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Tesouro vende lote recorde de títulos prefixados de dez anos

Disputa pelos papéis foi forte, principalmente por parte de investidores estrangeiros

Por Lucinda Pinto e da Agência Estado
Atualização:

O Tesouro Nacional surpreendeu o mercado nesta quinta-feira e vendeu no leilão tradicional um mega lote de Notas do Tesouro Nacional série F (NTN-F) com prazo de dez anos, papéis que estrearam na semana passada. Foram 1,5 milhão de títulos com vencimento em 2021, o maior volume já ofertado para um papel prefixado de prazo tão longo. Também foi vendido um lote atípico, de 1 milhão de NTN-F com vencimento em 2014.

 

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Em dias de mercado muito favorável, o comum é ver o Tesouro ofertando lotes de até 500 mil NTN-F. Mais do que isso, as taxas pagas ficaram ligeiramente abaixo do consenso de mercado, o que indica que a disputa pelos papéis foi quente. 

Esse leilão vem confirmar a percepção já apontada por analistas de que há um forte apetite de investidores, principalmente estrangeiros, por papéis do governo brasileiro, apesar da turbulência internacional que abalou os mercados nas últimas semanas. Para o Tesouro, esse interesse pelos papéis é oportuno, pois deve permitir antecipação da rolagem da dívida mobiliária já no primeiro semestre, antes do período de eventuais pressões advindas da disputa presidencial deste ano. 

O que chamou a atenção na operação é que foi feita a partir da identificação de uma grande demanda por esses títulos. O Tesouro, antes de definir as características da oferta tradicional, realizada às quintas-feiras, faz uma consulta ao mercado para apurar a demanda pelos diferentes papéis. Assim, ao oferecer 1,5 milhão de títulos, é possível afirmar que houve uma sinalização por parte de grandes players interessados no papel. E, na opinião de operadores, tudo indica que são investidores estrangeiros.

 

"É um papel que tem a cara do estrangeiro: é longo, prefixado e tem pagamento de cupom semestral", afirma um profissional do mercado. 

Mas, na oferta de hoje, também a reação do mercado também denunciou o apetite pelos títulos. As NTN-F 2021 foram vendidas à taxa média de 13,2371%, com um prêmio (diferencial em relação à taxa do contrato de DI de prazo equivalente) de 8,7 pontos. O consenso de mercado era de que os papéis seriam vendidos com prêmio de 12 pontos.

 

Para se ter uma ideia, na semana passada, a mesma NTN-F foi vendida com prêmio de 25 pontos. Para fins de marcação a mercado, o chamado preço justo do papel foi calculado em dez pontos. "Ou seja, quem comprou no primeiro leilão já está com um belo ganho", afirma o gestor de recursos de renda fixa dos fundos da Gradual, Renato Pascon. 

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Para o trader do Banco Modal, Luiz Eduardo Portella, esse grande interesse por NTN-F pode ser atribuído ao "efeito Pimco". Na semana passada, a gestora de fundos de bônus Pacific Investment Management Co. (Pimco) afirmou que os títulos de dívida soberana do Brasil estão entre os mais atraentes do mundo e, na opinião de Portella, essa declaração pode ter acelerado a demanda por títulos da dívida do Tesouro. "É uma demanda consistente, baseada nas boas condições da economia brasileira", afirma.

 

Na mesma direção, está o economista da CM Capital Market Luciano Rostagno. "O Brasil está em um momento positivo e a aversão ao risco global parece ter dado uma trégua", afirma. "Mas é cedo para prever que os volumes ofertados continuarão tão elevados", observa. 

Para Pascon, da Gradual, o Tesouro deverá passar a fazer leilões maiores nas próximas semanas, aproveitando o momento favorável de demanda. E, com isso, conseguirá adiantar o cumprimento das metas do Plano Anual de Financiamento (PAF) do ano, que estabelece objetivos de prazo e composição da dívida. "O Tesouro claramente está focando o aumento de volume em títulos mais longos, o que permitirá a melhora do perfil da dívida", afirma. Para Portella, do Modal, ao aproveitar a janela de oportunidade atual, o Tesouro se antecipa a eventuais turbulências que podem vir no segundo semestre, por causa do período eleitoral, que podem dificultar o trabalho de rolar a dívida.

 

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