Veja como ficam os investimentos com a Selic a 13,25%

Momento requer muito mais análises do que de tomada de decisões nos investimentos; no radar, está a inflação global persistente

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Por Érika Motoda
Atualização:
7 min de leitura

O cenário externo tem imposto cautela ao mercado financeiro. Por isso, o momento requer muito mais análises do que tomada de decisões de investimentos. No radar, está a inflação global persistente, que obriga os bancos centrais a elevarem suas taxas de juros. Como não poderia deixar de ser, em momentos de instabilidade, a renda fixa é o porto seguro dos investidores - especialmente em produtos pós-fixados atrelados à Selic ou ao CDI, porque acompanham o aumento da taxa básica de juros e ainda garantem liquidez. 

Nesta quarta-feira, 15, o Federal Reserve elevou os juros nos Estados Unidos para a faixa entre 1,5% e 1,75% ao ano. Os títulos públicos americanos são considerados os mais seguros, porque a probabilidade de a maior economia mundial dar um calote nos seus credores é considerada baixíssima. Quando há o aumento dos juros americanos, é comum ver o dinheiro migrar para lá. Mas analistas afirmam que há boas oportunidades no Brasil, que também subiu a taxa básica de 12,75% para 13,25% nesta quarta. 

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“Por mais que os Estados Unidos sejam mais seguros, não vejo o Brasil entrando em trajetória de calote da dívida. Assim, a renda fixa brasileira fica mais interessante, por conta das taxas que pagará adiante. O governo já paga 1% ao mês e vai pagar ainda mais a partir desta quarta”, disse Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset, também lembra que a expectativa de juros reais dos títulos públicos americanos para os próximos meses é negativa em 3,06%. 

Com Selic acima de dois dígitos, investimentos na renda fixa são os mais atraentes e seguros Foto: Amanda Perobelli/ Reuters

“Isso (a alta dos juros nos EUA) tem um efeito perverso na renda variável. Quanto mais alta a remuneração na renda fixa, menos atrativos ficam os ativos de risco. Mas vai chegar o momento em que o ciclo de subida dos juros vai parar, chegar ao equilíbrio e, então, abrem-se janelas para os ativos de risco”, disse Igor Cavaca, head de Gestão de Investimentos na Warren Asset. 

Na última sexta, 6, a Bolsa fechou acima dos 105 mil pontos. A partir desta semana, passou a cair com o nervosismo dos mercados diante do aumento da taxa de juros americana. Nesta quarta, fechou em alta de 0,73%, na casa dos 102 mil pontos.

“A Bolsa é pautada em grande maioria por fluxo: compradores e vendedores. A gente tem três grandes players na Bolsa brasileira: pessoa física, institucional, estrangeiro. No primeiro trimestre, contamos praticamente 100% com o fluxo estrangeiro para a Bolsa se manter nos 120 mil pontos. Quando esse fluxo saiu, a partir de abril, ficamos meio órfãos dos outros dois players, que estavam mais alocados em renda fixa”, analisou Jerson Zanlorenzi, responsável pela mesa de ações e derivativos do BTG Pactual. 

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As melhores oportunidades na renda variável estão nas empresas exportadoras de commodities e no setor bancário, segundo ele. As varejistas e de consumo cíclico, ou seja, que dependem do aquecimento da economia de modo geral, podem sair prejudicadas no atual cenário. 

No acumulado de 12 meses até o fim de maio, nenhum dos principais investimentos tiveram um retorno acima da inflação, segundo o levantamento da Economatica, uma plataforma de informações financeiras. Foram considerados fundos multimercado (-3,21%), CDI (-3,40%), poupança (-5,71%), títulos públicos indexados ao IPCA (-6,39%), fundos imobiliários (-10,37%), dólar (-19,11%), Ibovespa (-21,04%), BDR (certificados que representam ações estrangeiras, mas negociados na Bolsa: -22,17%), euro (-29,02%) e Bitcoin (-29,77%). 

No acumulado do ano até maio, somente fundos imobiliários (+ 3,79%) e Ibovespa (+ 1,38%) tiveram desempenho real positivo. 

Inflação

Se nada mais der errado, é possível que a pior fase da inflação já tenha passado no País. Mas especialistas não são unânimes em afirmar que a partir de agora a tendência é de baixa. Isso porque a inflação global depende dos desdobramentos da guerra na Ucrânia e da capacidade da China de vencer a covid-19. Na terça, por exemplo, o mercado projetava o barril de petróleo a US$ 130. Esse movimento de alta pode pressionar ainda mais os preços no mercado brasileiro.

“As commodities vão continuar fortes, mas em menor intensidade. O petróleo tem tudo para se manter firme nesses US$ 120, mas não quer dizer que ele vá para US$ 180 no final do ano. Com o salto que a gente viu recentemente de quase 50% de alta no petróleo, não imaginamos uma alta da mesma magnitude até o final do ano. Ele vai continuar elevado, o que, sem dúvida, gera inflação na gasolina e na matriz energética”, disse Zanlorenzi, do BTG. 

