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Acúmulo de dívidas pode inibir consumo no Natal

Porcentual de consumidores com dívidas a pagar em setembro é o maior para o mês em 3 anos

Por Alessandra Saraiva e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

Com orçamento apertado, o consumidor será mais cauteloso em suas compras. Levantamento da Fecomércio-RJ, divulgado com exclusividade para a Agência Estado, mostrou que em um universo de mil entrevistados em nove regiões metropolitanas 43,8% informaram deter algum tipo de financiamento em setembro, o maior porcentual para o mês em três anos. O cenário reflete "o consumo acumulado" das famílias que parcelaram suas compras. Este cenário pode inibir novas compras e esfriar as intenções de consumo para o Natal. Isso pode ser percebido também em outro tópico do levantamento. Quando questionados se haveria sobra de dinheiro após pagamento das despesas, 52,4% dos entrevistados responderam negativamente. "Foi o maior porcentual para essa resposta, para um mês de setembro, desde 2007", disse o economista da Fecomércio-RJ, Paulo Padilha. Na prática, o orçamento das famílias se encontra comprometido com dívidas antigas. Questionados em setembro sobre a finalidade dos parcelamentos, 63% dos endividados justificaram compras de roupas, carros e eletrodomésticos. "Esses dois últimos itens contam com prazos longos de financiamento", lembrou Padilha. O interesse maior em utilizar o cartão de crédito também é nítido. Embora o carnê ainda seja o favorito (50,4% dos endividados) entre os devedores em setembro, 34,7% citaram o cartão como modalidade de financiamento - e o porcentual para esse segmento era de 28,9% em setembro do ano passado e de 23,9% em setembro de 2009. O endividamento das famílias este ano teve profundo reflexo na inadimplência. Segundo o gerente de indicadores de mercado da consultoria Serasa Experian, Luiz Rabi, a maior frequência de tomada de crédito este ano influenciou aumentos mensais sucessivos nos níveis de inadimplência. Até setembro, o indicador de inadimplência acumulada no ano calculado pela consultoria cresceu 23,3%, bem diferente de 2010, quando encerrou o ano com elevação de 6,3%. Com a redução da oferta de crédito, a inflação menos pressionada nestes últimos meses do ano em relação ao ano anterior; e o pagamento de 13.º salário a partir de novembro, o ritmo de crescimento na inadimplência pode diminuir, e encerrar 2011 em torno de 20%, segundo Rabi. "É uma taxa de crescimento elevada para inadimplência, que normalmente oscila entre 6% a 7% ao ano", afirmou. Para o economista-chefe da CNC e ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas, o consumidor sofre os efeitos dos aumentos sucessivos da taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central no início do ano. Há uma defasagem entre as decisões do Comitê de Política Monetária (Copom) e seus efeitos na economia real de, pelo menos, oito meses. "Os juros para financiamento hoje estão mais elevados, o que deixa o consumidor que já tem dívidas com pouco fôlego no orçamento", afirmou. Este cenário terá impacto no desempenho do comércio varejista deste ano. "No início de 2011, estimávamos aumento entre 7% e 8% nas vendas do varejo. Hoje, projetamos 6%. É bom, mas não tanto quanto 2010", disse Freitas. No ano passado, as vendas do comércio varejista calculadas pelo IBGE tiveram alta recorde de 10,9%.

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