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Advent compra 25% da Tigre por R$ 1,35 bilhão, de olho em marco legal do saneamento

Empresa líder em tubos e conexões no mercado brasileiro usará todo o dinheiro para a expansão dos negócios, seja por aquisições ou construção de novas fábricas

Por Andre Jankavski
Atualização:

De olho no crescimento da fabricante de tubos e conexões Tigre no mercado norte-americano e também na alta do consumo desses materiais na esteira da implementação do marco legal do saneamento, o fundo Advent decidiu comprar 25% da fabricante. O valor definido para a aquisição da participação foi de R$ 1,35 bilhão, montante que irá integralmente para os planos de expansão da Tigre nos próximos anos. 

Segundo Felipe Hansen, presidente do conselho de administração do Grupo Tigre e integrante da terceira geração da família que fundou a companhia, a busca por um sócio para a companhia aconteceu para acelerar o crescimento da operação diante das oportunidades que se desenham no mercado.“Não é uma discussão nova dentro da companhia e é um caminho estratégico que sempre foi considerado. Vimos agora como um momento oportuno”, diz Hansen.

Otto von Sothen, presidente da Tigre, vai continuar no comando da operação mesmo com a entrada do Advent Foto: Divulgação/Tigre

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O “namoro” com o fundo de private equity – que compra participações em empresas – durou seis meses até que o casamento fosse consolidado nesta sexta-feira. Porém, segundo Patrice Etlin, sócio do Advent, a Tigre fazia parte de um seleto grupo de empresas que o fundo considerava há tempos no topo de suas prioridades. 

O contato entre o fundo e a fabricante se intensificou na última década, já que a Tigre é uma das principais fornecedoras de materiais para a Lojas Quero-Quero, rede de materiais de construção que tinha o Advent como principal acionista entre 2010 e 2020. 

“Eles estavam procurando um parceiro para acelerar o crescimento com as oportunidades de crescimento. Com isso, o nosso relacionamento se estreitou e agora estamos concluindo a parceria”, afirma Etlin, que ocupará uma das duas cadeiras que o Advent terá direito no conselho de administração. O negócio foi intermediado pela Estáter pelo lado da Tigre, enquanto a Advent não teve assessor. 

De olho nos EUA

Em um prazo mais curto, o crescimento nos Estados Unidos se tornará um dos principais focos da Tigre. No ano passado, a empresa fez a aquisição da Dura Plastic Products, que é uma fabricante e distribuidora de conexões de PVC na Califórnia. Com R$ 1,35 bilhão em caixa, o presidente da companhia, Otto von Sothen, já está indo atrás de oportunidades de crescimento orgânico quanto de novas aquisições no mercado americano. 

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As oportunidades nos EUA se concentram tanto no fato de a maioria das empresas do setor ainda ser origem familiar e sem uma marca forte e consolidada. Além disso, von Sothen acompanha o pacote de infraestrutura anunciado pelo presidente Joe Biden, que deve movimentar entre US$ 60 bilhões e US$ 70 bilhões somente no segmento em que a Tigre atua.

Além disso, no mercado brasileiro, existe a expectativa das compras para as obras do marco legal do saneamento. Segundo o presidente da Tigre, a área de tubos e conexões deve ficar com cerca de 15% dos mais de R$ 600 bilhões em investimentos previstos pelo governo federal até 2033. Por aqui, contudo, o crescimento será feito de maneira orgânica, com possíveis construções de novas plantas, dada a alta participação de mercado que a companhia possui no País. 

“Outra área que atuamos há algum tempo e enxergo com grande potencial é na área de irrigação, que é associado ao agronegócio e um negócio de exportação, o que diminui o impacto caso a economia não vá bem”, diz von Sothen.

Com o bom momento que o setor de construção civil, especialmente na área de prédios residenciais, a Tigre apresenta um crescimento robusto em 2021. No terceiro trimestre, último dado divulgado, a empresa teve alta de 51% nas vendas em relação ao mesmo período de 2020, a R$ 1,5 bilhão. Apesar disso, o lucro da empresa teve queda de 37% entre julho e setembro, a R$ 229 milhões. 

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Novos sócios

Até o aporte da Advent, que será o primeiro fundo de private equity a ter uma fatia da fabricante de tubos e conexões em seus 80 anos de história, a família Hansen era dona de 100% do negócio da Tigre. Antes do fundo, no entanto, o banco Bradesco e o fundo de previdência Previ (dos funcionários do Banco do Brasil) chegaram a fazer parte do quadro societário da companhia.

Isso acabou em 2003, quando a família fundadora decidiu recomprar as ações dos antigos sócios. Segundo Hansen, porém, os fundadores não querem perder o controle da empresa nem com a entrada no Advent nem em um eventual IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). Em outubro, a Tigre obteve o registro de companhia de capital aberto na categoria B, o que permitiu a empresa emitir debêntures no valor de R$ 600 milhões. 

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“Ser majoritário é uma prerrogativa da família e não temos nenhuma intenção de sair do negócio. Ao mesmo tempo, é muito prematuro falar em um IPO”, afirma o presidente do conselho. 

O dinheiro para a aquisição da fatia da Tigre veio do último fundo levantado pelo Advent em 2020, quando captou mais de US$ 2 bilhões. Segundo Etlin, até agora, o Advent gastou cerca de 30% do valor recebido. “A média de duração dos nossos fundos está entre quatro e cinco anos”, diz o executivo.

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