“Por outro lado, o minério de ferro está mais comportado, o que prejudica um pouco o Brasil. Se estivesse em patamares elevados como em 2020, poderia favorecer as mineradoras. Mas como o petróleo tem uma relação gigantesca com a Rússia, e o minério é em relação à China, e a percepção da China é de cautela, acaba equilibrando essa pressão inflacionária entre o petróleo e o minério.” 

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Há ainda a proposta de Jair Bolsonaro de zerar impostos federais sobre gasolina e etanol pode reduzir a inflação de 2022, lembrou o superintendente da Assessoria Econômica da Associação Brasileira de Bancos, Everton Pinheiro de Souza Gonçalves. Mas o IPCA do ano que vem pode ser pressionado pelo fim do corte de impostos, que teria duração até 31 de dezembro. 

Considerando uma inflação de 8,89%, como consta do último Boletim Focus parcial divulgado pelo Banco Central, alguns produtos financeiros como Letra de Crédito do Agronegócio (LCA), Letra de Crédito Imobiliário (LCI), Certificado de Depósito Bancário (CDB), título público e alguns fundos podem trazer uma rentabilidade real positiva, ainda que o valor seja baixo, segundo os cálculos do professor de Finanças da FGV-SP Fabio Gallo. 

Veja como se comportam os investimentos no atual cenário

Igor Cavaca, da Warren, lembra que quem quer segurança e liquidez deve optar por pós-fixados atrelados à Selic ou ao CDI. Já quem tem a possibilidade de ficar preso no mesmo investimento por mais tempo pode optar pelos títulos atrelados à inflação, que premiam mais aqueles que carregam os papéis até o fim do prazo. Os prefixados podem performar bem se houver queda dos juros, mas ainda não se sabe quando o BC vai reduzir a Selic. 

  • Poupança. A rentabilidade da poupança tem um teto. Segundo a regra do BC, quando a Selic está abaixo de 8,5% ao ano o rendimento da poupança é de 70% da Selic mais a taxa referencial (TR), que está zerada. Quando a taxa básica de juros é superior a 8,5% ao ano, o rendimento da poupança passa a ser de 0,5% ao mês mais a TR. Ou seja, mesmo com o atual aumento da Selic, a poupança já atingiu o seu teto e não vai render muito mais do que antes. 
  • CDB. É possível encontrar CDBs indexados a taxas flutuantes, como o CDI, que segue o movimento da Selic. É um momento interessante para o investidor pessoa física, já que possui seguro FGC. A remuneração encontrada atualmente é menor que em anos anteriores, por causa do aumento da CDI, mas ainda é possível encontrar remunerações acima de 100%, além da liquidez diária. 
  • Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) e do Agronegócio (CRA). Esses ativos têm risco de crédito adicional, porque são atrelados ao tipo de ativo em que eles investem e do emissor. O único lastro são os bens, não têm um banco por trás. Pagam um pouco mais que CDB e possuem isenção de IR para investidor de varejo.
  • Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (Fidc). É um fundo bastante parecido com a dinâmica dos CRIs e CRAs. Oferecem mais risco ao investidor, mas também por isso pagam remunerações mais elevadas. Esses fundos trabalham com emissores menores, mais suscetíveis a choques, e isso pode dar default (calote). Não é garantido pelo FGC.
  • LCI e LCA. Entram no mesmo caso do CDB, mas têm isenção de Imposto de Renda para pessoa física e, por isso, pagam uma taxa menor do CDI. Têm cobertura FGC e são emitidos por bancos para financiar obras no setor imobiliário e de agronegócio. 
  • Fundos DI. Composto por títulos públicos indexados pelo CDI e possuem baixo risco, pois investem em títulos do governo. 
  • Fundos imobiliários. Os fundos de tijolo (que investem em imóveis) acabaram caindo e não se recuperando na mesma velocidade. São mais cíclicos (quando a economia vai bem, eles vão bem) porque eles são afetados pela taxa de vacância, não pagamento de aluguéis e afins. Já os fundos de papel compram CRIs e estão mais pulverizados, porque cada fundo vai se diversificar em um monte de CRIs, mas ainda segue com risco de emissor. Eles são corrigidos por indicadores, em geral IPCA ou IGP-M + taxa de juros. Se você tiver inflação alta e IGP-M altos, em geral, você consegue corrigir o seu recurso e ter um retorno real em uma taxa um pouco mais alta. 
  • Fundos multimercado. Esses fundos performaram muito bem no início deste ano por causa da expectativa da política monetária. São os mais arriscados, mas também podem trazer mais retornos. O investidor precisa ter perfil moderado ou arrojado para acessar esses ativos. 

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