo, ontem, Boudou fez uma espécie de mea culpa: "Em um período de alta volatilidade, todas as operações de dívida se freiam", justificou. Também lembrou que não esperava aceitação da oferta por parte dos fundos de investimentos, classificados pelo governo como "abutres" (especuladores), que representam cerca de US$ 3 bilhões em títulos da dívida soberana argentina. Esses credores tentam receber a dívida na Justiça. "Todos os outros fundos de investimento com bônus de mais de US$ 100 milhões entraram" na operação, disse ele.

O resultado da operação com os grandes investidores vai exigir da equipe econômica maior empenho na dura tarefa de convencer os pequenos credores, especialmente os italianos, os mais duros e os que possuem maior volume de títulos a serem trocados. Boudou repetiu que confia em que os pequenos investidores vão tomar todo o estoque de US$ 2 bilhões em bônus Par previstos na troca dos papéis que possuem sem pagamento desde dezembro de 2001.

Mesmo assim, dificilmente a operação chegaria a 60% estabelecido pelo ministro como "aceitável". Os bancos organizadores Citi, Barclays e Deutsche Bank tinham sinalizado que a operação poderia até ultrapassar esse valor. Os analistas de mercado também projetaram cifras superiores até a semana passada, mas, em questão de dias, o aumento da aversão ao risco mudou o panorama.

Para a proposta de troca dos títulos da dívida soberana argentina chegar a uma aceitação de 60% por parte dos credores, mais US$ 11 bilhões teriam de entrar na operação. Boudou se mostra otimista e diz que conseguirá atingir essa cifra com os pequenos credores. Na entrevista coletiva de ontem à noite, ele disse que, durante o road show, "houve uma boa recepção porque se incluiu na oferta o cupom ligado ao PIB".

O foco da equipe econômica está colocado nos investidores italianos, já que são os mais reticentes e possuem o maior volume de títulos. No entanto, os representantes das entidades formadas por esse investidores afirmam que poucos vão aceitar a oferta argentina. A Task Force Argentina (TFA) tem sido dura em suas críticas à oferta. A entidade representa cerca de 180.000 italianos que detêm títulos de dívida da Argentina, num total de US$ 4,4 bilhões.

Publicidade

A oferta, que implica uma perda calculada em torno de 40% do valor de face, foi classificada pelo presidente da TFA, Nicola Stock, como "pior do que a anterior", rejeitada em 2005, durante o governo de Nestor Kirchner (2003-2007). "Estamos recebendo muitos e-mails de pessoas dizendo que nunca vão aceitar essa oferta, mas é cedo para saber se isso será assim mesmo, porque temos tempo até o dia 7 de junho, quando expira o prazo da operação", ponderou o próprio Stock em entrevista a uma rádio de Buenos Aires.

 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.